Capítulo 06 - The bottle is to be passed - Part I

18.6K 1.1K 4.1K
                                    

Porto de Londres, 1970

Só poderia mesmo ter acontecido na Inglaterra, onde homens e mar se confundem, por assim dizer. Onde o mar entra na vida da maioria dos homens e os homens sabem alguma coisa ou quase tudo sobre o mar, seja como lazer, viagem ou como pão nosso de cada dia. Só poderia mesmo ter acontecido na Inglaterra, onde o mar interpassa todos os homens.

Já se passava das altas horas da madrugada e Robert sabia que seus meninos estavam soltos pela cidade de Londres, mas não se preocupava, eles tinham de aproveitar o tempo em terra firme e sabiam a hora de partir. Recolheu o baralho, finalizando mais uma partida de sueca e se despedindo dos camaradas que iriam descansar, já estava para se levantar da mesa de madeira quando o tão conhecido alto e forte homem de bigode se juntou a ele, com o charuto importado na boca.

- Robert Jauregui, meu camarada! - Falou alto com um sorriso saudoso e Robert cerrou os olhos, desconfiado.

- O que fazes aqui, tão distante de sua pátria, Antonio?

- Negócios, meu caro amigo, negócios... Hei de mandar aqui também na terra dos caras-pálidas. - O latino riu com gosto mas Robert cruzou os braços um tanto quanto cabreiro.

- Está fincando mastro em terra já conquistada, meu amigo. Ouço dizer que Salvatore não gosta de intrusos em seus negócios, você não sabe com quem está lidando, Toni. Essa gente não tem escrúpulo, fazem qualquer coisa por dinheiro.

- É por isso que eu preciso de um favor teu. - Robert deixou um riso escapar, ele sabia muito bem que Antonio não apareceria no porto sozinho por aquelas horas se não fosse por grande coisa.- Ouvi dizer que está para zarpar amanhã, é verdade? - Antonio perguntou e o homem assentiu.- Preciso que leve minha filha de volta para Altamira.

- O que diabos sua filha faz aqui?

- Foi presente de aniversário, queria conhecer Londres e eu não pude negar. Não sabia que Salvatore estaria de volta tão cedo, o porto está tomado pelos cargueiros dele e você é o único em que confio.

- Eu não transporto gente, Antonio, eu transporto madeira, milho, trigo, soja e no máximo peixe. - Respondeu secamente e viu o latino limpar o suor da testa nervosamente.

- Eu preciso tirar minha filha daqui, e eu sei que ela vai estar segura com você.

- Eu já disse que não transporto gente e Altamira não está na minha rota.

- Você não precisa tê-la como prioridade, cumpra todos os seus itinerários e a leve por último, que seja mas por favor, a leve com você, peço isso como um irmão. Faça pelos velhos tempos, é a afilhada da sua falecida mulher...

Robert bufou. Grace era o seu ponto fraco, sempre seria e Antonio sabia disso. O capitão bebeu um longo gole de conhaque para pensar, era uma responsabilidade bem grande e fugia totalmente de seus planos mas Antonio era um velho amigo, devia muito a ele.

- Eu não sei se é uma boa ideia pra ela, amigo. Será uma viagem longa antes de seguirmos para Altamira e ela nem me conhece mais, além disso somos eu e os meninos, ela é uma dama acostumada com a alta sociedade e...

- Lauren pode fazer companhia à ela, têm a mesma idade, ambas donzelas, tenho certeza que se darão bem.

- Lauren não conta como donzela, foi criada no meio dos meninos, é outro moleque...

- Não me interessa se são moleques, eu confio em você e na educação que deu para eles. Eu conheço você, Robert. Não é por mim, é pela minha filha... Passe a garrafa, lembra?

- Partirei às sete da manhã, traga-a no mínimo meia hora antes. - Disse por fim e Antonio levantou para abraçá-lo calorosamente antes de sair correndo pelo porto mal iluminado.

Love Never Dies Onde histórias criam vida. Descubra agora