Patrícia não conseguia parar de pensar na criatura que encontraram no estacionamento da escola de sua filha, Vanessa. Sobretudo, o quão semelhante eram elas. Aqueles olhos, por mais que parecessem de uma outra pessoa, de um demônio saído diretamente do inferno, ainda sim, havia algo que remetia a sua preciosa menina.
Renato, por outro lado, não pareceu chocado e sua reação de apontar sua arma para um dos monstros, fez com que as suspeitas sobre ele apenas crescessem. Sua parceira, àquela altura, tinha certeza de que o companheiro deveria estar sabendo de alguma coisa, afinal, ele não apontaria sua arma para um suspeito. Rodrigues não cometeria o mesmo erro que o levou a ficar sob custódia temporária.
Ela o conhecia bem demais. O rapaz sempre pareceu extremamente metódico e odiava falhas, sobretudo, cometê-las.
A dupla percorria as ruas do bairro do Butantã, e por já estar escuro, não havia tanto movimento assim, salvo pelos ônibus que trafegavam em seu itinerário comum, e alguns carros, que deveriam estar levando passageiros para algum destino. Os policiais observavam as ruas pelo qual passavam, com extrema cautela e atenção, queriam qualquer pista que os levassem aos dois monstros.
O carro estava silencioso, Renato mantinha-se atrás do volante, totalmente focado nas poucas pessoas que ainda circulavam nas ruas. Já, sua companheira, buscava com um olhar rápido, qualquer outro sinal.
Os dois não tinham dito uma única palavra desde que encontraram a criatura semelhante a Vanessa e o rapaz dos cabelos cacheados na escola. Pareciam dois estranhos, mas que compartilhavam um terrível segredo, monstros caminhavam entre eles.
De repente, sentiram algo vibrar nos bolsos de seus uniformes, não uma, mas duas, três, quatro, de maneira incessante. Patrícia pegou seu telefone, olhou para o aplicativo de mensagens, e diversos grupos tinham disparado imagens de duas criaturas se enfrentando no estacionamento da escola. Não só isso, outros vídeos também começavam a circular: pessoas sendo atacadas por criaturas semelhantes a Vanessa. Tudo parecia ter entrado em puro caos.
— O que foi? — Renato olhou para companheira preocupado, e não era para menos, o semblante de Lemos não era dos mais calmos. Havia confusão e temor contido naquele olhar que seguia vidrado na tela de seu smartphone.
— Melhor você ver por si mesmo — Patrícia respondeu, encarando-o seriamente.
Renato encostou o carro no acostamento, pegou o telefone de seu bolso, e as mesmas mensagens que sua companheira tinha recebido, chegaram até os seus grupos. Sobretudo, os de família.
Querido, você está bem?
Tem muitos vídeos estranhos circulando por aí
As ruas estão caóticas, todo mundo tá assustado.
A mensagem de sua mãe o preocupou. Rodrigues deu uma outra olhada na direção das calçadas da avenida movimentada, e tudo parecia estar seguindo normal. Exceto pelas pessoas que aparentavam estarem paralisadas na tela de seus telefones. A reação era a mesma: confusão, descrença, até mesmo medo.
Estaria o mundo acabando?
— Mais essa agora... — Rodrigues disse dando um soco no volante. A frustração em seu olhar era palpável.
— Algo me diz que você sabe de alguma coisa — Patrícia finalmente revelou seus pensamentos.
— Em partes. — Renato disse apontando para o envelope sob a blusa no banco de trás do carro. —Estão ali.
— O que é isso?
— Eu não sei ao certo.
Patrícia pegou o envelope e começou a olhar uma a uma as fotos. O rapaz naquelas imagens lhe pareceu estranhamente familiar. De repente, uma epifania tomou conta de seu interior. Ela olhou para o companheiro que aguardava ansiosamente por algum comentário, e ela simplesmente manteve aquele olhar de não tem como isso estar certo. Uma reação muito compreensiva, dado que ele mesmo a teve uma noite atrás.
— Esse menino... ele não estava no estacionamento?
— Sim, sem dúvidas era ele. Ele também estava no caso do apartamento, só não sei se ele tem alguma ligação com o caso da garota raptada na frente do namorado.
— Mas o que são essas marcas? Ele estava morto? — A confusão tornara-se ainda maior. Patrícia não conseguia compreender o que estava acontecendo. Era cética demais para acreditar em coincidências ou até mesmo monstros, porém com tudo o que aconteceu nas últimas duas horas, estava começando a aceitar em qualquer explicação plausível que lhe dessem.
— Eu não sei, mas elas estavam no ombro de Diego, o menino do apartamento. Também as encontrei em Caio, no dia que recebi isso.
— Você viu o garoto que a namorada tinha sido raptada? — Patrícia perguntou endireitando-se no banco do passageiro.
— O encontrei por acaso, estava num mercado e ele esbarrou em mim, parecia que estava muito doente. E aquelas mesmas marcas estavam em seu pescoço.
A conversa que estavam tendo foi interrompida. O telefone tocava, mensagens continuavam a chegar nos grupos, nas conversas privadas, todo mundo parecia estar em extrema agitação.
— Lemos falando — Patrícia disse ao atender o telefone.
— Estou bem, não se preocupe — Renato respondia tentando assegurar de seu bem-estar.
— Ele está do meu lado, pra falar a verdade. Nossos telefones não param, muitas mensagens estão circulando nos nossos grupos de amigos, familiares e trabalho. — respondeu Lemos.
— Eu não sei, mas tranque a casa e se precisar, me telefone — disse Renato sério.
— Claro, eu o informarei.
— Preciso desligar! Te amo, tá bom?
— E então? — Os dois perguntaram agitados.
— Era só minha mãe, ela estava muito preocupada.
— Bem, Silva e Silva me ligou. Nosso delegado pediu para que nos reuníssemos na Delegacia Geral, parece que é uma ordem lá de cima. Ele quer todos de prontidão.
— Então o mundo realmente virou de cabeça pra baixo — Renato comentou, ligando o motor do carro.
Os dois continuaram o resto do trajeto em silêncio. Rodrigues estava focado no volante, todo mundo parecia muito assustado com os vídeos circulando, com as ligações que todos pareciam estar recebendo. Já Patrícia, continuava acompanhando as mensagens que chegavam em seu telefone. Mais vídeos chegavam, esses mostrando as ditas criaturas arrasando bares, restaurantes e casas. Seu pensamento se mantinha na filha, queria que ela estivesse bem.
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O Outro Lado do Anoitecer
ParanormalO que você faria se descobrisse que um outro mundo pudesse se revelar diante de si toda vez que o sol se põe? Gabriel jamais imaginou que isso um dia poderia ser possível, e agora se vê obrigado a aprender as regras deste mundo tão estranho e hostil...