Coroas caídas

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*Em Pointsville*

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*Em Pointsville*

Cathenys Streager estava morta. Ao menos, era o que todos diziam depois de um ano de seu desaparecimento. Nem a rainha, nem o príncipe Pater, foram vistos desde então. A essa altura, pelos cantos já corria a possibilidade de se tratar de um sequestro, fora isso, cada um formatava suas próprias teorias. Murmurinhos de revolta vindo dos caídos contra o atual regente, era assunto de longas horas no enorme conselho. Ninguém sabia ao certo o que os caídos poderiam estar planejando, além dos vários boatos vindo por meio de derrubados. Por tais motivos os rules decidiram instaurar na igreja cinza, um grupo formado por três religiosos que ficariam responsáveis por alimentar a esperança dentro do reino a favor da coroa. Eles se intitulavam como as "três vozes" emoção, razão e direção. Frequentemente apareciam nas reuniões do concelho sem aviso prévio, dando seus pitacos inúteis, como se fossem parte dos rules, foi necessário uma vez que Braze pusesse-os em seu devido lugar, por meio a ameaças de forca, impedido apenas por Alexandre. Segundo o próprio rei, que não se expressava com as atitudes vindas dos intrometidos, ele afirmava que eram apenas "idiotas, falando idiotices".


Comentando sobre sua majestade, foi visível sua insatisfação em relação ao paradeiro da rainha. Na primeira oportunidade que teve de sentar sobre o trono, não aguentou mais de quinze segundos, saindo da sala expelindo o desjejum pela boca, acompanhado de volta a seus aposentos pelo Domine de sua esposa. Sua presença fora de seus aposentos se tornou cada vez menor, quase nula, as poucas vezes que saia estava acompanhado de uma garrafa de vinho. Boatos maldosos afirmavam que além da garrafa o rei era acompanhado por uma mulher da taberna local, que tinha os mesmos traços de Cathenys. Não era difícil ver mulheres tentando se parecer com a rainha. Após a suposta viuvez do rei, as filhas dos rules automaticamente começaram a se vestir de forma bastante chamativa, com os maiores e belos véus, junto de colares, adereços e muita maquiagem. Por sorte, alguns criados acabaram por desmentir dizendo se tratar apenas de Nora o carregando de volta para seus aposentos, saindo dez minutos depois de fechar a porta.



E lá estava sua majestade, encarando o céu cada vez mais claro, tornando-se laranja conforme o sol insistia em começar mais um dia. Tinha metade do corpo coberto pela varanda de pedra. Tenho certeza que caso houvesse confirmação da morte da rainha, subiria no parapeito e deixaria seu corpo ser levado pela enorme ventania. Pela primeira vez o imprevisível Belchior estava perdido. De repente, o regente começou a bater na rocha freneticamente, descontando sua raiva acumulada, chegando a assustar um criado que observou a cena do andar debaixo. Acabou relatando que mesmo com o líquido vermelho saindo da palma de suas mãos, o rei continuava a se ferir, parando somente com uma gota de água salgada saindo de seus olhos, secando-a como se a colocasse novamente para dentro.



- Não vale a pena... - Nora chegaria por trás invadindo o recinto. Seu médio véu bege, cobria parte dos exuberantes cabelos ruivos, como parte ainda da moda de Pointsville. A tonalidade de seus fios era comentada por todos do palácio, o tamanho da beleza da rainha, era do tamanho da beleza dos cabelos de sua criada. Com o tempo, compartilhando da mesma dor, Nora e Belchior acabaram por desenvolver algum tipo de relação afetuosa. Não era difícil ver através dos corredores, que os únicos que tinham a honra de permanecer mais de meia hora ouvindo a palavra do rei, era ela e o Domine Meadox. A mulher segurou nas palmas das mãos do regente, retirando um pano branco do bolso camuflado de seu vestido e começou a deslizar o tecido sobre o sangue do mais novo, limpando delicadamente a vermelhidão, recebendo em troca apenas um "obrigado". - Sinceramente, não sei mais o que devo fazer. Meadox está revirando pedra por pedra, Mykal não é vista a meses e ainda somos obrigados a ouvir os inúteis concelhos das vozes. Então me diga, o que devo fazer se nem um rei presente nós temos? - Ao ser questionada sobre o que gostaria que o regente fizesse, ela se aproximou com os olhos mais arregalados que o normal. - Quero que tome vergonha em seu rosto e assuma o que é seu por direito. Dane-se que muitos não estão de acordo, você casou com ela, sabia dos deveres que seriam entregues a você. Pointsville já teve um período de ouro e sei que vocês dois são os únicos monarcas que um dia conseguirão reerguer esse reino... se ao menos tivéssemos alguma pista. - Abaixava sua cabeça encarando o chão cinza que jogava poeira para sua saia por meio dos enormes ventos. Não durou muito tempo naquela posição, se tinha algo que Nora não fazia era abaixar sua cabeça, durante todos os anos com registros sobre ela, sempre a descrevem olhando para cima. - Vasculhe durante essa semana, se motive de novo, se não encontrarmos sequer um fio de cabelo... encerramos a busca.

- O que poderá ter de diferente essa semana Nora? Todos já estão desmotivados. Eu sei que tem esperança em nós dois mas olhe só... Pointsville vai cair cada vez mais, o Continente sabe quem faz seu equilíbrio. - Ele dizia segurando com a ponta de seus dedos nos ombros da mais velha, tocava-a como se fosse um objeto que o machucaria se continuasse por mais de dois segundos. Era uma sensação estranha para o homem de cabelos brancos, ter uma espécie de mãe. Mas com certeza nesse tempo, essa não foi a única sensação estranha que sentiu, a ausência de sua esposa o causava estranheza e repulsa por qualquer outra mulher que não fosse Cathenys.

- Dessa vez será, eu entrarei nas buscas... - Assim como Cathenys, Nora também tinha seus planos, surpresas e contatos especiais, a busca em Pointsville já havia se tornado pacata demais, era hora de procurar novos recursos.

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