O Forte das Calêndulas

Capítulo 17

Querida Jasmine,

Não sei se já terá recebido as últimas notícias de Bnoot antes dessa carta, porém bem sei como histórias com teor dramático e trágico conseguem alcançar velocidades inexplicáveis a qualquer ser humano que já tenha pisado nessa terra. Em todo caso, tanto eu como Genevive fomos alvos de uma empreitada articulada e pensada por nossa fatalidade; um ataque em minha casa e uma tentativa de invasão nos aposentos de nossa irmã, dama de companhia da rainha, em pleno palácio. Estou de boa constituição, é por isso que escrevo. Por razões adversas naquela noite não estive em casa, e fui confundido por um criado que, ignoro o que fazia em meu quarto naquele horário, recebeu a investida em meu lugar e hoje descansa com os espíritos. Quanto a Genevive, também está bem e vigiada de perto; tanto ela quanto a srta. Kraminik possuíam o bom senso de trancarem-se na habitação quando se recolhiam, e foi essa atitude que salvou a vida de nossa irmã.

Acredito que, quando estiver lendo essa carta, já estejamos em retorno apressado para Mophet; sendo assim, se voltar a escrever, deverá enviar a correspondência diretamente para lá. Dadas as circunstâncias, e o que aprendi em Bnoot, tenho motivos o suficiente para apontar o responsável por todas as desventuras que assolaram o espírito de nossa família; digo, o responsável além de mim, que fui conivente e receptivo quanto a tudo que me foi lançado até o momento. E, com todas essas informações, tenho como certo que Bnoot não é, e nunca foi, um lugar seguro para nós da casa Alastair.

Estendo a minha preocupação a você, ao marido e às crianças, além da sogra que compartilha residência consigo. Recomendo que fechem a casa e cerquem-se dos mais confiáveis guardas que puderem reunir, ao menos enquanto a desconfiança ainda reina. Podemos conversar melhor quando nos encontrarmos pessoalmente o que, eu espero, seja em melhores momentos.

Seu eternamente fiel irmão,

Stefan Alastair, duque de Mophet.

P.S.: Sinto que devo, e sempre carregarei essa dívida em meu coração, pedir o seu perdão; tenho em minha conta que apenas um pedido não parece suficiente para suprir a desconfiança que depositei em seus conselhos, mas espero que seja o bastante para, ao menos, declarar minha intenção em mudar minha conduta.

Essa era a primeira carta que sairia de Bnoot na manhã seguinte, quando ainda era noite, em direção a Morox. Stefan pediu que o mensageiro fosse o mais rápido que conseguisse, cedendo-lhe até um pagamento mais generoso que o costume. Genevive recebia, também, mensagens secretas de Yoren avisando da partida, e a sua carta à Briana e Tris foi decididamente mais curta, porém não totalmente desprovida de emoção:

Sinto muitíssimo ter de abandoná-la, majestade, e espero que entenda minhas razões para tal. Deve imaginar que tanto minha segurança quanto a de meu irmão estão em risco desde que viemos para cá, e esse risco tomou proporções grandiosas nos últimos dias. Não entro em detalhes no momento, mas deve imaginar que não posso mais permanecer em Bnoot por muito tempo. Saiba que a estimo com todo meu coração, e serei eternamente grata pela oportunidade de conviver com a senhora e com Tris, mulheres que fizeram dos meus dias na corte menos sofríveis. Espero poder escrever-lhe novamente no futuro,

De sua amiga e serva leal,

Genevive Alastair

Deixou o bilhete na penteadeira de sua majestade, e foi escoltada por dois guardas de Austen, ocultando-se por uma capa com o capuz puxado completamente sobre a cabeça, além de ser levada numa carruagem usada pelos criados. Assim Stefan ganharia tempo até perceberem que tinha ido embora. Ao alcançar a mansão, inclusive, ele já o esperava a postos para saírem. Em meio à escuridão, assim, corria a caleche de pouco esmero, nenhum ouro e, no máximo, assentos com algum estofado. Genevive não havia notado até agora, mas tremia desde o momento da caminhada pelo castelo até estar ao lado do irmão; e fez questão de sentar-se ao seu lado. A viagem de volta também foi feita em silêncio, porém havia nele um teor muito mais fraternal, já que sem comunicação verbal alguma eles se conectaram em um abraço lateral em parte do trajeto.