A não massagem

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Eu trabalho fazendo as pessoas se sentirem melhor, sem ter que abri-las com um bisturi ou prescrever medicações. Isso é muito legal, na minha opinião. Atuando como massoterapeuta itinerante, movo-me de lugar para lugar, fazendo atendimentos em domicilio. Esse é outro aspecto que amo no meu trabalho: nunca tenho que fazê-lo em apenas um lugar. A empresa para a qual trabalho, Elite Massagens, tem uma sede no centro da cidade, onde compareço uma vez por mês para abastecer meu estoque de materiais e fazer uma conferência rápida. Naquela tarde, quando fui fazer minha visita mensal, minha chefe, Suzan, tinha uma atualização para mim.

— Então, eu acrescentei algo novo ao seu cronograma, se você puder encaixar amanhã — ela disse.

— Onde é? — perguntei, guardando uma variedade de óleos na minha mochila.

— Brookline. Na verdade, você foi especificamente solicitada.

Parei por um momento.

— Por quem?

— O nome dela é Marília Mendonça. Já ouviu falar?

Balancei a cabeça.

— Não. Nunca.

— Bem, ela tem a ficha limpa.

Suzan sempre fazia uma pesquisa de antecedentes criminais nos novos clientes, o que eu agradecia, já que ia a suas casas e frequentemente ficava sozinha com esses estranhos.

— Também pesquisei sobre ela no Google e encontrei sua página profissional — ela continuou. — Ela é dona de uma empresa de investimento de capital.

Marília Mendonça. Hã... nada.

— Acho que alguém deve ter me recomendado para ela.

Suzan gesticulou para a tela de seu celular.

— Dê uma olhada na propriedade dela.. É aqui que ela mora. — Ela abriu o Google Earth e deu zoom em uma casa. Era uma estrutura grande de tijolos, com uma cerca preta de ferro forjado em volta.

— Uau — eu disse.

— É. Talvez você queira usar algo um pouco melhor do que a camiseta e a calça jeans de sempre. — Ela piscou. — Sabe, caso ela seja solteira.

— Tenho certeza de que, se ela mora em uma casa daquelas em Brookline, não é. De qualquer forma, não importa. Não existe uma regra sobre misturar negócios com prazer?

Ela deu de ombros e deu ainda mais zoom na casa.

— Você sabe o que dizem sobre regras.

(...)

No dia seguinte, estacionei em frente à extensa propriedade, incerta quanto à origem das borboletas em meu estômago. Já atendera clientes ricaços antes. Mas algo nesse trabalho parecia diferente, embora eu não conseguisse pontuar o que era.

Brookline era uma área um pouco afastada de Boston, com uma linha de bonde passando bem pelo centro. Por ser próxima às universidades de Boston, a vizinhança era uma mistura de estudantes universitários e profissionais ricos, dependendo da zona. A rua onde eu estava, em particular, era uma das mais tranquilas, delineada por casas grandes e lindas, e não muito longe de onde eu sabia que alguns dos jogadores de futebol americano da National Football League de Nova Inglaterra moravam.

As folhas das árvores que rodeavam a propriedade eram de cores variadas, evidência de que a época da folhagem de outono havia chegado com força total. Olhando para a casa de tijolos de dois andares, notei um Camry aparentemente antigo que parecia deslocado estacionado na entrada de carros.

Com meus materiais dentro da bolsa pendurada no ombro, carreguei minha maca de massagem portátil ao caminhar em direção à porta preta enorme com uma guirlanda vibrante de folhas de outono pendurada. Toquei a campainha e esperei ansiosamente.

M. Mendonça | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora