Capítulo 9

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As expedições de caça promovidas pelo rei eram de certa forma até notórias, e não era comum que organizasse grupos muito grandes para esse fim. Frequentemente havia alguém observando a movimentação da vida silvestre fora do núcleo urbano da capital, e soltava o aviso quando se via um ou mais dos animais mais cobiçados nessas expedições. O alvo da vez era um grupo de raposas, provavelmente uma família, desejadas e disputadas, de fato, e felizardos eram os adiantados em Bnoot para o festival. Antes mesmo do sol dar seus primeiros sinais já se encontravam todos reunidos na saída da ala norte, prontos para seguirem o curso do rio até o interior do bosque.

Por entre os cavalos passavam criados oferecendo aperitivos como desjejum aos nobres já montados e à espera do início da pequena jornada, além dos cães de caça que eram guiados à ordem pelos adestradores antes de efetivamente saírem.

Stefan, em meio àquela confusão de conversas paralelas e comentários atravessados, se encontrava, certamente, deslocado. Como era de se esperar, por mais que comprasse os favores dos duques de boa parte das regiões, dificilmente conseguiria comprar sua afinidade também, e mesmo depois de esforços ilimitados para integrar-se à corte, era novamente deixado sozinho quando em grupos maiores. E dificilmente ele conseguia ser audacioso o suficiente para se introduzir depois de tanta labuta por ser reconhecido enfim.

— Bom dia, Lorde Stefan. — O duque Yoren Boularge já se anunciava enquanto chegava, ainda não montado no alazão que conduzia pelas rédeas. — Meu rapaz, parece abatido, achei que uma boa caçada pudesse animá-lo. Sua Majestade ao menos parece empolgado.

Um criado se aproximou e ofereceu segurar as rédeas enquanto o duque montava, auxílio que foi aceito com cortesia; em poucos segundos Stefan e Yoren estavam à mesma altura, o que não alterou a percepção que o Boularge tinha do mais novo.

— Claro, será bom realmente. Apenas preocupado com outros assuntos.

— Fala sobre a cadeira na távola do conselho? — E sorriu com certo deleite à surpresa expressada pelo Alastair. — Achei que já estava acostumado ao fato de que em Bnoot as paredes têm ouvidos e as janelas têm olhos. Para ser sincero, julguei que a notícia fosse alguma forma de dissimulação do meu último informante, mas vejo que é verdade apenas pela forma que Lorde Rutherford o observa. Honestamente acho curioso que, dentre os poucos que devem saber do rumor, ele seja o mais reacionário. Sabes que ele almejava a posição. Vais aceitar?

— Prometi responder hoje à Sua Majestade. Ainda não sei se me sinto tão seguro para o posto. — Talvez pela primeira vez tenha expressado em voz alta a sua dúvida, percebendo Yoren abaixar os olhos, pensativo. — Há quanto tempo está ocupando a cadeira?

— Pouco menos de um ano. — Ele pareceu querer dizer algo a mais, porém apenas manteve a expressão mais fechada ao assunto. Era verdade que Lorde Yoren havia se afastado dos amigos nos últimos meses, e era visível que parecia abatido e cansado. — Não posso realmente direcioná-lo diretamente para lugar algum; mas saiba que se aceitar terá um amigo à mesa. É o que posso oferecer.

— Acha que não terei outros? Quer dizer, Mophet tem muito a oferecer e acrescentar ao reino. — a pergunta teve um tom mais retórico e preocupado que agressivo, já que um rápido olhar aos outros já se podia notar o julgamento recebido. Stefan fingia que não percebia, mas as pessoas de fora do seu círculo habitual raramente eram felizes com a presença do mophetan mesmo depois desses anos. — Imagino que seja essa a mensagem que Sua Majestade queira passar.

Yoren continuou pensativo, agora analisando algum ponto a frente. O duque de Austen possuía a fama de ser mais silencioso, quase um sábio, o que contrastava com as posições de seus amigos mais próximos, o duque de Hunk e o de Gorlog, por isso não era incomum vê-lo com esse mesmo ar pensativo, quieto, distante, porém algo dizia a Stefan que estava mais inquieto dessa vez.

O Forte das CalêndulasOnde histórias criam vida. Descubra agora