Capítulo 5

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A tensão se expandia pela área ao redor. O ar estava abafado por causa dos milhares de corpos dançado e gritando, pelos roncados dos motores das motos. Silêncio era a última coisa presente no local, mas com a íris presa nos olhos esverdeados do homem a minha frente, parecia que nenhum barulho poderia me afetar.

— Tudo o que sei é que estamos sendo caçados por desconhecidos. — Seus olhos se passaram sorrateiramente entre as pessoas que estavam ao nosso redor. Todos pareciam bêbados e não se demonstravam interessados em nossa conversa, mas mesmo assim, David pegou em minha mão bruscamente e me arrastou para um canto escuro, longe da plateia. — Nos dois recebemos um e-mail anônimo em que nos convida a essa corrida. — Colocando suas mãos em um dos bolsos de sua calça, pegou seu celular e arrastou seus dedos pela tela. — acredito que ele usou as mesmas palavras para nos dois. — Quando terminou de falar, virou seu celular em minha direção.

Era exatamente como ele tinha dito, a pessoa que escreveu os e-mails, usou o mesmo formato de texto.

De: @anonymos0009997.com
Para: @Davidgostoso00.com

"Oi David...
Parece que você ganhou outra corrida...
Te desejo um sincero 'parabéns' 
Mas não vim aqui te bajular, tenho certeza que já fazem isso o suficiente.
Quero te propor um desafio, não se sinta obrigado a aceitar, mas espero que você não amarele.
Nessas alturas você deve saber da corrida que vai ter daqui a três semanas, na Manhattan. Eu irei participar e suponho que você também. 
Então é um desafio simples, vamos apostar uma corrida, eu e você... Ninguém vai saber, todos pensaram que é uma corrida normal. Mas no nossos subconsciente, a corrida é somente nossa.

O prêmio pode ser escolhido pelo vencedor, vale qualquer coisa independente do preço.

O que você acha?
Me responda na hora que se sentir pronto.

Até breve."

Quando terminei de ler, guardou novamente seu celular em seu bolso e passou com seus dedos em seu cabelo, suavemente, em um gesto de nervosismo.

— Tudo bem, eu só não entendi o quer dizer com isso. — Percebi que ele revirou os olhos, e minha vontade foi de te dar um soco, odeio que revirem os olhos para mim. — No que adianta saber se o e-mail é igual ou não?

— Isso significa que ele pode ter mandado e-mails para outras pessoas, não somente para nós.

— Está dizendo que "ele" não está "caçando" somente a gente? Que tem mais pessoas envolvidas nisso? — Ele acena com a cabeça em positividade. — Isso é uma chacina.

— Bingo.

Precisei respirar profundamente quando várias ideias de terroristas e massacres vieram em minha mente.

Por solte ou azar, nossa conversa acaba quando ouvimos os outros motoqueiros chegarem na linha de chegada, assustados e apavorados. A plateia e o apresentador não notaram suas expressões faciais, até que um dos competidores correu em direção aos organizadores do evento, explicando o que estava acontecendo.

Eles tentavam acalmar os pilotos que suavam calorosamente, com seus olhares assustados e seus lábios mais brancos que o normal.

Para todos aqueles que estavam no local, aquilo não era nada demais, talvez apenas motoqueiros chorando por não ter ganhado um primeiro lugar. Mas para aqueles que viram um crânio estourar em sua frente, sabem a gravidade da situação.

Que Deus conforte a família.

— GALERA! RAPAZES E MOÇAS, POR FAVOR ME ESCUTEM. — Para tentar acalmar a situação, um segurança que ouviu os pilotos, pegou o microfone e começou a falar. — HOUVE UM PROBLEMA NA CORRIDA E NÃO PODEMOS DEIXAR PARA RESOLVER DEPOIS. — As pessoas que estavam gritando, se silenciaram e um grande murmúrio se instalou no local. — ENTÃO A CORRIDA ESTÁ CANCELADA, ACABADA, ANULADA. POR FAVOR PEGUEM SEUS PERTENCES E SE RETIREM DO LOCAL. — E como esperado, toda a multidão foi saindo apressadamente do lugar, entrando em seus carros e se distanciando dali.

— Não podemos ficar aqui. — David correu em direção a garagem.

— O que? Devemos ajudar os meninos a explicarem ao pessoal o que aconteceu. — Apontei para garotos que estavam competindo com a gente a poucos minutos atrás, mexendo com a mão e tentando explicar para os seguranças e organizadores do evento o que ocorreu.

— Não estamos seguros, a multidão nos protegia de ser atingido, agora não a mais ninguém aqui. — Pegou a chave de sua moto e a ligou. — Seja lá quem esteja fazendo isso, pode estar aqui em qualquer lugar, com uma arma apontado para a gente.

— E os outros? Eles podem estar correndo perigo também!

— Cada um por si, Ida. — Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, acelerou e saiu de meu campo de visão quando entrou na estrada de terra, em direção a cidade.

— NÃO ME CHAMA DE 'IDA' — Gritei mas não consigo distinguir se ele conseguiu ouvir, já que estava longe o suficiente. — Babaca. — Bufei.

Quando olho para trás penso se ele não está errado, com toda essa situação.

O céu está aberto e o vento frio batia entre as únicas pessoas ali presentes, trazendo um arrepio a todos. Não a muitos barulhos, posso facilmente ouvir as folhas das arvores balançando suavemente. As luzes da cidade  distante, era o que trazia vida para o lugar, que fazia meu estomago se embrulhar ao lembrar dos acontecimentos de minutos atrás. 

 Talvez eu devesse montar em minha moto e sair daqui enquanto dá tempo, enquanto ainda posso lutar pela minha avida, enquanto ainda sinto meu coração bater. 

 Mas não posso ignorar as pessoas a poucos metros de distancia de mim, eles também tem uma família que os espera em casa. 

 Como um empurrão, giro meus pés para correrem suas direção. Todos estavam assustados e falavam ao mesmo tempo, enquanto posso ver no semblante de alguns, que não entenderam nada do que eles tentavam dizer.

— Ei! Me escutem. — Eu tentei chamar suas atenção, mas não estava funcionando.  — Vocês precisam me ouvir. — Minha voz novamente não foi ouvida, os rapazes falavam alto e de forma rápida, dificultando em ouvirem minha voz. — Ei! 

 Porra Miranda, não temos muito tempo, 'ele' pode estar no caminho para cá, ou a poucos metros de distancia. 

 Ouço o vento ficar mais violento, dessa vez, deixando o lugar mais barulhento com a mata que ficava em voltar de onde nós estávamos. O sol já tinha se posto, deixando o lugar cada vez mais assustador e pesado. 

  — CALA O CARALHO DA BOCA. — Com um grito, todos se assustaram e olharam em minha direção com seus olhos arregalados. — Eu sei que todos querem resposta, mas não vai ser possível ter ela agora, então por favor me escutem. — Pausei para poder buscar ar e ninguém se ousou a dizer um 'piu' — A uma pessoa que está, aparentemente, tentando matar alguém ou a todos os pilotos. Então, por questões de proteção, todos precisam sair daqui, imediatamente. — Com seus olhos fixados em mim, ninguém falou uma sequer palavra. — AGORA. — Com meu último grito, um choque de realidade se fez presente em suas feições.

Cada um correu para seus automóveis e se começaram a se retirar do local.

Pelo menos a minha parte eu fiz.

Igualmente a todos eles, corri diretamente para a garagem e montei em minha moto, ligando-a e acelerando, saindo daquele lugar.

Eu não sei o que vai acontecer a partir daqui, mas pela primeira vez em toda a minha vida, sinto meus planos para meu futuro serem queimados e tirados de mim.


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