O novo normal

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Maraisa.

— Foi o momento mais desconfortável da história — contei ao meu pai durante o almoço no dia seguinte.

— Marília devia estar prestes a por um ovo. Sinto um pouco de pena da coitada. Ela só está tentando fazer a coisa certa, seguir em frente com sua vida. E então, você surge feito um furacão.

Quando meu pai tinha ido me visitar na Europa, certa noite, enquanto tomávamos alguns drinques na varanda, confessei a ele o que havia acontecido entre mim e Marília. Queria que meu pai soubesse por que eu hesitara em voltar para os Estados Unidos imediatamente quando meu contrato de dois anos havia acabado. Embora não tivesse ficado surpreso com o que eu lhe contara, ele me dissera que ficava triste por saber que eu ainda nutria sentimentos por Marília.

Talvez uma garota falar sobre sua vida sexual com o pai não fosse uma coisa comum, mas sempre me senti sortuda por poder contar qualquer coisa a ele. Sob as circunstâncias atuais, eu estava grata por ter ao menos uma pessoa que entendia por que eu estava tão confusa agora. Também contara sobre Noah ter confessado que tinha lido o diário de Marília.

— A pior parte foi a namorada dela falar sobre me apresentar a um cara com quem ela trabalha. — Apoiei a cabeça nas mãos por um momento.

Os olhos do meu pai se arregalaram, com um indício de diversão.

— O que Marília fez quando ela disse isso?

— Não sei. Mal olhei para ela. Não conseguia. Simplesmente... doía demais.

Meu celular apitou, e meu coração deu um salto quando vi seu nome na tela.

Marília: Oi. Me desculpe por qualquer desconforto ontem à noite. Fiquei um pouco chocada, por isso agi como uma idiota quando abri a porta. Foi tão bom te rever. Você está ótima. E parece feliz por estar de volta. Sei que virá buscar Noah mais tarde para o jantar. Queria saber se teria tempo de me encontrar antes disso. Mas não aqui. Estou trabalhando de casa hoje, mas posso encerrar mais cedo e te encontrar em algum lugar. Se não puder, sem problemas.

Arrepios cobriram meus braços. Seu idiota do caralho, falei ao meu corpo. Ele não havia entendido o recado de que não fazia mais sentido ficar animado para ver Marília.

— É ela — contei ao meu pai. — Ela quer conversar hoje à tarde. Está se desculpando pelo desconforto de ontem à noite.

Papai sorriu.

— Imaginei que ela entraria em contato com você.

Respondi à mensagem com a única coisa que consegui digitar.

Maraisa: Claro.

Os pontinhos saltaram conforme Marília digitou.

Marília: Você está em casa? Posso passar aí e te buscar.

Maraisa: Sim.

Marília: Pode ser às 16h?

Maraisa: Pode sim.

Fui para meu quarto e fiquei debatendo sobre o que vestir, mas, logo em seguida, me xinguei por ligar para isso. Por que importava? Marília estava com Morgan. Como já era de se esperar, ela era linda. Loira, o que parecia ser o tipo dela tirando o deslize comigo. Eu sabia, através de Noah, que ela era advogada - inteligente, bem-sucedida e um pouco mais velha que Marília, talvez um ano ou dois. Esse também era o tipo dela - mais velha, com a vida encaminhada. O oposto de mim.

Quando Marília chegou, deixei que meu pai abrisse a porta enquanto terminava a maquiagem dos olhos no banheiro do andar de baixo. Acho que era natural querer que sua quase ex ficasse se mordendo.

M. Mendonça | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora