Love Never Dies

Capítulo 07 - I Will Always Love You

O sol se assomava preguiçosamente naquela manhã. Mas a cidade que nunca dormia parecia não se abalar. Taxis amarelos pelas avenidas, pessoas entrando e saindo do metrô, outros cruzando as ruas falando ao telefone, ouvindo música; vendedores ambulantes assoprando as mãos enquanto os raios quentes se faziam de rogar.

Era uma manhã de segunda-feira como outra qualquer. Camila se levantou cedo, como de costume, para sua corrida matinal no Central Park. Era parte de um ritual. Despertador as 6:00 AM, correr até o parque e na volta, passava em uma pequena lanchonete do Upper East Side, comprando seu habitual suco de laranja, e no quiosque do senhor Brown, um exemplar do New York Times. Seu porteiro, o senhor Miles, um homem com a idade avançada evidente em seu cabelo grisalho e pele enrugada, a esperava com um sorriso e as encomendas do dia.

Assim era a vida da artista, tudo perfeitamente cronometrado e habitual. Ou pelo menos se fez assim depois de sua drástica ruptura com seu noivo Austin, que resultou ser um idiota traindo-a com uma cantora. E talvez seja verdade isso que dizem de "sorte no jogo e azar no amor". A carreira da latina estava em seu auge, exposições nas galerias mais importantes do país e alguns exemplares começavam a se distribuir pelo mundo. De algo serviu a traição, era o que sua melhor amiga dizia constantemente, já que toda a frustração e ódio acabaram se convertendo em obras magníficas, não só na arte como nos preços.

Ter um quadro ou escultura assinado por Camila Cabello era algo que poucos podiam se permitir. Mais de uma vez, ao receber um reconhecimento ou prêmio público, a mulher fez questão de agradecer ao homem que então, lhe havia inspirado. E logo percebeu que no fundo lhe havia feito um favor, pois logo depois da ruptura, engatou sua vida revivendo experiências passadas, aceitando finalmente que talvez o problema não fosse ela e sim os homens. Foi então que abriu as portas para novos encontros e até mesmo reencontros. Amigas da juventude com as quais compartiu a curiosidade de provar coisas diferentes e acabou gostando, se é que vocês me entendem.

Ao chegar a casa, desligou o iPod e se concentrou no jornal. A manchete daquele dia anunciava que a aviação estadunidense no dia anterior havia bombardeado Bagdá, capital do Iraque. Abismada com a notícia, Camila mal percebeu que já estava sentada em sua cozinha. Ainda bebendo o que lhe restava do líquido, continuou lendo, até que chegou à seção internacional, onde em San Sebastián (País Vasco, Espanha), o grupo terrorista ETA realizava um atentado com um carro bomba, matando dois funcionários da empresa Elektra. Era estranho o fato que de repente tudo parecia estar cada vez mais caótico. Os seres humanos evoluíam, aparentemente, mas os conflitos eram cada vez mais cruéis.

Lembrou-se da dificuldade que vivera quando pequena, praticamente fugindo de Cuba com seus pais para tentar uma vida melhor no país onde tudo é possível, e se perguntou se as pessoas percebiam a gravidade dos problemas causados pela ambição e sede de poder, mas principalmente pela intolerância. Os próprios talibãs, segundo o jornal, haviam começado a destruir templos budistas. Mas consequentemente, sentiu a esperança renascer ao ver que em Holanda se celebrava o primeiro casamento homossexual com pleno direito.

Continuou pela seção de economia, apenas para se assegurar de que suas inversões continuavam intactas. Desde que Lucy estava enrolada com uma broker, havia insistido em que a amiga deixasse que a mesma fizesse alguns truques de mágica, como ela costumava chamar, para aplicar alguns dos benefícios que sua arte lhe estava dando.

Sem mais, finalmente chegou à seção de cultura, onde viu em quase uma página inteira, a reportagem sobre sua nova exposição "Del amor al arte", por Camila Cabello. Ainda era estranho ver sua foto ou "alguém", por exemplo, um dos jornais mais transcendentais do mundo, falando sobre ela e seu trabalho. Estranho, porém, gratificante. Continuou a ler e de fato tudo que o jornalista contara era mais do que veraz. Satisfeita com o resultado e o inicio do dia, se dispôs a se arrumar para enfrentar mais um dia de trabalho.