Tio Vini é meu pai ?

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Isla

— qual laço meu amor ? — pergunto pra Anne que aponta pra um laço vermelho e branco.

Ajeito o laço em seu cabelo que está preso em um rabo de cavalo na diagonal, como sempre ela escolhe o vermelho por ser sua cor preferida.

Depois de uma semana eu e Vinicius conversamos com calma e decidimos contar pra ela que ele é seu pai. Ele está tão ansioso que a cada trinta minutos me liga pra saber se vamos mesmo nos encontrar.

Ouço o toque do meu celular sobre a pequena penteadeira da Anne e reviro os olhos já sabendo que é ele, pela quinta vez nas últimas duas horas.

— Vinícius, eu já disse que nos encontramos aí às 13:00 — ele suspira através da ligação.

— eu sei, só tô nervoso — abro um pequeno sorriso ouvindo sua voz.

— calma, vai dar tudo certo...posso deixar ela com você depois do almoço pra conversarem e...

— não — disse me interrompendo — prefiro que fique, ela pode estranhar minha presença — mal sabe ele que ouço ela falar do tio Vini já tem dias.

— certo, como quiser — ele confirma — vou desligar.

Nos despedimos e percebo que ela me olha atenta esperando eu dizer quem é, curiosa igual ele.

— mamãe, sabia que eu pedi pro tio Vini ser meu papai ? — olhei pra ela surpresa firmando meu olhar na sua direção.

— que ?

— sim, mamãe e ele disse que sempre quis um neném como eu — sinto minha garganta travar e meus olhos arderem levemente.

— hoje vai ser um dia muito especial, Anne — ela sorri em resposta e olha pra frente passando as mãos pelo vestido.

— especial mamãe ? — eu assenti — o que é especial ?

— acho que um é algo que tu não vai esquecer nunca, vai ficar aqui na sua memória — dei um toque leve na sua cabeça.

......

Travei o carro depois de descer a pequena da cadeirinha no banco de trás e ele já estava no portão. Anne correu até ele e o abraçou e usando ele abaixou.

— tio Vini, olha meu laço que lindo — ele sorriu pra ela e passou os pelo seu vestido — vermelho é minha cor preferida.

Ele desviou o olhar pra mim e sorriu.

— pois é — assenti sabendo o que ele provavelmente tava pensando, que essa também era sua cor preferida.

Ele se aproximou de mim e deu um beijo na minha testa.

— tá linda, tropical — sorriem resposta já ficando vermelha. Elogios me deixavam com vergonha.

— iiih cara, tá com vergonha de quê ?

— nada, tu sabe...— me cortou completamente a frase.

— tu fica com vergonha quando recebe elogio — disse debochado.

Esse homem me conhecia melhor do que eu mesma, isso eu nunca poderia e nem queria negar. Apenas assenti.

Nós entramos na casa dele e ele aparentemente havia preparado um almoço daqueles. Uma das qualidades do Vinicius era cozinhar como ninguém, o que era ótimo porque eu sempre fui uma negação na cozinha.

— só o cheiro já me atiçou mais a fome.

— tô sabendo, tu se amarra no meu tempero — convencido toda vida.

— nossa, tio Vini tudo isso é pra gente ? — ele assentiu e passou a mão pelo cabelo dela.

A mesa estava farta, arroz soltinho, carne de panela, salada com alface, pepino, palmito, cebola e mais um monte de coisa que ele gostava e eu também.

A gente sentou e comeu numa paz maravilhosa, ele sentou e colocou a Anne ao seu lado deixando ela entre nós dois.

— huuuuum, tá delícia né mamãe — a Anne disse depois de mais uma colherada.

Ela já comia sozinha, fazia uma baguncinha mas eu deixa pra ela criar mais autonomia nas atividades básicas dela.

— tá muito bom mesmo, meu amor — olhei pra ele que tava todo bobo olhando pra ela.

Depois da sobremesa a gente foi pro sofá e chamamos ela que já tava brincando com várias coisas que ele comprou pra ela. Era Barbie, Polly, peça mobile, quase uma brinquedoteca na sala.

— filha, a gente quer conversar uma coisa muito importante com você — ela me olhou curiosa.

— o que, mamãe ?

— lembra que a mamãe falou pra você que o papai trabalhava muito ?

— viagem né, mamãe ? — ela revirou os olhinhos e ele abaixou a cabeça respirando fundo.

— isso, meu amor...mas agora é diferente o papai trabalha aqui.

— aqui na casa do tio Vini ? — sorri com a ingenuidade dela.

— mais ou menos, o papai trabalha pertinho da gente agora e você vai poder ver ele todo dia — ela sorriu animada e começou a se animar.

— onde mamãe, cadê meu papai ? — ela falou e começou a pular toda agitada.

— Anne — ela olhou pro Vinicius com expectativa — lembra quando o eu falei pra tu que queria um neném igual a você ?

— lembro sim.

— então...— ele brincava com os dedos das mãos e passou a mão ajeitando as sobrancelhas. Vinicius fazia isso quando tava nervoso.

— filha, o tio Vini não é seu tio, é seu papai — ela olhava pra mim agora sem reação.

Vi ele abaixar a cabeça e continuar nervoso enquanto mexia os dedos. Ela se aproximou dele com cuidado e levantou sua cabeça.

— é mesmo ? — ele assentiu.

Sem que nós dois esperássemos ela abraçou ele apertado. Eu tava em choque, acho que ele também afinal nós esperávamos essa reação da parte dela.

— eu tô feliz, mamãe o tio Vini é meu papai — meus olhos lagrimejaram instantaneamente e senti elas escorrerem pelo meu rosto.

Ele retribuiu o abraço apertando ela com vontade, como se todos esses anos fizessem sentido pra ele.

Mentira Letal [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora