CAPÍTULO 12: Noite de núpcias

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*LOUISE*

A festa prolonga a madrugada, meu corpo mal aguenta ficar de pé. Tento levantar do banco sem sucesso, até que braços fortes me pega e reconheço o toque familiar, é Gregory. Embora sinta desgosto de assumir, ele é forte e muito bonito.
O corpo é másculo e desenvolvido, seu sorriso é impecável e seus olhos queimam de desejo. Está enganado se acha que me tomará como sua hoje.
No quarto que deveria ser chamado de "nosso" minhas coisas estão organizadas, não tenho ideia se as dele também estão no mesmo lugar que as minhas. Sinto a maciez da cama quando me coloca, estou terrível e até mesmo consigo sentir o forte odor de álcool. Procuro o banheiro, cambaleando consigo encontrar, um banho pode salvar para não acordar com ressaca. Sem raciocinar com o ambiente tiro a roupa e a deixo no chão. A água fria percorre as curvas do meu corpo, sinto as energias revigorarem e o efeito da bebida passando aos poucos. Noto a presença de Gregory na porta, não demora muito para que peça para entrar. Uma boa hora para vingança, não terá o que deseja ter, é o pior truque para a noite de núpcias.

-Ficar parado do lado de fora não o faz mais homem, se quer entrar, peça permissão.-

Talvez tenha sido de mais brincar de ser a mandante desta situação, quando revela a cara de cachorro que está fazendo, parecendo um animal com fome de carne fresca. As coisas aceleraram até o dia de hoje, em dias estava noiva, pouco depois casada e agora em núpcias. Nunca fiz isso antes e nem pretendo que hoje seja a primeira vez. Como ele pode agir com tanta naturalidade, de maneira que pareça ter intimidade de meses para pensar no que pode acontecer agora. Claro, homens nunca tem somente uma mulher na vida, sem dúvidas teve inúmeras e não serei a última. Vejo a pressa para tirar as peças que restam de seu terno, fico perplexa com a visão que inunda.
O corpo trabalhado e esbelto, parece desenhado por alguma divindade de tão bonito. Assusto ao descer mais, é aquilo que deve entrar em mim? Sem dúvidas não há lógica de caber, fiz certo em decidir não realizar a consumação. Só será oficializado após a prova de que foi consumado, darei um jeito de burlar.
Gregory se aproxima do chuveiro e deixa a água cair em sua cabeça. Sinto o olhar pousar em mim, viro de costas com o rosto vermelho de vergonha.

-Ainda dói? As feridas.-
a voz doce toma conta do banheiro em eco, assusto ao sentir suas mãos tocando minhas costas. Ríspida balanço a cabeça negando.

- E aqui, dói?-
Não havia reparado em como sua mão é grande, noto quando acaricia minha lombar.
Negativando balanço a cabeça novamente. A respiração fica ofegante ao senti-lo tão próximo e atrevido, está na hora de parar, dei esperanças o suficiente. De supetão saio do banheiro e me embrulho em uma toalha, seguida de um roupão.
O desapontamento é claro, de repente seu semblante muda e fica duvidoso como se ainda não entendesse o que aconteceu.

-Vossa alteza sabe que devemos consumar para ser oficial? -
A vontade de responder de maneira grosseira e óbvia passa pela mente, mas controlo ao perceber sua preocupação.

- Sim, Alteza. Eu sei. -
Deito na cama estendendo um enorme cobertor para cobrir na madrugada. Como de pirraça tiro o roupão e toalha deitando nua sem cobertores.

- Muita maldade o que você faz comigo, mesmo sabendo que é por obrigação ainda compreende que para mim não é obrigação porque a desejo?-
quase suplicante, nem parece o príncipe valente que me confundiu com uma meretriz e por pouco não se deita com ela antes de aguardar a morte.

-Sem dúvidas não acontecerá nada hoje, estou exausta. Não durmo direito a noites e como pode perceber esta será a melhor em dias, pois os ferimentos fecharam e consigo deitar as costas na cama.-
De rabo de olho checo se fui convincente. Até o momento parece ter sido uma boa desculpa já que seca o corpo, veste uma camisa e cueca deitando para "dormir".

-Tudo bem, por um momento esqueci que seus ferimentos são recentes, podem abrir se esforçar de mais as áreas, me perdoe por não ter levado em consideração antes de insistir.-
Agora convincente e finalmente me livrei de sua astúcia, vou para o guarda roupas e visto uma das camisolas de seda que minha mãe escolheu. Esta tem a cor branca, com detalhes de turquesa nos seios e alças. Novamente seus olhos pousam em mim e por longos minutos não desviam.

-Então, boa noite e bom descanso para você.-
Tento suavizar a voz e parecer mais simpática, embora saiba que não confie em minhas palavras.

-Igualmente, princesa.-
Sorri e fecha os olhos, mas logo fala novamente.

-Poderia desligar a lamparina, por gentileza?-
Sem questionar a desligo, pois também não consigo dormir com claridade.

[...]

A manhã está fria, Gregory nem percebeu que desvencilhei de seus braços.
Desconheço essa parte do castelo, mas agradeço por estar aparentemente vazia e sem pessoas para atrapalhar minha rotina matinal. Emily ficará longe durante nossa estadia em Bápolis, será quase um mês de núpcias antes do retorno ao nosso palácio.
Enquanto projeto as técnicas com a adaga sinto que há mais alguém neste lugar, não muito distante. Vigilante como sempre, confiro todo perímetro entre a sala de espelhos e o saguão daquela ala do castelo. Ninguém.
Quando retorno á sala de espelhos Gregory está sentando em uma cadeira mexendo impacientemente em um nuchacho.
Nas tentativas de manusear o instrumento acerta seu rosto com tudo, novamente tenta e agora acerta a parte superior da cadeira com um estalo, sua cara de dor seguida de susto pelo estalo me faz rir instantaneamente fugindo uma gargalhada audível.

-A minha desgraça é a sua felicidade, meu bem?!
Ainda sorrindo aproximo e pego o instrumento de sua mão. Manusea-lo é a prática mais fácil deste mundo, contanto que haja sincronia, conexão com os movimentos e sensibilidade para saber quando trocar as técnicas.

-Já que passaremos o mês inteiro juntos, é justo que ensine você a nunca mais apanhar fácil. Soube que a impostora utilizou de um instrumento desses para acabar com seus soldados. -
O sorriso não deixa meus lábios e parece piada que homens que vivem em guerra sejam tão despreparados, ou aquela mulher era realmente excelente no que praticava.
A manhã segue calma, após o treino vamos tomar café. Uma mesa gigante está posta e aquele ambiente é menos grosseiro que as demais do castelo, esta tem uma leveza clássica, paredes brancas cheias de anjos dourados por onde olhar. Dispõe de um lustre de cristal que pende do teto oval, parecendo uma cúpula no centro da enorme sala. A mesa é imensa e feita de mármore acinzentado, junto dela as cadeiras confortáveis, parecendo que estamos sentados em nuvens, a qualidade destas é absurda.

-O café está de seu agrado, minha Alteza? -Aquela voz meiga e doce surge me tirando dos pensamentos. Agora uma expressão de suavidade inunda seu rosto, deixando ainda mais belo.

-Ótimo, Alteza. Posso arriscar dizer que melhor que o da minha ama, mas jamais diga isso quando a conhecer.-Retruco a pergunta com humor arriscando pedir para que esqueça os títulos quando estivermos juntos.

O dia passa rápido e a chegada da noite chama a responsabilidade que não foi concretizada na noite anterior. Após o jantar tomo um banho relaxante para amenizar a vergonha de conversar com Gregory, aguardo seu retorno da reunião com o rei Bárpo. Os convidados foram embora na manhã seguinte ao casamento e não insistiram em incomodar a dupla de recém casados.
Perco o ar dos pulmões quando entra no quarto, parece estressado. Deixo de lado a ideia de solucionar o problema da noite anterior e finjo não perceber sua preocupação.

Princesa de açoOnde histórias criam vida. Descubra agora