Cascais
Durante uma semana as náuseas pela manhã foram constantes. Nada justificava já que eu tentava manter uma alimentação saudável embora por vezes fosse difícil.
Hoje ia sair com a Joana e o Tomás. Íamos a uma feira de antiguidades que por cá há muitas. Era sábado, então estava todo o mundo livre.
Já tinha vomitado logo quando acordei e continuava indisposta.
- Amiga! Passamos ali no hospital primeiro para ver isso. A feira é todo no dia, se não formos de manhã vamos à tarde.
Seguimos para as urgências do hospital. Felizmente não estava muita gente.
Depois de passar pela triagem aguardei cerca de meia hora.- Juliette, gabinete 7.
A médica ainda jovem era bem simpática. Expliquei os sintomas e ela pediu à enfermeira que fizesse a recolha de sangue para analisar.
- Juliette, por favor aguarde na sala de espera. Quando chegar o resultado volto a chamá-la.
Aguardámos mais 45 minutos e fui chamada.
- A Juliette veio sózinha?
- Com 2 amigos.
- É casada?
- Não, solteiríssima.
- Lembra-se da data da última menstruação?
- Lembro não! Eu nunca fui muito regular. Vi que estava mais irregular e pouco fluxo mas achei que por conta de um stress que eu passei.
- Adoro essa vossa contradição. Lembro não. Ou lembra ou não lembra!
- Pois é! Uma vez que é solteira não sei se a notícia é boa ou má. A Juliette está grávida de quase 3 meses.
- Gráaaaavida!
- Sim. Não cogitou essa hipótese?
- Não. Só fiz sexo uma vez e achei que não estava no período fértil.
Nesta altura já chorava.- Calma! Acontece quando os períodos são irregulares. E o pai?
- Está no Brasil.
- E mantêm contacto?
- Não. Eu vim para cá por causa dele. Não demos certo. Quer dizer, nunca iniciámos nada. Eu gostei dele, acho que ele também, mas ele vive num mundo de muitos fantasmas.
- E não pretende contar?
- Talvez, não sei. Estou confusa.
- Prepare-se. Criar uma criança sózinha num País estranho não é fácil a menos que se tenha bons amigos.
- Mora aqui em Cascais.
- Sim. Ali no centro.
- Tem aqui o contacto de uma obstetra minha amiga. Pode também marcar consulta de pré natal aqui no hospital.
Aliás, eu vou já fazer o pedido e depois da primeira consulta você opta por continuar aqui ou noutro lugar.
Já fez a inscrição no centro de saude da sua àrea de residência?- Ainda não.
- Pois vá fazer que lá também será atendida por um obstetra ou outro colega.
- Muito obrigada, doutora.
Saí dali. Era muita informação de uma vez só.
Cheguei ao pé dos meus amigos a chorar.
- Que foi Ju?
- Euuu, euuu estou grávida!
- Gráaaaaaaavida? Soltaram os dois ao mesmo tempo.
- Sim.
Saímos dali e esquecemos a feira. Precisava de assimilar tudo.
O Tomás pergunta: - É dele?
- Oh, Tomás! E seria de quem? Foi só uma vez. Eu era virgem.
- Eita! Foi um disparo bem dado.
- Idiota. Digo, dando uma palmada no braço dele.
- E agora? O trabalho, a faculdade. Já era difícil, agora piorou.
- Amiga! Nós ajudamos. Vais dizer ao pai?
- Acho que não. Vou criá-lo sózinha.
- Pensa bem no assunto. Não ajas
por impulso, disse a Joana.Resolvemos almoçar à beira mar. A maresia acalmava-me.
Ao olhar o mar para a linha do horizonte senti-me transportada para o outro lado do Atlântico. Tudo seria diferente com ele a meu lado.Brasil
Eu tentava não pensar nela mas era totalmente impossível. Bastava olhar para Lia que a imagem dela surgia logo na minha frente.
Eu sei que ela desembarcou em Lisboa, mas, será que ficou lá? Apanhou voo para outro local.
Como é que a vou achar num País diferente e sem referências.
Nem sequer tenho nenhum contacto lá a quem possa pedir ajuda.Este e outros pensamentos povoaram os meus dias. As noites tornaram-se difíceis.
Deitado na minha cama passava todo o filme na minha cabeça. Nós dois no riacho, no barzinho, na nossa noite. A primeira vez dela. Sinto-me tão mal.
A vida continua. Mergulhei no trabalho e nos shows. As noitadas para mim são passado.
Nos momentos livres aproveito a companhia da Lia e sonho com uma menina minha.Podia ser com ela se não tivesse sido um otário. Mas a Lia dá-me a paz que eu preciso. Todas as tardes eu reservava 2 horas para estar com a Lia e libertar a Lúcia.
Hoje iremos todos para a xácara. Os meus pais comemoram mais um ano de casados e vamos comemorar.
Vão reunir-se algumas famílias amigas.
- Irmão! Sabes quem vai lá estar?
- A lambisgoia da Ruth.
- Ishiiii! Acho que vou desistir de ir.
Não vais dar esse desgosto aos pais? A gente da um jeito.
A Ruth era filha de uns amigos dos nossos pais e outrora era obcecada por mim. Vivia aparecendo sempre em todos os lugares que eu ia. Foi difícil livrar-me dela.
- A Lúcia também vai e leva a filha dela. Vou combinar com ela para se passar por tua namorada, assim, aquela lá deixa-te em paz.
- Coitada da menina! Deixa lá. Eu dou um jeito.
Falei com a Lúcia e ela sorriu.
- Com o génio da minha filha, bota ela pra correr num instante e ainda sai de vítima. Pode deixar, eu falo com ela.
Mas aviso já que provavelmente o Rodolffo sai de lá no mínimo com casamento marcado e pai de 2 filhos.A minha Maria não dá mole quando o assunto é representar. Não é à toa que ela cursa teatro.
Rimos as duas da situação e fomos preparar tudo para a partida.
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