Love Never Dies

Capítulo 09 - Once In a Lifetime - Part I

Paris - FRA, 2041.

O espelho era seu pior inimigo, os filetes de sangue escapavam de seus braços escorrendo até a pia... Em que ponto havia chegado?

Parecia o final... E talvez fosse ele mesmo.

Tudo parecia ser difícil de aguentar, Camila sentia o peso, sua imagem lhe mostrava uma mulher de vinte e um anos... Mas sua alma lhe mostrava sua velhice através de seus olhos.

O castigo da vida estava caindo sobre si... E teria algo pior do que um ser superior desapontado com todos seus feitos em todas as suas vidas?

Camila estava cansada de aturar Lauren, cansada de chegar em determinado ponto da vida e encontrar ela. Seu corpo pedia por socorro, sua mente nem mais clamava por isso... Queria apenas a morte, de forma definitiva.

Mas era engraçado como as coisas giravam ao seu redor, não sabia em que parte do mundo ela estaria, mas ansiava ao mesmo nível que repudiava o encontro. E nunca havia acontecido de se lembrar de suas vidas passadas... Tinha certeza de que se contasse isso para alguém, provavelmente lhe chamariam de louca e lhe mandariam para um sanatório, o que não parecia má ideia... Mas aquilo também não era o que queria.

Pensou em vender sua alma, mas algo dentro de si ainda clamava por salvação... Sabendo que nem assim teria paz.

Não queria esbarrar em Lauren em uma loja departamental ou que ela salvasse sua vida... Queria ser normal, feliz. Mas por ironia do destino queria isso com aquela maldita mulher.

Sua imagem no espelho refletia a podridão dos anos e anos na terra, olheiras fundas, olhos vazios... Estava magra, as maçãs de seu rosto saltavam. Aquela imagem era apenas sua, ninguém jamais veria ela.

Se cortar não era uma coisa frequente... Na verdade aquela era a primeira vez que o fazia, mas não teve coragem de prosseguir. Era simplesmente como se alguém segurasse sua mão para que o corte não se aprofundasse, como se uma voz sussurrasse em seu ouvido: Ainda não é a hora de partir.

Estressada, jogou o Gillette com força contra o vidro que o recebeu e trincou.

-Ótimo! Sete anos ou horas de azar... Tudo depende de como vai ser daqui para o resto do dia. - Resmungou baixo e se virou deixando as coisas espalhadas.

Tirou a camisa ficando apenas com o sutiã e secou o sangue de seu braço com certa brutalidade, gemendo de dor por breves segundos. Então olhou ao redor de seu quarto e revirou olhos voltando ao banheiro, se livrou das roupas jogando tudo em algum canto no azulejo e abriu o chuveiro, praguejou a água gelada e deu um pulo para trás esticando a mão para sentir a temperatura.

O banho não foi demorado... E Camila nem mesmo sabia o porque se encontrava tão neurótica com as coisas.

Nada parecia se encaixar... Tudo havia ganho proporções estranhas no dia do seu aniversário há três semanas.

Na verdade tudo começou há exatos 21 anos atrás, quando quem quer que tenha sido sua mãe a largou na porta de um orfanato ainda bebe... Tudo o que havia junto com ela, era um certidão de nascimento, onde acusava que havia nascido no dia 3 de março de 2020, seu nome era Karla Camila Cabello Estrabao e tinha o espaço onde devia estar o nome dos pais, em branco.

E seu gênio difícil impediu a adoção, Camila nunca reclamou muito da vida para as pessoas, ela tinha um belo sorriso no rosto e só contava esse pequeno detalhe para quem achasse muito confiável... Era uma pessoa em três mil para ganhar a jovem moça.

Parisiense de traços latinos e marcantes, cresceu sozinha. Concluiu o ensino com muito custo e viu que a faculdade não lhe agradava em nada... Camila era uma caçadora de recompensas, seu corpo bem feito e jeito delicado não deixavam as pessoas procuradas ter alguma ideia de que ela sabia muito bem como dar uma chave de braço bem presa ou um murro bem dado.