Fagundes
— faz a cobrança de sempre, já avisei que não quero assalto na comunidade — olho pro moleque que deve ter uns dezesseis anos, a cara de choro enquanto implora pra mão não ser arrancada.
— desculpa aí, chefe — ele fala entre os soluços — não vai voltar a acontecer — as lágrimas molham seu rosto em meio ao choro.
— não vai mesmo, agora tu só vai ter uma mão e se voltar a acontecer vai ficar sem a outra, não te quero roubando mais — ele concorda e tenta segurar o choro.
Braza se aproxima com o machado, ele olha pro moleque e nega com a cabeça.
— estende a mão — ele engole o choro de vez e põe a mão sobre a mesa como o Braza pediu.
Em segundos seu grito ecoa pelo pequeno cômodo das cobranças, apenas o punho sem a mão, o sangue jorrando em cima da mesa e a mão cortada com pequenas vibrações.
Braza solta o machado no chão e caminha até a porta.
— mete o pé, se aparecer aqui de novo tu já tá ligado no proceder.
Ele não consegue levantar, a dor deve ser tamanha que perde até as forças. Os outros que estavam dentro do cômodo pegam ele pelo braço e colocam do lado de fora.
— vai tomar no cu — Braza fecha a porta com força assim que sai e Monteiro olha pra mim.
— ele não tá legal, tá lembrando muito do passado — ele caminha até a porta também e abre pra gente passar.
— ele entrou pro crime, Monteiro, favela tem cobrança toda hora, tamo lidando com gente safada que caiu no erro da lei.
— ele só tinha quinze anos quando perdeu o irmão, Fagundes. Todo mundo perde alguma coisa quando entra pra essa vida e ele também perdeu.
Olho pra frente e vejo o Braza recolhendo o apoio da moto e logo em seguida ele da partida.
Hoje o clima não tava como todos os dias, aquele sol queimando a pele, tava mais fechadão e nublado pra caralho.
— Júlia tá estranha, tá escondendo alguma coisa.
— chifre não é, tu pode ficar sossegado.
— não é, mas ainda é alguma coisa. Esses dias eu cheguei na goma e ela toda de segredinho no celular.
— chega nela com calma e conversa, se tu for no achismo vai criar um caô do caralho.
— já passou por um bagulho desse ? — estreito meus olhos na sua direção e franzo as sobrancelhas — com a tropical ? — respiro fundo sentindo meu coração batendo mais forte só em ouvir o apelido — foi mal, exclusividade tua.
— não fala mais nela — ele concorda e abre um pequeno sorriso — vou encontrar ela, Monteiro, vou trazer minha mulher de volta.
— fecha o olho — reviro os olhos ouvindo sua voz que vem do banheiro, já tem vinte minutos que ela tá lá dentro.
— não.
— amor, por favor, sua tropical tá pedindo — abro um sorriso ouvindo a pronúncia sair dos seus lábios e fecho os olhos.
— pronto, minha tropical — ouço o barulho da porta e o som dos seus passos pelo quarto.
— pode abrir — meus olhos vagam por seu corpo em uma lingerie vermelha que eu escolhi alguns dias atrás pra ela.
— caralho, essa mulher toda é minha ? — pergunto parecendo um otario e ela confirma sorrindo — vem cá — bato com a palma da mão na minha coxa e ela se aproxima sentando no meu colo, de frente pra mim.
— toda tua, pronta pra você — ela rebola sentindo meu volume e arfa baixinho com o nariz no meu pescoço.
Chupo o bico rígido do seu peito que está expostos mesmo com a lingerie no corpo, ela é surreal de tão gostosa, minha tropical.
— qual foi, porra ? Não tá ouvindo ? — desperto das lembranças de nós dois ouvindo a voz dele, Monteiro olha pra mim bolado — tô falando contigo, meu tesão, tu anda muito distraído.
Um tempinho perto dele e minha paciência já quer ir pra casa do caralho. Na rua apenas minha contenção e alguns dos da boca, Braza para a moto no mesmo lugar e vem na minha direção.
— descobri um bagulho — encaro seu rosto sério por baixo do boné e ele continua — ela tem uma loja, sociedade com a Helena.
— qual o nome, endereço e essas paradas ?
— fica na pista, loja de semijoias, beleza tropical — as palavras me fazem despertar, um negócio próprio, esse era o sonho dela.
— tranquilo, tá liberado, teu turno hoje é junto com o Monteiro — ele concorda em silêncio e volta pra perto da moto.
......
Paro meu carro na esquina próxima da loja, uma faixada em vermelho, igual a fruta favorita dela. A porta de vidro permite a visão do lado de dentro, observo duas mulheres uniformizadas organizando as peças e logo ela aparece, sinto meu sangue correndo pelas veias com um sentimento fudido de saudade no peito.
Assim como a quase três anos atrás ela continua linda, seu corpo moldado em um conjunto de academia na cor laranja, tão gostosa quanto antes.
Aproximo meu carro, mas não tão perto do carro que julgo ser o seu, ela conversa com as funcionárias que estão ali e sorri se despedindo delas. O sorriso que me enche de nostalgia e momentos.
Ela sai de dentro da loja e olha na direção do meu carro, eu a vejo, mas ela não me vê pelo carro ser filmado. Desço do carro sentindo um arrepio pelo corpo quando seus olhos encontram os meus. Antes que ela abra a porta do carro eu me aproximo do seu corpo.
Um vento gostoso bate em nossos corpos e sinto seu cheiro, seu perfume doce e ao mesmo tempo marcante. Sei que ela sentiu o meu também porque seu suspiro é profundo.
— Vinicius ? — seus olhos me encaram com surpresa e nervosismo, ela não parece acreditar que estou bem ali.
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Mentira Letal [M]
Fiksi UmumIsla e Fagundes são de mundos completamente diferentes, mas que por uma fração de segundos se atraíram e dessa atração um amor avassalador e intenso nasceu, esse mesmo amor trouxe para Isla uma decepção. Uma mentira letal transformou o rumo de suas...