Capítulo 14

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O ar ao seu redor pareceu desaparecer ou, ao menos, se tornar irrespirável. Stefan paralisou, o mundo pareceu desacelerar e os sons se tornaram ecos. Parecia até mentira o que via, e por um tempo ficou encarando a mesa principal com a musculatura totalmente anestesiada.

Briana também pareceu atormentada desde que ouvira o nome do duque, e procurou baixar os olhos tristonhos para as próprias mãos, como se, por não visualizar a cena, ela não aconteceria. Também era visível a respiração pesada, numa tentativa quase desesperada de se acalmar.

Não fosse Genevieve puxá-lo com certa leveza e discrição, Stefan poderia facilmente ter ficado o restante da noite ali, com expressão e gestos congelados de descrença. Quando caiu em si tinha caminhado até estar de frente com o rei e sua nova noiva - parcialmente guiado pela irmã. Fizeram a reverência que mandava o protocolo e deixaram seus cumprimentos aos noivos, com visível pouca empolgação.

Dos que demonstraram felizes ou satisfeitos, dois se destacavam. O primeiro deles era Pietr Rutherford, tendo abandonado praticamente toda a expressão dura, trocando-a por um semblante que deixava claro seu contentamento com a situação. Afinal, conseguiu afastar a filha do Alastair e ao mesmo tempo seria o pai da rainha consorte, sinais que o auxílio e mais facilidades chegariam até Milin.

Ele mal pôde crer quando ouviu a proposta do rei aquele dia:

— Percebo que o senhor não ficou muito feliz com minha decisão para o conselho privado.

— Se vossa Majestade me permite a franqueza, não, no entanto confio no vosso julgamento de que é o melhor para o reino.

— Palavras vazias. Conheço o senhor bem o suficiente para não me convencer com elas. Sendo igualmente franco, tampouco me agrada tanto, porém tenho outros planos, e tenho certeza que o senhor poderá me ajudar.

Pietr foi atingido duplamente, sendo surpreendido tanto pelas palavras diretas e um tanto agressivas, quanto pela curiosidade plantada pelo fim da frase, a nova informação atiçando o seu interesse.

— Também percebi uma grande inclinação do novo conselheiro para a sua filha. Bom, ele próprio me confessou essa inclinação.

— Oh, sim, senhor, também o sei; mas enquanto eu viver não aceitarei ver minha filha casada com um herege amaldiçoado. Nem... nem mesmo se vossa majestade decidir defendê-lo a mim.

North não se conteve e riu, tanto pela franqueza decidida do duque quanto pelo aparente nervosismo que ele demonstrava em achar que contrariava alguma decisão sua. Mal sabia, na verdade, que pensavam parecido.

— Seria realmente um fato problemático. O senhor vê o que aconteceu com Louis Oaks, antes meu grande amigo, agora isolado completamente. Seria no mínimo triste ver uma donzela tão bem situada socialmente pôr tudo a perder. Porém, ofereci ao Alastair conversar com o senhor sobre a mão de Briana.

— Se a vossa intenção é de convencer-me a entregá-la a ele... — foi interrompido pela mão erguida do rei, espalmada para frente justamente como objetivo de fazê-lo parar de protestar.

— Eu não faria isso a um duque tão leal. Eu disse ao Alastair que conversaria com o senhor e, com efeito, conversamos agora, não? — voltou a sorrir com certa malícia no olhar, as mãos manipulando um cacho de uvas que os olhos encaravam, quase uma simulação de distração. — Tenho uma proposta melhor.

Pietr não se demorou em aceitar a oferta do rei, decisão que o permitia estar agora com o deleite estampado na face enquanto frequentava a mesa da família real e presenciava o phileu se esforçar muito em manter a compostura enquanto estava visivelmente quebrado por dentro. Para o duque das terras geladas, esse poderia ser considerado um dos melhores dias da sua vida.

O Forte das CalêndulasOnde histórias criam vida. Descubra agora