Capítulo 6

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Olhei para minha princesinha curiosa; aqueles olhos castanhos me olharam desafiadoramente

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Olhei para minha princesinha curiosa; aqueles olhos castanhos me olharam desafiadoramente. Ela não gostava de ficar sem resposta.

— Então, você está realmente me convidando para o seu quarto? Não sabia que mocinhas como você podiam ser tão sujas.

A provoquei, vendo suas sobrancelhas arquearem e seus lábios franzirem.

— Você nunca leva as coisas a sério? — E antes que eu a respondesse, ela me interrompeu. — Ou está tentando mudar de assunto?

— Céus, você tem que ser tão séria o tempo todo? Parece uma velha ranzinza.

— E você não tem o mínimo de classe — disse, cruzando os braços. — Vai me contar ou não? Não me faça perder tempo.

Uma parte de mim não queria entrar nessa conversa. Mesmo que fosse simples, que eu pudesse mentir, tinha medo de falar coisas do meu passado, o motivo de eu não ser zeloso com minha vida. Eu sentia que havia alguma coisa sobre ela que me fazia querer ser sensível, mostrar minha fraqueza, meus machucados, ser humano.

— Vamos antes que eu me arrependa — disse a princesa, já me rendendo. Ela, por sua vez, começou a caminhar ao meu lado, indicando o caminho para o seu quarto.

— Então? — Ela disse, olhando para mim.

— Aprendi que a dor pode se tornar prazerosa, se usada corretamente.

— Como poderia ser?

— Me deixe terminar. Existem dois tipos de dor: a dor da mente e a dor da carne. A dor da carne é fácil de gostar, se acostumar, conviver e enganar. Agora, a dor mental, não. Ela não pode ser curada com ervas e descansos, porque ela vive dentro de você, na sua alma. Ela é a única coisa que não podemos enganar, ignorar e fingir que não sentimos. — Seus olhos me olharam como se o que eu disse fosse a coisa mais estúpida que ela tinha ouvido.

Viramos o corredor e paramos de frente para as pinturas de soldados e de seu pai.

— Olhe para o seu pai — apontei para a pintura. — Ele está nesse cavalo, como se fosse grande, honrado e corajoso. Aposto que ele nem sabe montar, mas ele fingiu para as pessoas, para si, e muitos acreditam na sua mentira. Enganar é fácil; é só acreditar naquilo e fazer as pessoas acreditarem, fazer elas terem fé, fazer sorrisos crescerem em seus rostos, fazer elas se sentirem superiores, mostrar milagres falsos. Quase uma lei da atração, e isso funciona com a dor.

— Então, você aprendeu a amar a dor, fez seu corpo acreditar que a dor era prazerosa? Isso é deprimente e injusto. Ninguém deve se acostumar com a desgraça — percebo a indignação na sua fala.

— A dor é o que nos mantém vivos, nos avisa dos perigos, nos dá o gosto da morte, traz aquela sensação de combustão — disse, andando pelos corredores escuros. — A dor do tiro me lembrou que eu estava em perigo, me lembrou que se eu morresse, tudo que fiz teria sido por nada. Me fez lembrar que eu deveria dar tudo de mim, me deu coragem e foco no que eu iria fazer. A queimação na minha garganta me dava o prazer de descontar minha raiva e ódio em algo. Me dava o gosto da morte, e as gargalhadas da plateia me fizeram ter certeza de que as dores da carne iriam acabar, que eu iria me curar e cicatrizar. A dor da carne pode ser usada para o prazer, só precisa acreditar que sim, porque a dor da carne se cura.

— Você romantiza a dor, a morte. Não é certo amar isso. Você se destrói, Joker. Você busca autodestruição — ela me olhava com pena. — Gosta do perigo e acredita que a verdade não existe, que tudo pode ser enganado e manipulado com risos e palavras vazias, milagres falsos.

Maldita, esse seu senso de justiça e amor pela vida me dava ódio, porque me fazia sentir amor por sua causa. Fazia aquele garotinho que acreditava que fazer as pessoas rirem faria elas não te baterem, não abusarem de seu corpo, não humilhá-lo com as palavras. E me fazia perceber o porquê da minha curiosidade por ela: ela era tudo que um dia busquei ser. Ela tinha a honra, a bondade e a justiça que meu corpo imundo perdeu com os anos.

— Não é verdade? Olhe para você, acreditando nesse seu Deus. Por quê? Porque foi induzida a gostar, acostumou a sua mente com esse símbolo de salvação. Bispo Clarence faz milagres falsos e usa palavras vazias para você crer, para você ter fé. Você finge acreditar até sua mente acreditar, mesmo que no fundo saiba que é mentira. A verdade só se torna verdade quando você acredita que ela é verdadeira.

Sem eu perceber, eu a encurralei contra a parede, obrigando-a a me encarar.

— Se a verdade não é confiável, o que resta para mim? — Seus olhos me avaliaram, procurando respostas para suas perguntas.

— Se há três, você tem três. Se há duas, você tem duas. Mas se há uma, você não tem nenhuma. O que é?

— Uma charada? Não quero charadas, quero respostas.

— A sua resposta é a charada. Você é uma pessoa tão esperta, não consegue resolver uma charada?

— Eu consigo, mas não gosto de meias respostas. Se faço uma pergunta, quero que responda, sem brincadeiras ou enigmas.

— Se você não possui capacidade de decifrá-la, eu digo... respon... — Antes que eu pudesse falar, ela cobriu minha boca com as mãos, ficando nas pontas dos pés.

— Não preciso da sua ajuda, tenho capacidade suficiente para encontrar a resposta de algo tão simples — disse, olhando para mim, pressionando seus dedos contra minha boca.

— Sendo assim, você me dará algo — disse, segurando seus pulsos finos, tirando suas mãos da minha boca e as pressionando contra seu próprio peito, sentindo seu coração bater forte.

— O que você quer? Dinheiro? Presentes?

— Seu prazer.

— Meu prazer? É outra charada? Me diga como fará para tê-lo — disse, como se meu pedido fosse uma loucura.

— Essa é a questão. Não importa onde eu toque, o que eu faça, você me dará seu prazer. Você não deve me impedir.

— Você está querendo me fazer pecar.

— E você quer pecar, eu posso sentir — disse, alisando seu rosto. — É muito para você?

Afastei-me de seu corpo. Quando olhei ao redor, vi uma grande porta, mostrando que chegamos ao seu quarto. Ela olhou para a porta e caminhou em sua direção, me deixando. Saí, dando-lhe as costas, quando percebi que ela não iria aceitar.

— Eu aceito — eu ouvi sua voz. Não me virei para olhar para ela, não era necessário.

— Você tem um dia, nada mais que isso — disse, me afastando, incapaz de segurar meu sorriso.

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