02. Regresso

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Gabriel sentiu a gaveta onde estava ser puxada para fora. O rapaz sentou-se de imediato, notou a existência de três figuras misteriosas e mascaradas, que vestiam roupas azul claras. Eles os olhavam atônitos. Aparentavam estar tão confusos quanto ele, e ao mesmo tempo, temerosos.

Percebeu que havia algo estranho em seu corpo. Não o sentia ser o mesmo. Sua pele mesmo sendo morena, tinha adquirido um tom mais pálido. Já seus membros, pareciam estar rígidos, e as extremidades dos dedos encontravam-se roxas. No entanto, a única coisa que ainda parecia estar como se recordava, era o fato de ainda sentir seu coração batendo.

O que aconteceu?  — indagava-se.

Gabriel lembrava-se nitidamente de tudo o que acontecera antes de despertar. Era como se tivesse acabado de acordar de um sonho muito vívido, porém algo lhe dizia que aquilo não tinha sido apenas um sonho. Tudo pareceu... real demais, inclusive as sensações e emoções sentidas.

O rapaz olhou novamente para o lugar onde estava. Notou que a sala possuía um ar sepulcral, pois era fria e pouco iluminada. Percebeu também que ali estava repleto de geladeiras metálicas, como a que estivera momentos atrás. Entretanto, não conseguia ouvir som algum vindo das outras caixas de metal, somente o som cadenciado de batimentos acelerados que misturavam-se aos seus.

— E-e-ele se levantou... — ouviu um dos três cochichar.

Isso só pode ser um pesadelo! — pensou alarmado.

— O que aconteceu? — Gabriel perguntou confuso.

Os três mascarados entreolharam-se, não sabiam como reagir. Um deles, um homem mais alto e magro, tomou a frente dos demais.

— Ao que parece... — suspirou nervoso; — você está morto... ou melhor, estava — disse entre soluços.

Merda, eu realmente estava morto mesmo! — confirmou inquieto.

Sua respiração, coração, e todo o resto do corpo, pareciam funcionar bem. Todavia, sentiu como se estivesse à beira de entrar em colapso. Buscava palavras para questioná-los, porém elas pareciam enrolarem-se em sua garganta e morrerem ali mesmo. Após alguns momentos de silêncio, conseguiu reunir coragem o suficiente para perguntar-lhes.

— C-como? — indagou ao levantar-se vagarosamente da mesa.

Os três olharam uns para os outros uma vez mais, Gabriel percebeu a confusão existente em seus semblantes. A única mulher do grupo, a mais baixa quando comparada as outras duas figuras, com seus cabelos em tons cobreados e que estavam escondidos por um touca igualmente azul clara. Ela se aproximou timidamente de Gabriel, mantendo suas mãos para o alto, na tentativa de acalmar o rapaz recém desperto.

— Você... não se lembra do que aconteceu? — A mulher perguntou aflita e ao mesmo tempo, confusa.

O rapaz permaneceu em silêncio, tentou recordar-se da última lembrança que tinha, mas curiosamente, de nada se lembrava. Olhou novamente ao seu redor e para as gavetas metálicas que se espalhavam por toda a sala, perguntava-se como aquilo tinha acontecido. Como acabou em uma sala cheia de mortos.

— E-eu... não sei... — revelou. Havia dúvida em seu semblante.

Os três mascarados observavam como o rapaz parecia estar exercendo uma força praticamente sobrenatural para poder compreender tudo o que estava acontecendo. Gabriel não tinha certeza se podia confiar naquelas pessoas ou prever o que fariam a seguir.

— Ouvi dizer que foi assassinado, mas que ainda estão investigando... — contou o outro homem. Este, um pouco mais baixo que o primeiro, e ligeiramente mais alto que a mulher ao seu lado.

O Outro Lado do AnoitecerOnde histórias criam vida. Descubra agora