Capítulo 15

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Não deve ser preciso dizer que o clima da casa Alastair em Bnoot atingia seu ápice no que dizia respeito a uma energia fúnebre. Certo, então não direi. Stefan procurava lidar com o embaraço e o peso do remorso da melhor forma possível, e sinceramente agradecia ao menos ter a companhia da irmã, apesar dele não parecer demonstrar tanto assim essa gratidão. Genevive, por sua vez, lutou o máximo para que as perspectivas de futuro que possuía não a derrubassem de vez em um poço profundo de melancolia, passando pela primeira vez na vida por um estado de fingida plenitude. Tentou construir uma rotina útil, mal reparando que mascarava todo seu desânimo com atividades em excesso. Organizava os jantares na casa - mesmo que modestos, já que só haviam os dois - treinava no piano e encomendou um violino para aprender a tocar, costurava e bordava o próprio enxoval - atividade que menos lhe era prazerosa, portanto atrasada em seu andamento -, aprendia jardinagem e lia sobre as plantas do litoral, e como se isso tudo não fosse o bastante se colocava como apoio emocional para o irmão.

Chegou a começar a escrita de duas cartas para James que, antes de ser sua grande paixão, era seu melhor amigo. Por isso parecia razoável que desabafasse. Mas ambas foram descartadas assim que escrita a primeira frase: tinha prometido a si mesma que o deixaria ir, e tinha medo que ao enviar suas lamúrias apenas alimentaria um senso de bravura no rapaz. A carta escrita para Diana Soren também nunca foi enviada.

O príncipe Leon apareceu em duas ocasiões antes de uma viagem, ocasiões usadas para cumprir algum protocolo dos cortejos. Genevive preferia que ele não viesse. Na primeira vez, quando chegou, ela plantava margaridas junto do jardineiro da casa, e o noivo protestou dizendo que mulher sua não poria mãos na terra, e era melhor não continuar com atividades do gênero. Na segunda mal lhe deu atenção de fato, ficando os dois mais Stefan em um chá silencioso. Quando oferecia qualquer olhar à noiva, era de um tom quase esfomeado e ameaçador que sempre a assustavam. Era difícil da jovem criar qualquer desavença com alguém, mas para ela o príncipe era simplesmente detestável. O que não ajudava em nada o seu humor quanto ao casamento.

Além das notícias aterradoras e os momentos de silêncio sofrido por parte dos dois, a primeira semana dos irmãos Alastair traria mais uma surpresa, e ela viria agora, um ou dois dias depois do banquete de noivado.

Era manhã cedo quando apareceu no vestíbulo um mensageiro do castelo, sendo então conduzido até a sala de estar onde estavam os patrões. Não era incomum que aparecessem mensageiros desse tipo, contratados especialmente para enviar recados rápidos às mansões do principado, e por isso houve pouco alarde por parte do duque. Ele lia a correspondência vinda de Mophet enquanto Genevive bordava flores em um lenço qualquer, totalmente alheia ao anúncio.

— Com sua licença, Excelência, senhorita, mas tenho uma convocação vinda da futura rainha consorte, Lady Briana Rutherford... — Stefan rapidamente ergueu os olhos, com a curiosidade atiçada e uma faísca de ansiedade. — ... para a senhorita Genevive Alastair de Mophet.

Foi a vez dela tirar os olhos do que fazia, tendo até furado o dedo desprotegido, sem compreender. Ela e o duque se observaram por um momento, como se eles se questionassem o que poderia ser essa convocação. Perguntaram se havia algo a mais no recado, questão a qual foi respondida com uma negativa.

— Claro, pode ir sim. Leve Victor com você, não acho que seria de bom tom eu escoltá-la. — foi um pouco mais racional nesse momento, e a loira entendeu a sutileza dessa esquiva. E mandá-la sozinha não era aconselhável. Victor, um dos soldados de Mophet, foi chamado e rapidamente se apresentou.

Recolhendo as cartas e observando a irmã sair em direção ao castelo, Stefan notou que ela olhava de volta para casa, como se o procurasse em busca de alguma fonte de confiança, mas ele mesmo estava perdido com o que poderia ser esse chamado.

O Forte das CalêndulasOnde histórias criam vida. Descubra agora