O Forte das Calêndulas

Capítulo 12

Tinha sido acordado um tempo disponibilizado para Stefan retornar, se desejasse, a Mophet e resolver os últimos detalhes da mudança para Bnoot. Enquanto o fazia, a mansão que ele poderia utilizar seria devidamente limpa e mobiliada. North comentara que, normalmente, nobres nessa situação nomeavam empregados específicos para cuidarem desses detalhes, por vezes o próprio valete ou mordomo cuidava desses pormenores enquanto o nobre em si permanecia na capital; porém, reconheceu que a convocação foi feita de forma quase inconveniente, e o rei queria parece solícito o suficiente para continuar agradando o duque na medida do possível em dar-lhe a escola. Além disso, disse também que assim poderia conversar com mais calma com Lorde Rutherford, cumprindo sua oferta de o fazer.

— Imagino que não vá deixar sua irmã sozinha no ducado. Quem sabe agora não arrumamos um bom casamento dentro da corte para ela; tinha agradado alguns nomes naquela Feira.

Sendo assim, seria um período tumultuoso na vida do duque, considerando a viagem de ida e de volta, além dos arranjos de conseguir alguém que cuidasse de Mophet mais de perto, recebendo suas ordens à distância. Só assim poderia se estabelecer na corte. Fora tudo isso, atraía a atenção indesejada de quem já o via como incômodo, estando ele em tão bons termos com o rei, coisa que todos desejam ser.

Jasmine ofereceu a possibilidade de acompanhá-lo ao marido, que prontamente levou a possibilidade ao seu suserano; o duque de Carnan, seu tio, concordou quase imediatamente em conceder o restante do verão para que o fizesse, para quem sabe ficasse mais próximo da família ao menos um ano. Dizia que o sobrinho trabalhava demais, e o próprio duque ficaria em Bnoot, e assim podia se consultar com o irmão Geoffrey, caso necessitasse. Louis ficou feliz com a facilidade em que conseguiu esse favor, mas sabia que ao voltar noites insones o esperariam a atualizar o livro de contas o mais rápido possível.

A mão ferida de Stefan era um inconveniente a mais; o unguento que conseguira era até efetivo, mas não o impedia de sentir as dores pontuais de uma pele sensível, além dos prenúncios de uma cicatriz visível.

Mesmo com a dor, incômodo, a pressa e o estresse pelos meses futuros, nada disso o impediu de tentar se despedir, ainda que de forma temporária, de Briana; diferente da primeira festa que a encontrou, há cerca de três anos, ele tinha uma confiança maior pela sua nova posição, e pretendia falar-lhe diretamente mesmo se estivesse acompanhada do pai. Era difícil reunir os ânimos para algo tão audacioso, e por isso parecia quase esbaforido em fazê-lo rapidamente.

Felizmente, ao encontrá-la, pôde ver apenas Tris do seu lado. A dama de companhia andava de braços dados com a amiga, e segurava um ramo de miosótis; ambas pareciam contemplar e comentar com certo divertimento a agitação dos que já partiam. Assim que percebeu a presença do duque de Mophet, Briana fez questão de rotacionar levemente o enlace para assim poder observá-lo melhor enquanto caminhava na direção delas, um movimento inconsciente que quem mais sentiu foi a própria Tris. Era curioso como ultimamente se sentia afoita, perdida, sem ar e completamente fora de seu próprio raciocínio à mais mínima menção ao nome do duque.

Quando ela estava em Milin sua existência não passava de um boato, quase uma maldição nas palavras do pai, e próximo de um ser lendário para Briana, já que era distante o suficiente para atiçar a curiosidade do espírito. De volta a Bnoot conheceu melhor a origem dessa lenda, que passou de curiosidade para se tornar seu tormento e os motivos das noites ansiosas. E quanto mais procurava ignorar, pela própria integridade perante o pai, mais sua mente parecia se inclinar a ele.

Afinal, era um homem bem apessoado, galante, com as maneiras gentis e a fazia sorrir a cada vez que a olhava. Era tola demais? Nem mesmo a mais terrível das histórias que ouvia dos phileus quando criança parecia diminuir esse aparente encanto. Teria ela sido enfeitiçada como diziam as lendas? Não parecia ser algo tão terrível.