Capítulo 18

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Já fazia tanto tempo que Stefan não se via por aqui que praticamente se estranhou quando se viu novamente caminhando pelo mesmo bosque enevoado em busca da mesma clareira. Afinal, a última coisa que se lembrava - se é que se lembrava de algo claramente -, era de não conseguir pregar o olho na cama, de caminhar ao longo do quarto e... mais lógico seria pensar que adormeceu na poltrona de apoio outra vez, mas não era o momento para pensamentos lógicos.

A verdade é que quando caiu em si de onde estava sentiu-se num turbilhão esquisito para um sonho. Era um misto de aflição, medo e excitação por estar de volta, e a mente adormecida forçava-se para tentar lembrar de alguma consideração que deveria ser importante, quem sabe dita por Genevive, mas que não conseguia recuperar no momento. Iniciou sua pequena peregrinação, também temeroso do que poderia encontrar no destino final. Os sonhos já lhe renderam surpresas demais para uma vida só.

O ipê já rotineiro estava, dessa vez, quase que completamente desnudo de suas flores; estas, jazidas no chão, cobriam os pés de Stefan quando se aproximou do tronco. Partes da madeira descascavam, porém era visível que ainda existia um interior forte e firme, que aquela árvore tinha ainda chances de viver para ver e florescer mais um inverno.

— Eu nunca tinha visto este ipê tão vazio, tão... desolado. — a voz tirou Stefan de sua contemplação silenciosa, fazendo com que se virasse no próprio eixo para ver a figura cintilante da mãe outra vez. Imogen tinha um semblante especialmente abatido, e tocava a árvore com um carinho singular, a delicadeza na palma das mãos. — Mas fico feliz que tenha voltado, filho. Preciso mostrar-lhe uma coisa.

Segurou o rapaz pela mão e o guiou até o outro lado da clareira, onde, em meio a toda a neblina que dava ao solo um ar úmido acima do normal, havia dessa vez não um, mas uma série de túmulos espalhados por todo o terreno. Epitáfios de pedra em uma linguagem simbólica e incompreensível transformaram aquela dimensão, antes mágica e confortável, num cemitério sombrio e funesto.

— Quem são?

— A maioria são ocupações futuras, lugares reservados aos vivos em um futuro próximo; já outras foram recentemente preenchidas. Mas todos eles, sem exceção, são meus filhos, e não resta agora a uma mãe além de chorar por seus filhos que se foram.

Stefan sentiu novamente aquela coceirinha interna na cabeça, como se precisasse urgentemente se lembrar de alguma coisa que não conseguia no momento. No entanto, seguiu a caminhada. Passava os olhos para tentar decifrar algum nome, alguma informação, qualquer coisa que pudesse reconhecer dentre aqueles memoriais de pedra enterrados no chão. Nada, a busca era totalmente em vão.

Os já preenchidos, certamente, foram ocupados durante o ataque a Mophet.

— É tudo culpa minha. Eu causei, e provavelmente serei quem irá causar todas essas mortes.

— O seu pai adiou o inevitável, e mesmo àquela época esse bosque encheu-se de tristeza. Fosse com você, fosse com seus filhos, ou os filhos de seus filhos, estamos fadados a algum momento de desolação.

— Então tudo ficará pior? Seremos todos mortos?

— Não perca as esperanças; você é a inspiração e a força do nosso povo: é em você que eles acreditam, e é em seu nome que eles vão agir, se se sentirem instigados a sobreviver.

Stefan estremeceu. Ora, claro que sabia disso, mas nunca poderia pensar que em seu período de governança esse conceito seria levado tão ao extremo. Andando mais um pouco, pôde ver a primeira das lápides que tinha visto, meses atrás, aquela em que reconheceu o nome Alastair e julga ser a sua. Não pôde evitar sentir o braço arrepiar ao vê-la novamente, tão intacta e intocada quanto da primeira vez.

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⏰ Última atualização: Jan 12 ⏰

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