Capítulo 4

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Eu não deveria estar com tanto medo assim, mas sinto meu estômago se revirar quando vejo pela minha visão periférica a moto de David lado a lado da minha.

Nesse momento estávamos entrando dentro do túnel rodoviário. Não havia muitos carros na estrada, o que facilitou passar dos meus outros rivais, mas parece que se livrar daquele homem estava cada vez mais difícil.

Não posso deixar me abalar por isso, então apenas acelerei cada vez mais, passando pelos poucos carros na pista.

Por sorte, não estava presentes caminhões, o que facilitava a visão da rodovia em minha frente.

Passar pelo túnel foi rápido, pude até sentir um sentimento de convencimento passando pelas minhas veias, mas não durou por muito tempo, quando vi uma moto me passar, meu rosto se desmoronou em uma expressão de incredulidade.

Ele estava a minha frente, e eu não poderia deixar que isso permanecesse. Mas eu já estava na velocidade máxima, passava pelas linhas que dividiam as ruas como um raio atravessando o céu.

Eu só tinha apenas algumas chances para realizar a ultrapassagem, ou era quando ele desacelerava para fazer as curvas ou em alguma oportunidade em que ele precisará desviar de cachorros e carros. Eu não poderia ficar por muito tempo pensando, já estávamos entrando no condomínio.

Sinto um embrulho no estômago quando percebo que posso perder muita coisa por causa dessa corrida, meus olhos começam a lacrimejar, mas com um balanço de cabeça, afasto todos os pensamentos ruins. Não posso desistir agora.

E por um sinal dos céus, o homem em minha frente tem que desacelerar bruscamente quando uma criança aparece tentando atravessar a rua sem olhar para os lados. Por sorte uma mulher apareceu para puxa-lo de volta para o passadiço. Com a chances em minha mão, eu passo por ele praticamente voando, liderando o primeiro lugar, de onde eu não deveria ter saído.

Nunca fui de comemorar a vitória antes da hora, mas sinto um alívio reconfortante quando percebo que nem tudo estava perdido.

Passar pela cidade estava, surpreendentemente, fácil. Era como se todos decidissem não sair de casa, deixando as ruas vazias. O máximo que poderia ter era um ou dois cachorros abandonados ou algum casal andando mas ruas.

Ou uma criança que queira atravessar a rua sorrateiramente.

Seguindo as bandeiras coloridas de amarelo, atravessei a cidade. Eu não largava o acelerador por nada, poderia ouvir o motor de moto logo atrás de mim, e era óbvio que ele estaria em minha cola. Se eu fizesse um deslize que fosse, seria o fim.

O cronômetro de velocidade marcava 270km/h, se eu acelerasse mais um pouco eu poderia chegar no 300km. O vento batia fortemente contra meu corpo e poderia ver as casas se tornarem linhas horizontais passarem freneticamente perante meus olhos.

Quando estava chegando perto da estrada de terra, senti um sentimento estranho. Meu peito se apertou e minha cabeça começou a doer inesperadamente. Talvez fosse o nervosismo.

Até que meu coração erra uma batida quando um cervo entra na pista, correndo e saltitando. Não pensei quando apertei imediatamente o freio de minha moto. O cervo que ao ouvir o barulho dos freios, se assutou e correu para a mata novamente. Não teve tempo de se acalmar, pois com esse deslize, a moto de David passa por mim, em questões de segundos.

Aquela era a minha última chance de ganhar a corrida, e agora eu a tinha perdido.

Quase pude sentir minhas lágrimas começarem a cair. Eu não conseguia me mover, nem tirar o pé do chão e talvez correr para, pelo menos, tentar chegar em segundo lugar.

Abaixei minha cabeça sentindo o vento bater em meu corpo, dessa vez, mais lento e suave.

Senti minhas veias arder e meu sangue circular cada vez mais rápido. Minhas mãos se apertavam sem eu ao menos perceber, fazendo com que as minhas veias saltavam, e minha mandíbula trincar.

Lágrimas de raiva passeava pela a pele de minha bochecha enquanto eu pensava seriamente e dar um soco no guidão da motocicleta, o que obviamente eu não fiz.

— Porra! — apertei fortemente os adaptadores, quase que os quebrando em dois.

— Está com raiva, Ida? — ouvir uma voz grossa se refeirir a mim, me tirando de meus pensamentos.

Olho para frente e percebo a presença do homem grande e alto em minha frente.

— David. — Ele abre o vidro do seu capacete e vejo seus olhos verdes escuros, cerrados em minha direção. — O que está fazendo? Não era para você estar ganhando a corrida?

Ele se ajeitar em sua moto, deixando seus braços e a parte de seus quadris marcados, e cruza os braços na altura de seu peito.

— Eu não consigo entender. — Cerro meu lábio, deixando-o em uma linha reta, e junto minhas sobrancelhas, fazendo uma cara de confusa. — Se está com tanto medo de perder, por que me desafiou para essa corrida? — Quando David fez sua pergunta, pude ouvir de fundo o barulho dos outros adversários chegando.

— Do que está falando? Foi você que me desafiou. — Falo com plena certeza do que dizia, mas quando vi sua cara de desentendimento, percebi que algo estava errado. — Espera... Não é você? — Os barulhos dos motores estavam cada vez mais alto, eles estavam chegando.

— Não sei, só sei que recebi um e-mail anônimo. — Com meus olhos arregalados, ele percebeu que aconteceu o mesmo comigo. — Mas pensei que era você. — Os barulhos aumentaram, falta poucos quilômetros.

— Mas eu que pensava que era você. — Em uma fração de segundos nossos olhos se encontraram, e por um momento tivemos os mesmos pensamentos.

— Foi planejado...

Quando terminamos de dizer, uma das motos dos nossos rivais, passa do nosso lado acelerando, mas não deu tenpo de sumir de nossa visão, quando um tiro de snipper rasga o ar e o acerta na cabeça.

— Cacete! — Nós dois aceleramos  nossas motos no estante em que outro tiro foi mirado no local em que estávamos, mas por sorte, saímos a tempo, fazendo a bala bater no barranco, deixando uma marca da bala.

Nossas motocicletas estavam em sincronia, passando pela estrada de terra a 300km/h e fazendo o máximo de poeira subir, dificultado a visão, de seja lá quem, que tentava nos atingir.

Não é possível que isso esteja acontecendo, eu não posso acreditar.

Quando saímos da estrada de terra, não soltamos o acelerador, nem por um segundo. Fomos em direção a rotativa, quase que desesperadamente. Não havia mais competitividade, era somente nos dois lutando pela nossas vidas.

 Graças a Deus que depois da rotativa a linha de chegava ficava cada vez mais perto, e o que era para ser feito em 10 minutos, fizemos em 5. 

—  EMPATE! QUE REVIRA VOLTA, DAVID ELLIOT E MIRANDA LEYDIE GANHAM AO MESMO TEMPO! PALMAS PARA NOSSOS VENCEDORES. 

 Finalmente pude respirar direito quando percebi que cheguei no destino final, a onde estavam uma grande multidão. Quem teria coragem de matar alguém em frente a tantas pessoas? Eu realmemte espero que "ele" não.

Pela primeira vez, eu não senti felicidade por ser vitoriosa, senti medo.

No local, havia uma garagem a onde ficava as motocicletas dos Competidores. Então sem pensar duas vezes, deixei minha moto na garagem.

— Precisamos conversar. — Me assustei ao ouvir novamente a voz grossa. — Podemos estar em perigo. — Ele também estava na garagem, desligando o motor de seu automóvel.

Soltei um suspiro ao perceber que a situação tende a ser séria.

— Tudo bem, me fale suas suposições.

 

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