CAPÍTULO 8: Riscos à coroa.

17 4 19
                                    

AVISO: PODE HAVER TRECHOS DE TORTURA OU AGRESSÃO

*GREGORY*

Os portões abrem, informaram que estão a caminho para montar um acampamento dentro da cidade. Curioso, procuro em meio a multidão, nada da princesa, ou a quem pareça uma. Estamos aguardando no palanque da praça onde acontece as execuções.
Armam tendas e cuidam dos feridos, devemos mais que um pedaço de terra a esses homens. Ordeno que todos os médicos disponíveis apresse o atendimento de todos, e que os soldados recolham os nossos para que sejam enterrados de maneira digna, aos inimigos os animais darão fim. Estamos fora de perigo, me sinto covarde por não fazer parte e lutado ao lado dela, e se estiver morta e for questão de tempo até a culpa recair sobre nós?

-E essa cara de paisagem, irmão. Preocupado com sua noiva? Não diga que gosta dela sem ter a visto. Isso que dá viver esse tempo todo sem mulher depois de você sabe quem. -

Relembrar um namorico não trará lamentação quando o superei.

-Não terei ninguém além de minha noiva, é bom você fazer o mesmo, Dominic -

Prossigo sem perceber que aproxima-se de nós. Uma mulher de estatura mediana, um pouco mais de um e sessenta como a intrusa. Esta tem um físico impecável, é morena e tem os cabelos presos em um rabo de cavalo médio. Incapaz de analisar melhor, pois paro ao ver os ferimentos, seus braços estão envoltos em camadas secas de sangue, o uniforme militar preto com o brasão do reino Sartago não parece ser da cor que está agora. Em seu ombro apoia um rapaz, que aparenta ser poucos anos mais velho.

-Acho interessante, se for infiel vai perder o que tem entre as pernas. Não suporto você, suportaria menos se todos soubessem que sou corna.-

A voz que escutei pelo telefone, só que agora o tom é de gozação. Seu maxilar é destacado e há uma cicatriz acima da sobrancelha, então foi nisso que a impostora errou. A cicatriz dela era acima da sobrancelha ao invés da lateral do rosto.

-Vossa Alteza Real, é um prazer te reencontrar. -

Digo com um nó na garganta, Dominic também a reverência e ambos com semblante de dúvida olhamos para o rapaz apoiado. Ela nota e solicita médicos para cuidar do parceiro de combate. Dom sequer segura a língua, a princesa está pouco distante quando ele a acusa e insinua que serei o corno da relação. A moça que antes tinha um olhar sereno troca-o por um semblante sombrio, seus olhos ficam negros.

-Pouco importa se você é futuro rei, príncipe do mundo inteiro. Se colocar em dúvida a minha pureza novamente, não terá língua para falar.-

Parecia mais um rosnado, por fim acompanha o companheiro até onde indiquei que estaria o auxilio médico. Representamos o rei e rainha indispostos para comparecer, visto que passou pouco menos de dois dias após o atentado, explicaria mais tarde a ela.
Preparamos aposentos no castelo para a princesa, e comodidade pela cidade para os soldados. Faremos um banquete público para eles com fartura e bebida. Peço aos criados para atender a tudo que Louise necessitar, quero que esteja o mais confortável em sua estadia. Sou chamado para ir aos seus aposentos, acho errado, mas a curiosidade que aquela mulher gera passa por cima dos princípios de cavalheirismo.
Quando entro no quarto, uma das criadas avisa que Louise está no banho e que em breve sairá.
Fico boquiaberto que chamou aqui para isso, para que a possuir? Mas nos conhecemos hoje, ela se diz pura, não se entregaria assim antes do casamento. As expectativas são rebaixadas quando saí vestida do banho. Os cabelos molhados mostram o verdadeiro comprimento, abaixo do ombro. Está usando um blusão e um short, descalça e com a toalha apalpando o cabelo ondulado. Seu antebraço está machucado, assim como as costas, pelo colarinho da blusa um pedaço da faixa está a mostra. Ela não parece sentir incômodo.

-O que tanto averigua? Vejo malícia em seu olhar, acreditou mesmo que iria chamar Vossa Alteza para tomar minha pureza? -

A gargalhada que dá após a resposta ser o silêncio é humilhante.

-Jamais pensaria assim, imaginei que gostaria de solicitar permissão para permanecer no quarto e se ausentar do jantar.-

Respondo rápido e fazendo o impossível para justificar. Mas ela já estava a frente de tudo.

-Não necessito de permissão, não basta ter salvo vocês dos selvagens que queriam tomar suas fronteiras? Agora devo pedir permissão para descansar? -

A morena pronúncia as palavras de forma desdenhosa e caí na risada. Mulher insuportável, vai ser doloroso conviver com essa arrogância todos os dias.

-Peço desculpas pela má colocação e atrevimento, Alteza. Irei me retirar, bom descanso. Até breve.-

Saio a passadas largas e rápidas dali, o ar que pairava sufocando. Por fim ela perguntou se a impostora ainda estava viva e naquele instante senti pena por não a ter matado antes, depois reconsiderei e lembrei de meu pai, a tal merecia passar por tudo isso. Em meia hora levaria a princesa para conhece-la.

Nos encontramos no local que indiquei, estaria no celeiro. Era pouco iluminado, ao menos não dava pra escutar os gritos, a música e a gritaria da festa pela cidade camuflavam, mas nada pôde arrancar o horror que presenciei. Louise, com o rosto tão doce, simples sem maquiagem, de short e blusa torturava a moça que por fim revelou seu nome. Izzie.
Estava ali a mando de uma tal Salete, a qual ninguém conhecia, notei que ao falar esse nome Louise paralisou e disse diversas vezes que estava mentindo, então supus que reconhecia.

-Gregory, me entregue a serra! -

Louise gritava e como um cão obediente não iria desobedecer a assassina que estava com a blusa ensopada de sangue. Entreguei a serra e faltou estômago para a ver cortar dedo por dedo da pobre Izzie, nesse momento entendi a referência de seu apelido, princesa de aço. Ela não era de aço, mas seus sentimentos sim, não tinha remorso a nada que fazia? Meu enjoo era fingido, não queria transparecer que já pude fazer coisas piores, entretanto para uma dama era surpreendentemente forte e cruel.

-Creio que não possa arrancar mais verdade dela, vinte minutos e morrerá.-

Digo tentando amenizar a situação, tenho raiva da farsante, mas aquilo beira ao inferno, segue quase cinco horas de tortura e sempre repete a mesma frase: "fui enviada por Salete" .

-Cale a boca, Gregory. Me passe minha adaga. -
Supus que ela daria fim a tortura, agora realmente estava sem estômago. Louise, nome doce, mas a dona do nome é amarga como dias ruins e pior que o próprio demônio. Passa suavemente a adaga na pele do rosto da jovem que sibila ódio.

- Seu noivo olhava com desejo e ardência quando me conheceu, você não passa de uma princesa feia e metida a guerreira.-

Sem expressão, ela arranca a pele e a impostora grita sucumbindo de dor e Louise pergunta a última vez recebendo a mesma resposta. Por fim decide terminar o interrogatório.

-É toda sua, Alteza. Disto tudo, só quero a adaga de volta. -

Sinaliza para a pequena mesa com frieza ao sair, como se sentisse nada ao fazer o que fez. Um tanto sexy diria, se não fosse bizarro pela situação. Comovido com a súplica, atiro na cabeça da mulher que despenca para o lado.

Princesa de açoOnde histórias criam vida. Descubra agora