Eu já voltei ao trabalho. A Ju por enquanto tem conseguido lidar com as duas crianças. Com a ajuda da Fátima tem sido mais fácil.
Hoje os meus pais vêm da xácara para a casa da Alice. O meu pai tem um grave problema de saúde e hoje precisa ir à consulta de cardiologia.
Há tempos foi-lhe diagnosticado angina de peito e recomendado cuidado na alimentação e no descanso. Sem falar na bebida.
Claro que sózinho com a minha mãe na xácara não faz nada do que deve.
Ao final do dia vou levá-lo à consulta.
Findei o dia de trabalho, passei em casa, dei um beijo na família, tomei um banho e fui buscar o meu pai.
Por todo o caminho até ao consultório foi a protestar.
Porque estou bem, porque vocês são chatos, porque se preocupam demais.Depois de alguns exames seguimos para o gabinete médico.
- Sr. Vicente! Como está a alimentação e quanto a bebida.
O meu pai era muito directo. Sem papas na língua disse:
- Como e bebo o que me apetece. Tenho descansado um pouco mais porque já me canso muito.
- Se é para não comer o que gosto, que interessa andar cá? Troco 1 ano de vida por um bom churrasco. Eu sei que não vou chegar aos 100 mas os que cá andar quero vivê-los como quizer.
Não prejudico ninguém.- Por isso agora dás uma folga à xácara e ficas cá. As tuas netas precisam de conviver contigo.
- Fico só por elas.
Medicação e tratamento anotados regressámos a casa.
- Pai! Tens que ter cuidado. Ainda és novo. Ainda te queremos cá muitos anos.
- Mas eu sei que não tenho muitos anos, então, deixem-se viver ao meu gosto.
- Ficam na Alice mas se quiserem também podem ficar connosco. A Ju gosta muito de vocês.
- E nós dela, mas, por enquanto ficamos na Alice.
Ficávam na casa da Alice de segunda a sexta. Sexta à tarde iam todos para a xácara até segunda. Foi o melhor acordo que conseguimos.
A vida seguia normal até uma quinta feira. O meu pai jantou cedo e disse sentir-se cansado.
Deitou-se cedo e infelizmente não acordou mais.
Morreu durante o sono.Quando a minha mãe foi dormir ainda falou com ele mas foi a última vez.
Todos estávamos em choque sem querer acreditar.
A Lia já tinha noção do que se passava, mas foi difícil explicar à Matilde.
Eu expliquei mas ela não entendeu nada. Então veio a Ju explicar.- Senta aqui princesa. Lembras-te quando a mamãe contou da vó Elsa?
- Sim. A vovó Elsa que estava doente e foi para o céu? Porque ela era teimosa e não queria tomar o remédio. Então, Deus levou-a para dar o remédio.
- Isso mesmo, E agora o vô Vicente também estava teimoso e Deus levou ele também. Agora estão lá os dois. Um ajudando o outro.
- Ah! Já entendi. Mas eu tomo o remédio da barriga quando a mamã dá.
- E está certo assim, diz o Rodolffo.
- E estás triste papá?
- Só um pouquinho. Mas à noite eu olho o céu e estão lá duas estrelinhas que são o vô e a vó.
- Depois mostras-me?
- Mostro sim.
- Dei um beijo na minha esposa e agradeci a ajuda.
- De nada amor.
Terminadas as exéquias fúnebres, reunimos todos na casa da Alice.
Eu queria que minha mãe viesse morar comigo, mas, ia deixar que ela e a Alice resolvessem.
- Por enquanto a mãe fica cá. Depois com calma ela resolve.
Os meses passaram. A nossa Margarida estava para completar um ano.
Não teria festa pois a morte do meu pai ainda está muito presente. Ela também ainda não percebe.Eu tenho vindo a adiar um assunto que já devia estar resolvido.
Sentei-me com a Ju para conversar.- Amor! Sei que não estamos em clima de festa mas eu quero casar antes de acabar o ano.
- Oxii!! Porquê a pressa?
- Eu gostava. Tenho uma proposta. Casamos pelo registo e fazemos só um almoço de família e depois mais tarde quando já tivermos espírito para festas fazemos e religioso e o baptizado da Margarida.
- Parece-me bem. Tens alguma data específica?
- No início do ano que vem. Escolhe o dia.
A minha mãe veio para nossa casa.
A Ju ia trabalhar no escritório em part time e o resto faria em casa.
Iria ao escritório ou de manhã ou de tarde conforme conveniência do trabalho e sendo assim precisávamos de ajuda com a Margarida.
A Matilde já tinha começado a escolinha. Tinha um autocarro que a levava e trazia.
Minha mãe mais conformada com a perca do meu pai veio ajudar com a Margarida.
Está vida é tão passageira. Num piscar de olhos já se passaram mais 4 anos.
Aconteceu o casamento civil mas o religioso ainda não.
O Diogo substituiu a Ju pelo Tomás que veio de vez com o seu João.
A Ju prestará trabalhos como freelancer.
- Porquê? Perguntam vocês.
- Pois é! A Ju está novamente grávida e pasmem: gémeos. 2 menininhos.
Com tanta criança optou por não trabalhar a tempo inteiro.
A Alice realmente não quis mais filhos.
A minha mãe está radiante com a chegada dos netos e a Matilde nem se fala.
A Ju está a coisa mais linda com a barrigona dela e eu não podia estar mais feliz. Sempre quis uma casa cheia. Hoje tenho 4 filhos e uma esposa maravilhosa.
- Os meus sóis!
- Esperem lá! 4 + 1 = 5 para 7 falta 2.
- Fico a sonhar e a cantar lá num futuro próximo.
- " é o Sétimo Sol que eu vejo nascer"
FIM