*LOUISE*
Sempre que termino esse tipo de interrogatório vou até a capela do Palácio, mas estou fora de casa, faço ajoelhada no quarto. Sinto peso na consciência, sempre lembro que aquelas pessoas atentaram contra alguém que amo, fica menos pesado. Sei que não vou descansar quando partir desta para a melhor e irei pagar por todos os terríveis pecados.
A dois dias longe e sinto saudade de casa. Parece uma eternidade, estou ansiosa para a hora que eles chegarão, pedi para trazer Emily e junto minhas bagagens de noivado e núpcias, a segunda mala não importa, Gregory não terá o que quer tão cedo, ainda mais se conseguir alguma ideia para burlar a prova de sangue. Meu corpo ainda dói da batalha, cheio de feridas e hematomas, meu antebraço está inchado, aquele infeliz atravessou a faca com tudo. Nas costas fiquei aliviada pela faca daquele estrume ser curta e não atingir nenhum órgão vital.
Encontrei Kay e os outros recentemente, estão ótimos.
Alguém bate na porta, quando abro, inundo de felicidade. Emily encara com seus olhos de biloca, parece tão feliz quanto eu, começamos a pular e soltar risinhos eufóricos como duas crianças.-Aaaaa Emi, estava com tanta saudade. Estava sentindo reprimida neste lugar sem cor. –
observamos juntas as paredes do castelo, algo bem rústico, em tijolos escuros, móveis de madeira polida com detalhes feitos de ouro.-Aqui a decoração e estilo são um tanto grosseiras não? –
Concordo com um gesto de cabeça e a explico que eles preferem mais simples assim pelas constantes guerras, fica mais difícil roubar muita coisa de valor caso perca. Diferente de nosso Palácio aqui é tudo pensado em guerra.-Emi, acha que consigo burlar a prova de sangue?-
Vira pasma e cora, nunca tínhamos conversado sobre e era constrangedor imaginar o que acontecia mesmo minha mãe tendo falado comigo.
-Acho impossível, como vai colocar sangue no lençol, imagina qual será a reação do príncipe? –
Ele não é louco para forçar a ter intimidades, viu do que sou capaz e sabe que vai dormir todos os dias ao meu lado, mesmo que escolhesse dormir em outro quarto tem consciência que o pegaria. Cômico pensar assim, mas não quero que aconteça, sei que uma hora teremos que ter filhos. Nunca cheguei a pensar nesse ponto, na parte dos gran finale.
Emily implora por descanso, sem chances de recusar seu pedido. Vou conhecer o restante do castelo, não tive a oportunidade. Como salientou, tudo muito rústico, entretanto, admito sua beleza. As salas são gigantes, maiores que as do Palácio, as janelas vão do chão ao teto, tem vitrais em algumas partes. Esculturas de formas humanas que nunca vi na vida.
Levo um susto ao entrar no corredor e dar de cara com uma, o coração quase pula para fora do corpo. Mais a frente tem outra, noto sapatos escondendo-se. Com um pulo, Gregory aparece.-Aí seu idiota, quer me matar de susto? Poderia ter te matado. –
Encara meu rosto e mostra algo que escondia nas costas, a adaga que pedi para devolver, já havia esquecido que estava com ele.
-Como? Se estava sem a adaga.-
A vontade de rasgar esse sorriso da boca dele, parece um palhaço.-Não necessito de uma adaga para ceifar sua vida, meu amor.-
A última palavra o faz cerrar os olhos e sinto obrigada a explicar o uso irônico.
-Se não entendeu, foi uma ironia.-
Pego a adaga de sua mão e sigo para o caminho do quarto, de surpresa sou pega por braços, mãos fortes tapam minha boca e Gregory pede para que faça silêncio. Contra vontade caminhamos até uma sala muito mais ampla que as demais, tem várias obras de arte. Quadros lindos, vislumbrei de rabo de olho que ele sorria igual a um bocó, resolvi olhar diretamente e estava em frente a pintura de uma mulher. Esta era estonteante, parecia que estava viva e poderia mexer e comunicar conosco a qualquer momento. Não fazia ideia da identidade daquela senhora, mas sentia a admiração dele ao observa-la. Será essa a mulher que o irmão disse que ele não superou? Aproximava a hora do anúncio de noivado, agradeci pelo passeio rápido e fui me arrumar.
Emily faz milagres, ganhei de presente um vestido longo cor de creme, tem uma calda curta. É esplêndido. Meus cabelos estão em um coque desconstruído combinando com a coroa de pérolas brancas. Salto fino, sábio, bom gosto ele tem, ao menos isso.
- A senhorita está deslumbrante, Alteza. Espero ter conseguido deixar o cabelo a seu gosto.-
O espelho mostra uma garota diferente com a de dias anteriores, sinto outra pessoa nesta noite. Incomoda os ferimentos estarem a mostra, está feio de ver essas suturas.
Desço a escadaria para o local, um jardim gigante acoplado a um salão onde será oficializado o noivado. Escuto cochichos em minha direção, o local afunda em êxtase quando Katherine desce as escadas, seus cabelos estão soltos em cachos, o vestido rodado, arrebatadora, tenho que admitir. Aguardamos sorrindo, de minha parte é forçado, de Katherine é espontâneo. Gregory e Dominic notam nossa presença e guia-nos a mesa devida aos noivos, os reis e rainhas ambos celebram em mesas separadas, incrível como pensaram em tudo.-Radiante seria simples para um elogio, creio que sejam insuficientes os adjetivos capazes de expressar a sua beleza nesta noite.-
Raramente recebo elogios de rapazes, os anciãos não valem. Com um beijo suave na mão, Gregory oferece uma taça.
Em instantes papai irá discursar ao lado do outro rei para enfatizar a união que acontecerá nos dias seguintes. A pouco esqueço dos ocorridos, tenho que ver com meus próprios olhos os túmulos de Henry e Salete. Assim que retornar ao Palácio providenciarei a abertura, desrespeito aos mortos nunca foi meu forte.-Alteza, com sua licença, necessito de alguns instantes.-
Reverencio e vou ao toalete, soou frio, minhas mãos gélidas. O nervosismo ataca e agora o corpo inteiro percorre por calafrios. Ligo a torneira para passar um pouco de água no pescoço, já não estava bem e esse ambiente ainda está deixando a desejar com forte odor de urina.
-Tranquilo por aqui, Alteza? –
Este homem é igual ou pior que uma doença contagiosa.-Mais que tranquilo, Alteza. -
Esse olhar, é penetrante. Sem hesitar puxa minha cintura para si, colando nossos corpos, arfamos de tão próximos a um passo de gerar catástrofes, mas não há porque, seremos marido e mulher em poucas horas. Meu corpo todo está dolorido, com essa puxada então, sinto algumas suturas abrirem.
-Sem dúvidas é inapropriado estarmos aqui no toalete feminino, tão próximos e sozinhos. É sábio voltar ao salão.-
Saio primeiro pedindo para que espere alguns minutos. Sorte, nunca acreditei, mas a parede de cristais que separa o toalete do salão, nesta acredito, nunca saberão que entramos no mesmo.
Anunciação do noivado estava começando, papai subia no palanque acompanhado dos demais. Oficializou e em uma hora tinha finalizado, o cansaço tomava conta de meu corpo, que estava encoberto por calafrios. Agora entendia o porque dos olhares, estava destruída, o maxilar arroxeada, antebraço enfaixado, as costas com pontos a mostra. Concordo que apenas os trajes e joias salvaram o visual, a aparência estava duvidosa, dane-se, aqui presenteio a melhor versão a eles, estão a salvo por nossa conta. Sinto a delicadeza quando Gregory ajoelha em minha frente e procede o pedido oficial, antes achava que sentiria algo mais tosco, como raiva, desdém. A delicadeza que colocou o anel fez sentir angústia, ansiedade e medo.
Emily aguardava ansiosa para saber de tudo, mas assusta ao me ver cambalear para dentro do ambiente. Sinto que meu corpo vai desmoronar e em um flash de segundos o mundo apaga.-Alteza! Você está ardendo em febre, suas feridas devem ter infeccionado, precisamos tratar urgentemente.-
Em instantes aparece, uma das mãos segura um pilão, ervas e mais faixas. Depois de trocar as bandagens e limpar os ferimentos, ela mesma vai até a cozinha do castelo preparar uma infusão de ervas para tratar. Quando retorna segura um bule, uma xícara e pequenos frascos, com agilidade mistura com precisão e pede para que eu esforce para beber tudo. O gosto horrível que esse negócio tem, parece que estou bebendo uma bolota de cocô de cavalo com chá.
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Princesa de aço
Teen FictionLouise Morvian é a segunda princesa de Sartagon, sua família está envolvida em diversos conflitos de interesses e para salvar seu povo aceita um acordo comprometedor, o que não espera é se apaixonar pelo pirralho de Bápolis a quem ela jurava odiar...