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NÃO SE ESQUEÇAM DA ESTRELINHA ⭐️

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  PIA

— O quê? — Fiquei chocada. — Não seu doido. Orgasmo é um drink forte que tem naquele bar, e eu tomei ontem. Caralho, minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento.

— Ah... — Ele pareceu relaxar. — Orgasmo é uma bebida? Por isso você disse ontem que eles tinham te deixado molinha...

— Eu disse?

  — Disse. — Mirou meus olhos. — Então Pia, agora você faz essas coisas?

— Que coisas?

— Coisas do tipo sair por aí sozinha, ficar bêbada e quase transar com um desconhecido em plena rua.

  Indignada pelo tom acusatório abri e fechei a boca.

  — Olha Tito, não sei direito o que você viu, mas mesmo que estivesse bêbada eu não fiz nada que eu não queria, ok?

  — Ahhhh, então você quer dizer que queria ter transado contra uma parede com um cara que conheceu ontem? Mesmo não parando em pé?
 
— Bom, não sei porque o espanto, é exatamente isso que eu quero dizer. — Respondi secamente.
 
— Conta outra, Pia.

 
— O quê? — Dei uma risada nervosa e com ódio já borbulhando. — Não sou tão inconsequente Tito, me lembro do cara de ontem, ao menos o começo, ele não é desconhecido total, ok? Eu lembro que ele chamava Henrique, e trabalha no administrativo da Corpory e aceitei quando ele chamou pra irmos para fora. Então relaxa, tá?

O queixo caído demonstra o choque por minhas palavras antes de passar uma mão pelo cabelo que tinha alguns fiozinhos grisalhos. Puta merda, sexy.

— Cara, bom te ver de novo e agradeço por ontem, mas preciso ir, tenho que estar na minha aula prática depois do almoço você pode abrir a porta?

  — Espera aí, você não vai escapar tão fácil, mocinha. Eu também devia estar no trabalho, mas estava bem aqui esperando a bela adormecida acordar.

— Por Deus, Tito! O que você acha que está fazendo? Salvando a irmãzinha indefesa do seu amigo?

  — É exatamente isso que eu acho!

— Se passaram muitos anos, já! Até o Lucas já saiu do meu pé. Supere os fatos, ok?

  — Você está mais boca dura do que o normal, sabia? — Se aproximou de mim e fui incapaz de segurar o riso.

— Desculpe, mas com você é força do hábito.

  — Ontem eu só estava te salvando, pirralha.

— Não sou mais pirralha para ser salva. Eu sei me cuidar sozinha.

  — Não importa, para mim não é. Por isso que vou te salvar quantas vezes for preciso para você não sair transando por aí com desconhecidos.

— Larga de ser babaca. — Dou um murro em seu peito. — Abre a porra da porta.

Resmungo irritada. Tito acredite quem quiser agora fazia parte de uma época boa da minha vida. A época que eu ainda só pensava conhecer o que era dor e coração partido. Encontrar com ele tanto tempo depois era estranho. Porque agora eu enxergava quão patética eu fui naquela época e o quanto ele só agiu certo no fim de tudo. Tito Maldonado foi o primeiro cara a me decepcionar, mas também foi por causa dele que eu era como era quando conheci Mariano. E foi por eu ser daquele jeito que o que fez ele insistir em me conhecer. Tito de certo modo não viveu nada comigo além de levar meu cabaço com ele, mas me preparou para conhecer o amor de verdade.

— Devia contar para os seus pais que a senhorita está dando trabalho por aí já que seu irmão se mudou.

  — HÁ-HÁ-HÁ, fique à vontade para me dedurar.

  — Saiba que é exatamente isso que vou fazer, pirralha.

— Me erra Tito, a gente já passou dessa fase.

  — Que fase?

— De implicâncias bobas. Já faz muito tempo. Não vamos ficar amassando barro, não somos amigos, nem vamos ser. 

— Por que? Ainda mantém sua paixão por mim, Pia?

  Uma risada me escapou. Era bom conseguir conversar sobre aquilo com ele e ver que apesar de tudo qualquer mágoa ou sentimento por ele tinha acabado. Tudo tinha ficado na adolescência.

  — Ah, Tito sinto informar que não sou mais obcecada por você há uns bons anos, porém antes tivesse mantido aquele trauma, talvez teria me fodido menos. — Falei e vi como ele pareceu surpreso por minhas palavras.

— O que quer dizer com isso?

— Que as coisas nem sempre saem como planejamos.

Sentindo meu peito apertar por me lembrar o verdadeiro motivo da minha bebedeira na noite passada soube que precisava sair dali naquele momento.

— Preciso mesmo ir, sou residente em medicina estou atrasada.

  — Medicina? Sério?

  — Muito sério, já era para eu estar quase chegando no meu plantão da tarde e sua fechadura chique não me deixa passar.

  Tito sorriu fraco como se tentasse me ler.

  — A senha é 0713. O que acha de jantar comigo hoje? Pra gente colocar o papo em dia Pia.

  — Não posso. — Falei instintivamente.

— Por que não? Já tem algum bar em mente pra hoje?
 
— Nenhum bar, mas tenho compromissos importantes senhor Maldonado. Fica para outro dia, quem sabe... NUNCA?

Um sorriso de escárnio envolveu seus lábios. — Qual é Pia, que compromissos são mais importantes que um velho amigo?
 
— Já disse que não somos amigos, Tito.

  — Não? Então que tal eu reformular, que tal jantar com o primeiro cara da sua vida?

  Ah seu filho da puta!

— Babaca como sempre, né?

  — Você quem pediu. — Deu de ombros.

  — Cresça Tito, você já tá bem grandinho. Aliás, bem velhinho. Seu escroto.

  — Pia jante comigo.

  — Não eu tenho um jantar com meus pais. — Dou um sorriso amargo pela mentira.

  O ignoro ando até a porta e digito a senha que tinha me dito e finalmente a tranca se abre. Reparei o hall com o elevador que mostrava que estávamos na cobertura.

— Até nunca mais Tito, feliz em te ver bem, continue assim, longe de mim. — Acenei enquanto entrava no elevador apertando o botão para a portaria.

Estranhava o fato de Tito ter voltado e até então meus pais não me falarem nada. Mas era meio óbvio eu não saber, quase não os visitava ou falava com eles no último mês. Março e abril eram meses tortuosos. Eu odiava ter que reviver as coisas, mas era mais forte que eu. Viver o luto por toda a tragédia que aconteceu. Naqueles dias eu sempre ignorava todos, trabalhava na marra, e evitava ver pessoas que sentissem pena de mim como meus pais ou os pais de Mariano e quem quer que fosse que me lembrasse do pior momento da minha vida.

O prédio que Tito morava coincidentemente e infelizmente ficava uma quadra do meu, por isso dispensei o táxi e fui andando.

Quando abri a porta Tosco veio correndo para meus pés e eu o peguei no colo o abraçando.

— Bom dia, filho, está com fome? Vamos lá, vamos comer algo para começar mais um dia de cão.

Outra vez VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora