Desci as escadas e meus sogros estavam de regresso.
- Ju! Estamos a pensar regressar esta tarde à xácara. Tu e Rodolffo têm muito que fazer estes dias, podias deixar a Matilde ir connosco.
- Tu queres ir com a vó Inês, Matilde?
- Sim. Vovó disse que tem muitos animais e cavalos. Eu quero.
- Está bem. Mas peça também ao Rodolffo. Ele está lá no quarto. Eu vou sair, tenho uns assuntos para resolver. A mala da Matilde ainda está feita. Veja com o Rodolffo.
- Dá Tchau pra mamãe. Abracei e beijei a minha menina e despedi-me dos meus sogros.
- No final de semana a Alice e a Lia também vão. Vocês podiam ir junto.
- Se der nós vamos, já sabendo que não ia dar.
Pedi um carro no aplicativo e fui para o apartamento. Precisava esfriar a cabeça e refletir sobre tudo. Ainda bem que a minha filha ia com a avó. Não quero ela no meio desta confusão.
Estava no meu quarto tentando assimilar o que se tinha passado quando a minha mãe pediu licença para entrar.
- Filho! Vamos embora hoje e queremos levar a minha neta. A Ju deixou e disse para te pedir permissão também.
- Está tudo bem, filho?
- Não está mãe, mas espero que fique.
- Aproveitem que vão ficar sós e resolvam. Desta vez não deixo a minha nora e a minha neta partir. Faz o que tiver que ser feito e deixem de ser 2 turrões.
- Ajuda-me a separar uma roupa da menina.- Está bem, mãe.
No final do dia elas partiram. A Lia ficou muito triste por não ter a prima mas logo se conformou por ir ter com ela sexta à tarde.
Conversei com a Alice e desta vez ela apenas disse:
- Os dois estão errados. E saiu do meu quarto sem mais conversa.
Esperei o regresso da Ju mas ela não voltou. Mandei-lhe uma mensagem.
- Pelo menos diz que estás bem e em segurança.
A resposta veio.
- Não te preocupes. Já sou grandinha.
Passei a noite no apartamento. Dormi sobre a cama pois não havia lençóis nem coberta. Felizmente havia àgua e electricidade.
Pela manhã decidi ir fazer compras básicas. Lençóis, toalhas, pratos, talheres, um conjunto de panelas e o básico para poder sobreviver ali. Mandei que entrassem tudo ao final do dia.
Passei no escritório pois na próxima segunda feira ia iniciar a actividade.
Não conhecia ninguém, apenas Rodolffo e agora zangados estava apreensiva.
Os escritórios de arquitectura estão situados no último andar e os de engenharia no antepenúltimo andar do prédio.
Subi ao meu andar, apresentei-me e logo veio um colega. O dr. Gustavo.
Alto, moreno, barba perfeita, óculos e um porte muito elegante.
- Bem-vinda dra. Juliette. O meu nome é Gustavo. Seremos colegas espero que por muito tempo.
Fez-me uma visita guiada às instalações, mostrou-me o meu espaço de trabalho e ficámos algum tempo conversando sobre trivialidades. Era curioso sobre Portugal mas já era tarde, precisava voltar para recepcionar as coisas que comprei.
À porta do apartamento estava um Rodolffo cabisbaixo.
- Estás aí há muito tempo? Podias ter mandado mensagem. Vai que eu não voltasse aqui.
- Posso entrar? Disse quando ela abriu a porta.
- Á vontade.
- Logo chegaram as compras que eu havia feito e ele olhava tudo sem dizer palavra.
- Já vi que não precisas de mim. Era para termos feito juntos.
- Precisava sim, mas de quem me apoie, não de quem me faça sentir um nada.
- Nestes 5 anos habituei-me a cuidar de mim e assim vou continuar. Preciso de alguém que caminhe a meu lado e não de alguém que me faça sentir lixo.
- Foi isso que eu fiz? Eu não sou essa pessoa.
- Não tens noção, mas, às vezes comportas-te como tal.
- Não que eu seja perfeita. Também erro muito.
- Então errámos os dois! Disse ele.
- E agora como ficamos?
- Eu aqui no "meu", - fiz o gesto de aspas com a mão -, apartamento que tu detestas e tu lá na tua casa.
- Não há outra solução? Para ti é assim tão simples?
- Simples não é, mas por agora é o que temos.
- Há dois dias estávamos tão felizes. O que é que mudou?
- Diz-me tu! O teu ciúme, a tua incompreensão, o teu egoísmo veio ao de cima.
- A Matilde foi com a tua mãe?
- Sim. Ia muito contente. Ainda bem que foi para não assistir a isto.
- Ela vem viver comigo mas podes vir vê-la e buscar quando quiseres. E levar lá para casa também. Em ralação a ela quero que estejas à vontade. A menina não tem culpa dos problemas dos pais.
- Então, nós não tem volta? É isso?
- O tempo vai ser um bom conselheiro. Nada é definitivo. Nós amamo-nos disso não tenho dúvidas mas neste momento o estar junto é doloroso para os dois.
- Separados é bem pior, disse tentando abraça-la, mas ela fugiu do abraço.
- Segunda feira vamos começar a trabalhar. Vais ser difícil os dois no mesmo espaço.
- Em andares diferentes. É bem capaz de nem nos cruzarmos se não quisermos.
- Olha! Lá em casa tem 2 carros. Usa um para ser mais fácil a deslocação.
Não tens necessidade de andar sempre em carro de aplicativo.
O carro está parado.- Está bem. Amanhã vou buscar as minhas coisas e trago o carro.
- Já vais trazer tudo? Não tem pressa.
- Tem coisas que quanto mais depressa fizer melhor para todos.
Fiquei ali vendo ela arrumar tudo. Não consegui dizer mais nada. Estava tudo fugindo do meu controle e eu não sabia como dar volta à situação.
Regredi 5 anos. Voltei áquele Rodolffo sem eira nem beira, mas desta vez estava determinado a fazer diferente.Ia dar-lhe o tempo que ela precisasse mas estaria sempre presente. Jamais perderia a minha família.
- Vem ficar comigo hoje?
- Não. Vou dormir aqui. Se quiseres podes ficar.
Não consegui. Este apartamento provoca-me ânsias. Ainda mais dormir numa cama escolhida por outro.
- Tenho que ir. Sem que ela esperasse dei-lhe um abraço. Ela não fugiu. Segurei-lhe no rosto e beijei-a.
- Até amanhã, disse ela.
- Fechei a porta e desatei num choro. Porque é que ele é assim? Queria tanto que ele ficasse.
Hoje telefonei ao Diogo. Em conversa contei sobre esta questão dos móveis. Ele pôs-me à vontade para trocar o que quisesse. Pedi para não contar nada sobre isto se eventualmente falasse com o Rodolffo.
Engraçado é que o Diogo disse que se fosse com ele reagia igual.
- Porque é que os homens dizem que as mulheres são difíceis quando difíceis são eles?
Não há como entendê-los.