Prólogo

5 1 0
                                    


Muitas vezes entramos no mundo dos sonhos e nem nos damos conta, tão real é esse universo. Toda vez que ele entra nesse mundo de forma profunda o suficiente reconhece o véu da névoa do místico que o envolve. Suas botas de montaria esmagam as folhas do chão, e passam cuidadosamente pelos desníveis causados pelas raízes de árvores próximas desse bosque onde se aventura. É um homem alto, de rosto pleno e cachos castanhos preenchendo a cabeça. Parece confuso, sem saber o que procurar em meio aquele nevoeiro. Andando mais adiante, encontra uma clareira, que estranhamente parece impelir a névoa para fora de seus limites. Por ali a luz do sol se infiltra por cada espacinho deixado vazado pelas copas das árvores, iluminando um único pé de ipê branco, as flores em constante queda formavam um gracioso tapete ao redor do tronco, contrastando com o solo escuro e úmido.

Ao dar o primeiro passo para dentro da clareira, com aquele instinto natural dos sonhos que não nos deixa hesitar, o homem parece confuso. Ao sair da névoa passou a ouvir vozes que pareciam familiar, mas ele não sabia dizer com clareza de onde.

"Ele logo deve estar vindo, as cartas devem ter demorado a chegar."

"Minha senhora, o seu pai piorou na última noite."

"Papai! Por favor, não me deixe!"

"Tentarei mais uma vez. Se não tivermos notícias dele em um mês..."

Essas eram algumas das frases desconexas que ouvia ecoadas, vindas de dentro do véu por fora da clareira, vozes essencialmente femininas que traziam reconhecimento à pessoa ali em pé; o ipê branco em pouco tempo já havia praticamente perdido todas as flores. Rodeando o caule, notou mais uma figura. Era uma mulher pálida, sem expressões definidas e com a constituição praticamente incolor. Havia se erguido das flores caídas do ipê, e pareceu enfim sorrir ao homem; um sorriso que começou bondoso, transformando-se em maldoso e amedrontador. Ao tocar em si, foi como se todo o ar daquele espaço desaparecesse, deixando o homem a sufocar em desespero por mais uma dose de oxigênio que fosse. Uma última voz foi ouvida, um clamor choroso e que lhe chamava pelo nome.

"Stefan."

**

Stefan acordou com um pulo, o peito da camisa encharcado e arfando profundamente, assustado e sem aparentemente saber onde se encontrava. Rodeou os olhos arregalados, reconhecendo o quarto da casa onde passara os últimos anos, estrangeiro à sua terra.

Levantou-se da cama com uma sensação estranha, pensando na sua própria casa com muita profundidade, com mais saudosismo do que sentia há muito, e a sensação de que deveria retornar se tornou mais forte assim que, depois de vestido, reparou numa pilha considerável de cartas, todas tendo como remetente a irmã mais nova, todas de datas com uma separação considerável. As frases de seu pesadelo recente continuavam ecoando na sua cabeça, então mais do que rapidamente apanhou as cartas e tratou de lê-las.

Em poucas horas já estava com um cavalo preparado, partindo em rápida marcha de volta para casa.

O Forte das CalêndulasOnde histórias criam vida. Descubra agora