Foram muitas emoções para um dia só. Tivemos dificuldade em pôr a Matilde a dormir. Ela e Lia tiveram uma conexão imediata. Parecia que nunca estiveram afastadas. Foi preciso ser firme para as duas dormirem.
A Ju estava exausta física e psicológicamente. A emoção do regresso, o recordar tudo o que passou, as informações novas, o amanhã desconhecido deixou-a bastante tensa.
Levei-a para o meu quarto, já o dia começava a despontar. A minha mãe queria saber tudo principalmente no que se refere ás neta. Como foi a gravidez, o nascimento, os primeiros passos, os dentinhos, a escolha do nome, etc.. Tudo ela questionou.
Enchi a banheira com àgua morna, coloquei uns sais com aroma de alfazema e convidei-a para me acompanhar.
Entrámos e sentei-a na minha frente. Recostou as suas costas no meu peito e deixou cair a cabeça para trás. Beijei-lhe o pescoço e massajei os seus ombros. Ela suspirou de prazer.
As massagens estenderam-se aos braços, aos peitos e coxas. Já completamente excitada, Ju levantou-se e virou-se de frente sentando no seu colo. Os beijos sucederam-se a amassos e logo estavamos conectados. Riram com o barulho que a àgua fazia a cada investida. Quando terminaram havia mais àgua no chão do que na banheira. Terminaram mais uma rodada de sexo no duche.
Mais relaxados foram dormir agradecidos por tudo o que estavam conquistando.
Acordámos tarde. Na casa só estavam mamãe e papai a paparicar a neta.
Os três tomavam café.
Lia tinha ido para a escola e os pais para o trabalho.
- Bom dia papás. Olha aqui a Matilde a comer cuscus, disse minha mãe.
- Ela está habituada. Em Portugal também comia. Felizmente ela como tudo.
Tomámos café com eles.
- Mãe, eu e a Ju temos que ir ver o apartamento dela. Podes ficar com a Matilde?
- Claro! Mas vocês não vão viver aqui? A Alice vai pirar.
- Não mãe. Ficamos até o apartamento estar habitável. Depois mudamos. Mas também vai ser temporário pois quero comprar uma casa aqui no condomínio. Não quero a família longe. O apartamento fica lá no centro no meio da confusão.
A conversa desenrolava-se entre eu e minha mãe. Em nenhum momento a Ju deu a sua opinião o que estranhei. Ela conversava com a filha ignorando nós dois.
- Ju! Podem ficar aqui até comprarem a casa. As mudanças são chatas. Não há necessidade de andar de casa em casa, diz minha mãe.
- Depois vemos, respondeu ela, não demonstrando qualquer interesse na conversa.
Saímos em direcção ao apartamento.
- Há algum problema? Senti pouco interesse na conversa com a minha mãe.
- Tu conversavas com ela como se já tivesses decidido tudo. Nem por um momento pediste a minha opinião.
- Mas já tínhamos falado em Cascais!
- Falado, não decidido.
- Então queres o quê?
- Para já viver no apartamento que o Diogo me destinou.
- Podias não ter aceite. Não tens necessidade do apartamento.
- Uma vez por todas, posso ter uma coisa minha? Disse, elevando o tom de voz. Tenho que partilhar sempre o que é dos outros?
- Vivi com a minha mãe numa casa que não era nossa, fui viver na Tua casa, fugi e fui para casa da Joana, pelo amor de Deus deixa eu ficar no meu cantinho!
- Mas o apartamento nem é teu, é do Diogo, disse já me arrependido de ter aberto a boca.
Ela olhou para mim, os olhos encheram-se de lágrimas e não disse mais nada até chegarmos.
Subimos no elevador e antes de entrar na porta do apartamento puxei-a para um abraço e disse:
Perdoa-me, fui muito grosso.Dei-lhe um selinho, fiz um carinho na sua face mas ela não disse nada.
O apartamento era muito bom. Todas as àreas eram grandes e estava elegantemente mobilado.
Ela sorriu ao ver que estava pronto a habitar, já eu, fiquei consumido pelos ciúmes. Ela vai viver num apartamento idealizado por outro.
Eu sabia do interesse do Diogo nela, lá no início e pensar que ele adquiriu o apartamento para ela despoletou gatilhos. Não vou conseguir viver aqui.
Vi ela animar-se para a mudança.
- Só precisamos de comprar alguns artigos para podermos mudar, disse ela. Não achas?
- Vamos comprar o que achares necessário respondi seco.
Saímos mas o ambiente era de cortar à faca. Ela não falava e eu nada dizia.
- Queres ir a algum lado?
- Podemos ir almoçar ou ir para casa, diz ela.
- Se tanto faz, vamos para casa.
Chegámos a casa. A Lúcia disse que os meus pais tinham saído com a neta.
A Ju subiu para o quarto e eu almocei sózinho.
- Não cometam os mesmos erros de antigamente. Conversem, não se fechem disse-me Lúcia sempre perspicaz. Chegaram ontem e já estão nisso?
- Nós vamos.
- Subi e a Ju estava a arrumar umas roupas e chorava.
- Vem cá, segurei na mão dela. Vamos conversar. Não quero cometer os erros do passado. Ontem estávamos tão felizes e hoje estamos neste caos.
- O que é que eu fiz que te magoou?
- Essa tua mania de ser tudo como tu queres! Falámos em Cascais e deixámos para resolver cá e tu já vais contar à tua mãe como se já fosse realidade. Não é só sobre ti. E magoou-me dizeres que o apartamento é do Diogo.
- Eu sei que é mas pelo menos estou lá sozinha e sinto-o como meu. Não precisavas de ser tão cruel. Senti-me voltar como há anos atrás.
- Pois fui. Perdoa-me, mas, eu fiquei com ciúmes porque vais viver num apartamento decorado por outro homem. Foi mais forte que eu.
- Tens noção que se eu quisesse o Diogo tinha ficado com ele há cinco anos e tu nem saberias da Matilde?
Não entendo estas coisas. Tu e o Diogo não se tornaram amigos?- Foi. Mas quando vi o apartamento não consegui controlar os ciúmes.
Não queres mudar o mobiliário?- Não estou a ouvir bem. Repete lá!
- Sim. Mudamos o mobiliário.
- Olha! Chega! Fazemos ainda melhor. Eu vivo lá com a Matilde e tu vives na tua casa.
- É isso que tu queres?
- É. Estou farta de infantilidade. Já me começo a arrepender de ter voltado e só estou cá há um dia.
- Quando vais crescer? Onde está o Rodolffo que dizem ter mudado. Eu continuo a ver o mesmo egoísta e egocêntrico.
- Está aqui. O mesmo que esperou 5 anos, o mesmo que foi ao outro lado do mundo buscar o amor, sou eu.
- Pois era melhor não teres tido esse trabalho todo. Com o tempo havíamos de nos esquecer e não estaríamos agora a discutir por um assunto sem pés nem cabeça.
- Queria ver se fosse uma amiga minha a dar-me um apartamento para eu morar como é que reagias.
Olhei para ele com vontade de tacar a mão na cara dele mas apenas disse:
VAI À MERDA!
E saí porta fora.
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