O Forte das Calêndulas

Capítulo 5

Naturalmente, com o final das festividades primaveris após cerca de duas semanas, a comitiva de Mophet retornava à casa. Num panorama geral, a apresentação do novo duque foi satisfatória e positiva, até consideravelmente melhor do que era esperado. Foi também a interpretação que Jasmine obteve, ao conversarem com ela em visita a Carnan. O caminho de volta foi feito em um silêncio ligeiramente maior que o de ida, porém era um silêncio claramente mais contemplativo que apreensivo. Stefan agora se mostrava mais essencialmente introvertido que atrapalhado, observava o ânimo alegre da irmã, que havia se encantado com o deslumbre da corte, e pensava no trabalho que teria a seguir. A viagem, como previsto, iluminou suas aspirações, e inspirou sua energia para o futuro do ducado; estava literalmente revigorado.

Tanto que mesmo depois da longa e distante viagem rapidamente se estabeleceu a organizar o que pretendia fazer. Abriu os livros de contas deixados pelo pai e passou dias a fio a entender e atualizar os costumes antigos do genitor. Entendeu tributos, doações, gastos e entradas; estudou estrutura, o que possuía e o que tinha em forma de sonhos. Para esse último, uma ferramenta lhe foi bem útil. Ao vasculhar as estantes da biblioteca da casa, encontrou um caderno de notas que trazia as mais ambiciosas realizações e estudos de Gideon para si, a família e o ducado. Pelo visto era um caderno que Gideon preferia manter em segredo, já que podia-se testemunhar ali seus desabafos mais íntimos ao mesmo tempo que contemplava seus pensamentos e seus sonhos. Não se poder negar o sentimento confortante e nostálgico que Stefan sentiu ao ler cada uma das páginas, tendo inclusive chamado Genevive para se juntar numa tarde, fazendo com que a menina viesse novamente às lágrimas de forma graciosa e contida, sorrindo com um ar jocoso.

Era como se conversasse e recebesse os conselhos de Gideon naquele momento, como se o pai ainda estivesse vivo e lhe relatasse tudo aquilo.

Genevive que, inclusive, parecia ter amadurecido consideravelmente desde a estadia na corte. Passava muito tempo com a srta. Nunty a entender a administração de uma casa nobre; voltou a praticar o piano, preenchendo a casa com uma melodia doce e agradável durante o jantar, além de estudar arte e línguas. Quando recebiam as visitas dos seus vassalos, que em Mophet costumavam ser também seus amigos, a menina conduzia os pequenos eventos com a maestria de uma anfitriã experiente, impressionando inclusive a irmã mais velha quando esta retornou a Mophet certa vez.

Aos poucos Stefan foi sendo melhor reconhecido como o duque, tanto pelos outros nobres quanto pelos plebeus espalhados pela região da Vila Rica; palavras rodeavam que se tratava de um homem mais recluso, porém benevolente e justo. Pouco havia de negativo a se dizer do duque, mesmo que fosse raro vê-lo pessoalmente caso não fizesse parte do seu círculo íntimo de parentes ou amigos.

Notadamente fora convidado para a Feira da Primavera nos dois anos seguintes, assim como para a Festa da Colheita no fim do verão, eventos que ajudaram a aumentar sua popularidade e também a estreitar certas relações amistosas com o rei. Mophet parecia que ficaria em paz por mais um reinado, e isso deixava todos mais tranquilos de uma forma geral.

Também foram instalados Mosteiros de Estudos na cidade que rodeia a Casa de Algodão. Como são permitidos de seguir sua religião diferente da do restante de Astorya, os descendentes de Philea culturalmente priorizavam a educação da população geral, e o casarão que servia de escola e alojamento era uma das idealizações de Gideon que Stefan retirou do papel. Situada na praça central, a antiga mansão foi reformada e agora abriga cerca de vinte jovens, a primeira turma que serviria de teste para o sistema. Na capital a ideia não era exatamente bem recebida pela maioria dos nobres, mas a crescente aparente amizade com o rei parecia trazer justificativas para essa liberdade repentina.

Apesar de tudo, com uma população que aprendia a pelo menos ler e a escrever, Mophet começaria a criar uma cultura de exportar copistas e intelectuais, criando certo atrito e uma concorrência com a cultura mais sábia de ducados como Alaham, e por isso o foco da última reunião foi preparar o terreno com os Fremt. Talvez, por isso, a Feira tenha sido mais exaustiva das três que presenciou: os nortenhos não eram fáceis de lidar.