Capítulo 24

110 12 9
                                    

Foram muitas emoções para um dia só.  Tivemos dificuldade em pôr a Matilde a dormir.  Ela e Lia tiveram uma conexão imediata.  Parecia que nunca estiveram afastadas.  Foi preciso ser firme para as duas dormirem.

A Ju estava exausta física e psicológicamente.   A emoção do regresso, o recordar tudo o que passou, as informações novas, o amanhã desconhecido deixou-a bastante tensa.

Levei-a para o meu quarto,  já o dia começava a despontar.  A minha mãe queria saber tudo principalmente no que se refere ás neta. Como foi a gravidez,  o nascimento,  os primeiros passos, os dentinhos, a escolha do nome, etc.. Tudo ela questionou.

Enchi a banheira com àgua morna, coloquei uns sais com aroma de alfazema e convidei-a para me acompanhar.

Entrámos e sentei-a na minha frente. Recostou as suas costas  no meu peito e deixou cair a cabeça para trás.   Beijei-lhe o pescoço e massajei os seus ombros.  Ela suspirou de prazer.

As massagens estenderam-se aos braços,  aos peitos e coxas.  Já completamente excitada, Ju levantou-se e virou-se de frente sentando no seu colo.  Os beijos sucederam-se a amassos e logo estavamos conectados.  Riram com o barulho que a àgua fazia a cada investida.  Quando terminaram havia mais àgua no chão do que na banheira.   Terminaram mais uma rodada de sexo no duche.

Mais relaxados foram dormir agradecidos por tudo o que estavam conquistando.

Acordámos tarde.  Na casa só estavam mamãe e papai a paparicar a neta.

Os três tomavam café.

Lia tinha ido para a escola e os pais para o trabalho.

- Bom dia papás.  Olha aqui a Matilde a comer cuscus, disse minha mãe.

- Ela está habituada.  Em Portugal também comia.  Felizmente ela como tudo.

Tomámos café com eles.

- Mãe, eu e a Ju temos que ir ver o apartamento dela. Podes ficar com a Matilde?

- Claro! Mas vocês não vão viver aqui? A Alice vai pirar.

- Não mãe.  Ficamos até o apartamento estar habitável.  Depois mudamos.  Mas também vai ser temporário pois quero comprar uma casa aqui no condomínio.  Não quero a família longe.  O apartamento fica lá no centro no meio da confusão.

A conversa desenrolava-se entre eu e minha mãe.  Em nenhum momento a Ju deu a sua opinião o que estranhei.  Ela conversava com a filha ignorando nós dois.

- Ju! Podem ficar aqui até comprarem a casa.  As mudanças são chatas.  Não há necessidade de andar de casa em casa, diz minha mãe.

- Depois vemos, respondeu ela, não demonstrando qualquer interesse na conversa.

Saímos em direcção ao apartamento.

- Há algum problema?  Senti pouco interesse na conversa com a minha mãe.

- Tu conversavas com ela como se já tivesses decidido tudo.  Nem por um momento pediste a minha opinião.

- Mas já tínhamos falado em Cascais!

- Falado, não decidido.

- Então queres o quê?

- Para já viver no apartamento que o Diogo me destinou.

- Podias não ter aceite.  Não tens necessidade do apartamento.

- Uma vez por todas, posso ter uma coisa minha?  Disse, elevando o tom de voz. Tenho que partilhar sempre o que é dos outros?

- Vivi com a minha mãe numa casa que não era nossa, fui viver na Tua casa, fugi e fui para casa da Joana, pelo amor de Deus deixa eu ficar no meu cantinho!

- Mas o apartamento nem é teu, é do Diogo, disse já me arrependido de ter aberto a boca.

Ela olhou para mim, os olhos encheram-se de lágrimas e não disse mais nada até chegarmos.

Subimos no elevador e antes de entrar na porta do apartamento puxei-a para um abraço e disse:
Perdoa-me, fui muito grosso.

Dei-lhe um selinho, fiz um carinho na sua face mas ela não disse nada.

O apartamento era muito bom.  Todas as àreas eram grandes e estava elegantemente mobilado.

Ela sorriu ao ver que estava pronto a habitar, já eu, fiquei consumido pelos ciúmes.   Ela vai viver num apartamento idealizado por outro.

Eu sabia do interesse do Diogo nela, lá no início e pensar que ele adquiriu o apartamento para ela despoletou gatilhos.  Não vou conseguir viver aqui.

Vi ela animar-se para a mudança.

- Só precisamos de comprar alguns artigos para podermos mudar, disse ela.  Não achas?

- Vamos comprar o que achares necessário respondi seco.

Saímos mas o ambiente era de cortar à faca.  Ela não falava e eu nada dizia.

- Queres ir a algum lado?

- Podemos ir almoçar ou ir para casa, diz ela.

- Se tanto faz, vamos para casa.

Chegámos a casa.  A Lúcia disse que os meus pais tinham saído com a neta.

A Ju subiu para o quarto e eu almocei sózinho.

- Não cometam os mesmos erros de antigamente.   Conversem, não se fechem disse-me Lúcia sempre perspicaz. Chegaram ontem e já estão nisso?

- Nós vamos.

- Subi e a Ju estava a arrumar umas roupas e chorava.

- Vem cá, segurei na mão dela.  Vamos conversar.  Não quero cometer os erros do passado.  Ontem estávamos tão felizes e hoje estamos neste caos.

- O que é que eu fiz que te magoou?

- Essa tua mania de ser tudo como tu queres! Falámos em Cascais e deixámos para resolver cá e tu já vais contar à tua mãe como se já fosse realidade.   Não é só sobre ti. E magoou-me dizeres que o apartamento é do Diogo.

- Eu sei que é mas pelo menos estou lá sozinha e sinto-o como meu. Não precisavas de ser tão cruel.  Senti-me voltar como há anos atrás.

- Pois fui. Perdoa-me, mas, eu fiquei com ciúmes porque vais viver num apartamento decorado por outro homem. Foi mais forte que eu.

- Tens noção que se eu quisesse o Diogo tinha ficado com ele há cinco anos e tu nem saberias da Matilde?
Não entendo estas coisas.  Tu e o Diogo não se tornaram amigos?

- Foi.  Mas quando vi o apartamento não consegui controlar os ciúmes.
Não queres mudar o mobiliário?

- Não estou a ouvir bem.  Repete lá!

- Sim.  Mudamos o mobiliário.

- Olha! Chega!  Fazemos ainda melhor.  Eu vivo lá com a Matilde e tu vives na tua casa.

- É isso que tu queres?

- É.  Estou farta de infantilidade. Já  me começo a arrepender de ter voltado e só estou cá há um dia.

- Quando vais crescer?  Onde está o Rodolffo que dizem ter mudado.  Eu continuo a ver o mesmo egoísta e egocêntrico.

- Está aqui.  O mesmo que esperou 5 anos, o mesmo que foi ao outro lado do mundo buscar o amor, sou eu.

- Pois era melhor não teres tido esse trabalho todo. Com o tempo havíamos de nos esquecer e não estaríamos agora a discutir por um assunto sem pés nem cabeça.

- Queria ver se fosse uma amiga minha a dar-me um apartamento para eu morar como é que reagias.

Olhei para ele com vontade de tacar a mão na cara dele mas apenas disse:

VAI À MERDA!

E saí porta fora.





Sétimo Sol Onde histórias criam vida. Descubra agora