Fogo de Couro

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*Pov: Cathenys*

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*Pov: Cathenys*

Achei que jamais teria esse problema de novo, voltar ao passado de uma forma tão trágica, dessa vez com meus filhos. Alexandre e Belchior já estavam sentados um ao lado do outro, esperando qualquer notícia. Eu estava atrás de todos enquanto ouvia seus lamentos, observava o fogo ainda em transe. Não sabia o que pensar ou falar, era como se eu estivesse congelada, porém dessa vez, eu descobriria os culpados, a todo custo. Me forcei a sair daquele estado quando finalmente a babá de Myrcel saiu de lá de dentro, minha filha foi entregue aos meus braços com toda a calma e atenção do mundo. Seu choro fazia com que eu ficasse cada vez pior, sendo forçada por mim mesma a entregá-la nos braços de Nora, que rapidamente a acalmava. Belchior parecia observar Myrcel de longe, era bonito ver preocupação em seu olhar com alguma coisa que não fosse ele mesmo. Meus pensamentos foram interrompidos pela babá de Israly e Joung saindo de lá gritando. Quando ela viu meu rosto confuso foi até mim, segurando em meus braços com força, seu rosto tinha algumas queimaduras feias, os guardas presentes nos cercavam junto a Belchior, que segurava o cabo de bela dama e Alexandre que nos olhava confuso.


- Onde estão meus filhos? ME DIGA! - Minhas palavras estavam em tom de suplica, enquanto sacudia meus braços fazendo o corpo da outra mulher tremer. Em um loop diversas vezes, ela falava: " Me perdoe majestade, me perdoe senhora, me perdoe". - Por favor me diga! - Disse começando a trincar os dentes sentindo minhas lágrimas caírem, com uma delas caindo de meu rosto até a grama quando ela balbuciou "Estão lá dentro". Como um ato de desespero, Belchior e Alexandre correram até quase a porta de entrada para a escada do salão, sendo segurados por um muro de guardas antes de entrarem, enquanto berravam o nome dos meninos. Alexandre era segurado por dois homens e Belchior era pelos cinco mais fortes de Pentese. Fiquei por um tempo encarando o fogo queimar aquele salão quando me virei para olhar Nora, que estava colocando Myrcel nos braços do pai de Thera, em poucos segundos nossos olhos se encontraram. Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, apressei meu passo, começando a correr ultrapassando Belchior e Alexandre que ainda eram segurados, pude sentir rapidamente a mão de Meadox raspar a manga de meu vestido. Dessa vez, eram ouvidos os gritos de Nora chamando meu nome desesperadamente, sendo segurada em cada braço por Belchior e Meadox.


Acho que nunca me vi tão de perto do que aconteceu no Salon de minha mãe. Ouvia seus gritos de novo enquanto o fogo se espalhava cada vez mais por seu corpo, eu não deixaria que aquilo acontecesse com meus filhos. Andava com minha cabeça o mais baixo possível tossindo a cada vez que adentrava mais o salão, com olhos ardidos pelas claridade das chamas.

Devo ter berrado o nome deles por três minutos, não aceitava o fato de que daqui a pouco, eu teria que sair dali. Como conseguir ir embora sabendo que tem a mínima chance das coisas mais valiosas estarem em algum lugar, ainda vivas? Já estava borrada de cinzas em meu rosto, me deixando com a aparência de um caído. Ouvi o grito de Israly de uma das várias salas, fazendo com que eu me recostasse na porta de onde viria o som deixando um suspiro de alívio sair, me apoiando na maçaneta. Abri a porta me deparando com a cena das duas crianças se segurando, enquanto se apoiavam em um criado mudo branco, com um pedaço de madeira na frente da passagem. O indicador de Israly estava vermelho, provavelmente devido a ter encostado em alguma chama, enquanto ouvia seus barulhos de desespero, mordia meus lábios de nervoso. Joguei longe o pau de madeira, torcendo para que nenhuma farpa fosse fisgada em meu dedo. Um alívio instantâneo veio ao sentir o peso de seus corpos sobre o meu, segurando na saia de minha roupa. Sem tempo para falar, os cobri com meus braços começando a correr para sair dali. O chão parecia mais quente, piorando a situação quando uma das estantes caiu em nossa frente, nos fazendo desviar do caminho inicial. Fui obrigada a tampar os olhos de ambos quando vi um dos corpos de uma criada ainda queimando quando ela já estava morta, me fazendo arrepiar de temor. Era triste e comovente como algo tão bem calculado poderia pegar fogo do nada, desolador ver uma das criações do falecido pai de Belchior se arder em chamas. Perto da porta de saída, avistei um último pedaço de cortina cair ao longe, estampado no tecido, um pássaro azul sobrevoando, encarei aquele pedaço de pano por certo tempo com espanto. Eu acreditava que Pater seria capaz de coisas impossíveis, mas não pôr a vida de crianças em risco, minhas crianças. Sinto que meu olhar mudou naquele momento, como se eu estivesse pronta para matá-lo mas não pudesse. Eu tentava raciocinar, tentava pensar em milhões de possibilidades, mas era impossível alguém ter entrado lá dentro, havia somente uma hipótese que eu fazia questão de averiguar sozinha: um traidor estava entre nós. Eu amaldiçoava o pano de todas as formas possíveis e inimagináveis em meu pensamento, somente parando com uma série de tosses vindas de Joung me fazendo apressar o passo para sair dali. Finalmente nossa silhueta pode ser vista pelos que estariam do lado de fora. Longe suficiente do fogo meu corpo caiu na grama sem forças para continuar a andar, sentei na grama com os garotos me abraçando, permitindo que eu acariciasse seus cabelos.

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