Capítulo 2

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Havia muitas camadas sobre mim

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Havia muitas camadas sobre mim.

Estar solteira aos vinte e dois anos era a que mais incomodava meu pai, que mal podia esperar por um grande homem, pelo menos no bolso, que me proporia a união.

Não que eu fosse feia ou burra, na verdade, muitos poderiam me considerar a mais bonita do reino e eu sabia tocar arpa como ninguém.

Só nunca aconteceu, essa coisa de casamento.

Também tinha o fato de que meu pai havia perdido muito, as terras não deram muito e a praga se alastrou pelas plantações por três anos seguidos, assim como ocorreu na década anterior, o povo estava passando fome.

Com as portas do castelo fechadas a maioria do tempo, os nobres e pessoas da alta classe podiam fingir que estava tudo bem, afinal, não importava quão pouco os camponeses colhiam, meu pai ainda cobrava os mesmos impostos e os plebeus eram mantidos do lado de fora dos muros.

Como se não bastasse, os navios mercantes não paravam de chegar com tecidos luxuosos, utensílios de metais nobres e todo o vinho que se podia beber. Com as compras também vieram dívidas, o que nos deixava a um fio da falência total.

George VI não sabia governar e eu o odiava por isso.

Havia, também, as camadas mais visíveis, das quais eu tinha consciência a cada minuto do dia. Camadas feitas de linho, cânhamo e algodão, que apertavam minha carne, me limitavam até mesmo para correr escada acima depois da missa.

Como eu fazia naquele fatídico dia.

Ou tentava.

Sequei o suor na testa com o dorso da mão, aliviada por despistar as duas damas de companhia que ainda me serviam, segui pelo corredor até meu quarto, mas não sem antes parar na frente de uma pintura mostrando meu pai sobre um cavalo e mostrar a língua à ele.

Nunca montou antes, devia ter vergonha de exibir essa coisa vergonhosa no lado do castelo destinada às damas.

Entro no quarto e fecho a porta, outra tarefa ainda mais difícil é tirar esse vestido espalhafatoso, quase impossível de se fazer sozinha, mas eu não posso correr o risco de alguém desconfiar do meu segredo.

O quarto aconchegante e claro que me foi dado, mascara o turbilhão que existe dentro de mim, se fosse para refletir minha alma ele seria todo preto decorado com sangue, não esse azul-claro patético.

Bufei. Não tinha tempo.

Eu torço meu braço nas costas a fim de livrar os fechos, mas os ganchos são inalcançáveis.

Por sorte, Deus me deu um cérebro muito capaz.

Peguei a escova de cabelo e virei de costas para o espelho. Levei mais tempo do que gostaria de admitir para entender a diferença de direita e esquerda, mas quando dominei isso, os fechos se abriram facilmente.

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