Capítulo 2

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Como era fim de inverno, parte das festas de novos ciclos já haviam cessado na corte por algum tempo, o que de certa forma foi um alívio a Stefan, considerando que provavelmente teria de comparecer aos festejos para oficializar seu retorno à Astorya e seu posto como novo duque. Sendo assim preferiu passar os próximos três ou quatro dias a refletir parado nas dependências do cemitério da família, em frente ao túmulo do pai, com o pensamento de que talvez compensaria a sua ausência filial apenas compartilhando momentos pós-morte. Ao longo desses dias, quando Stefan se mantinha prostrado ali, em pé ou sentado em um dos bancos de pedra, observavam-no curiosas e preocupadas Jasmine e a srta. Nunty, sempre repelidas pela rudeza do mais novo mestre.

A rotina baseia-se, então, em encontrá-lo ao desjejum e não mais vê-lo até o fim do dia, quando se enclausura dentro do escritório e por ali trabalha em se acostumar aos ofícios básicos de duque até estar farto, geralmente até horários avançados da noite. Nota-se que o inverno se findava, e, mesmo sendo incomum, as últimas nevascas se estenderam, prometendo um degelo problemático e uma primavera úmida; porém o mau tempo não impedia as visitas pragmáticas do jovem ao exterior, que mais de uma vez retornou à casa com gelo acumulado nos ombros, a pele gélida e os cabelos molhados. Tudo para reprimir a irmã aflita ao tocar-lhe os dedos com as pontas azuladas e frígidas. Pedia apenas o fogo aceso e roupas limpas no escritório.

Sendo assim, completamente insatisfeita com a nova rotina de comportamento adotada pelo irmão, era Jasmine quem se irritava cada dia mais.

Decidiu nos primeiros dias deixar que permanecesse enlutado, oferecendo algum suporte que foi rapidamente negado; porém, conforme os dias passavam e as coisas não mudavam, genuinamente se preocupou com a saúde do irmão. Depois de terminar uma carta endereçada ao marido no Solar de Morox, saiu com o capuz puxado à cabeça em direção ao cemitério Alastair. A área não estava em seu melhor momento de conservação, e a neve recente trazia um ar ainda mais mórbido e triste, em uma sobriedade rude e inconveniente demais até mesmo para aquela ala da propriedade, que comumente exibia flores coloridas e um zelo revigorante dos moradores do casarão para com seus antecedentes. Stefan era uma figura que destoava da paisagem branca e cinza, com a sobrecasaca escarlate de material pesado, perambulando pelos túmulos.

Jasmine se aproximou da figura, sendo percebida sem muitos problemas, e observada pela intrusão no momento introspectivo do mais velho.

— Lamentar-se não o trará de volta, tampouco irá restaurar os anos perdidos. — Decidiu ser firme, por mais que não tivesse certeza de como ele reagiria a esta postura. Arrumou as luvas e a capa sobre os ombros, reparando ter o olhar alheio em si. Observou o irmão retrair-se novamente, como se ponderasse no que deveria dizer, para depois retornar.

— Você não entenderia. Não está com o peso de um ducado enorme para comandar, e sem saber exatamente o que fazer.

— No entanto, não me parece que você também tenha esse fardo; por favor, Stefan, voltemos para casa. Aqui fora é frio e úmido, ainda ficará seriamente doente por conta dessas suas andanças pelo terreno — Talvez estivesse mais crente do que deveria que Stefan acataria às súplicas, já que começou seu caminho de volta até a casa, parando ainda nos primeiros passos. Retornou ao mais velho, fazendo menção de tocar-lhe o ombro, mas desistindo no meio do caminho — Tenha um pouco de senso e amor pela própria integridade, meu irmão, e volte comigo; escreveu-me Genevive e diz estar ansiosa por vê-lo novamente. Lembra-se dela, imagino, apesar de estar com apenas oito ou nove anos quando...

— Cale-se, Jasmine! Esse falatório todo, é como se os mortos não pudessem nem descansar! E ainda transtorna a mim, que além de teu irmão agora sou teu soberano. Estou farto das tuas palavras.

— Assim me ofende, irmão. Podemos deixar que os mortos descansem e cuidar dos vivos. Poderia me ouvir uma vez sequer, como fazia quando era mais novo.

O Forte das CalêndulasOnde histórias criam vida. Descubra agora