Capítulo 8

2 0 0
                                    

De fato, não foi algo fácil de se considerar. Passaram-se alguns dias desde que North lhe fizera uma proposta que, provavelmente, qualquer nobre aceitaria de pronto. No entanto, Stefan era realmente relutante, mesmo sendo deslumbrado com a rotina da corte, a casa que receberia no vale da nobreza e o posto de conselheiro. Veio até si a informação de que até Yoren Boularge, o amigo de Austen, também ocupava uma das cadeiras já fazia uns meses. O convite adiantado tinha certamente esse objetivo, o do convite para o novo posto, porém nem assim Stefan conseguia se ver livre da dúvida se aquilo era um bom ou mau sinal para si.

E algo que fez muito durante sua estadia na capital foi andar e explorar os arredores, como método para pensar. Era diferente de andar na cidade em Mophet, de fato, e o relevo acidentado do litoral fazia parte disso, mas ele acreditava que Bnoot tinha seu charme. Ou, pelo menos, o potencial de desenvolver um. A cidade baixa era movimentada, barulhenta e, definitivamente, quente, principalmente nessa época do ano. A brisa que vinha do mar pouco conseguia penetrar para as áreas mais distantes do núcleo, e por onde passava deixava aquele aroma fresco e salino. Além disso, era aparentemente insegura, já que lhe foi aconselhado andar com pouco ouro e com um guarda pessoal caso transitasse dentro do núcleo urbano.

Pelos dias que esteve em Bnoot até o momento que os nobres começariam a chegar, Stefan havia elegido seus pontos favoritos na capital quando precisava pensar ou passar algum tempo com a própria companhia. O primeiro deles era a grande sacada aos fundos do palácio, aquela mesma onde era montada a feira ou então eram realizadas reuniões maiores, e que dava vista para o mar diretamente; o terraço era quieto e inspirador o suficiente até para evocar certa melancolia. Lá também parecia ser o espaço preferido da princesa Annelise, que havia começado lições de pintura e às vezes podia ser afeita a conversas. A princípio Stefan havia estranhado, considerando a reputação mais fechada que havia se formado ao redor da princesa, mas de certa forma conseguia visualizar uma relação neutra de convivência com ela. Falavam pouco, e muitas vezes se resumiam mais em comentar as futilidades da corte e seus residentes do que realmente engajar em uma conversação mais séria. Ela prometeu que lhe pintaria um retrato caso continuasse a frequentar aquele espaço, o que para Stefan já foi mais do que poderia esperar de abertura vinda da princesa.

O segundo ponto era a estrada em si, a que subia todo o planalto até chegar no palácio, possuindo como vista direta casas de nobres e também o bosque que se estendia até o Vale do Rei. Agradava-lhe muito quando podia sair com o cavalo e correr para dentro da mata, por entre o planalto florido, ou então estrada abaixo, para então poder passar o restante do dia na cidade. Essa atitude sendo claramente desconhecida e incomum para boa parte dos residentes, uma pessoa visivelmente da nobreza transitando entre eles, tanto era que mal sabiam como reagir a essa situação. Stefan havia aprendido a se acostumar ao cheiro do mar e ao grande fluxo de pessoas de Bnoot, completamente diferente do que se via mais ao interior.

E, por último, havia a Praia de Sal. Primeiramente, fascinaram-no as histórias que ouvira e lera na capital, sobre os peregrinos que atravessaram parte do oceano e chegaram até a praia, os peregrinos que formaram Astorya. Vez ou outra andava próximo da água a mentalizar como deve ter sido a visão que tiveram ao chegar aqui, além da situação dificultosa, coisa que sempre o fazia cair em uma quietude contemplativa. Era agradável, e sempre se sentia energizado quando tirava esse tempo; pensando dessa forma podia-se dizer que era praticamente um morador antigo da corte, com suas preferências e horários quase definidos.

A praia tinha uma faixa de areia relativamente estreita, areia essa que possuía grãos tão grosseiros que se assemelhavam a pedras que o mar trazia ao longo dos anos, que se separavam da falésia logo acima ou que vinham arrastadas pelo rio. De fundo, via-se a foz do rio Utis, porta de entrada e saída para as caravelas que movimentavam o porto, também visível do ponto de acesso onde Stefan se encontrava. E, claro, o palácio era outro ponto importante. Era majestoso e grandioso mesmo de longe, e passava bem sua mensagem; distante, inacessível, fora do alcance das mãos mas certamente dentro de qualquer campo de visão em um raio considerável.

O Forte das CalêndulasOnde histórias criam vida. Descubra agora