— Esse não vai ser um daqueles momentos que você nos obrigará a sentar em roda, não é mesmo? — Fernando perguntou em total desgosto.
Joana decidira realizar uma reunião de uma última hora. O fantasma dos bigodes finos, lançava um olhar fulminante sobre a companheira dos cabelos longos e cacheados. Não conseguira dissuadi-la, preferiu olhar para a próxima vítima ao lado de Joana. Isabel nada dissera, manteve-se neutra, porém não foi totalmente contra a ideia da companheira.
— Não precisa disso, gente. É sério! — Gabriel disse tentando desaconselhar, mas em vão.
Joana enroscou seu braço no do vampiro, em seguida, guiou todos os outros fantasmas que preferiram estar presentes, até uma das lápides que considerava a mais bonita do cemitério. Fizeram uma roda, ficando de pé ao redor do banco de pedra, em que colocaram Gabriel sentado. O rapaz olhou para todos que estavam ali presentes, na tentativa de alguém tomar o seu lado, todavia, aparentemente o único que também achava isso desnecessário, era o ranzinza do Fernando.
— Deem espaço! A doutora chegou... — disse João de braços dados com uma jovem bem mais baixa que Gabriel, e que certa forma, parecia ser da mesma geração que ele. Já que suas roupas eram similares as que Diego lhe emprestara na noite anterior.
— Oh, um vampiro! — disse a moça totalmente radiante. — Seu João me contou muito sobre você! — A garota parecia tão maravilhada quanto os amigos desencarnados de Gabriel, quando estes, conversaram com o vampiro pela primeira vez.
— Não sei se fico contente ou preocupado... — disse Gabriel de maneira viperina.
— Vamos, compartilhe conosco o que te aflige — pediu a jovem doutora sentando-se ao lado do rapaz.
— Nem sei por onde começar... — Gabriel revelou envergonhado.
— Pelo começo, oras! — disse Seu João gesticulando com as mãos.
— Bem... acho que vocês sabem, ou melhor... alguns sabem que estive procurando por respostas. Queria saber quem me matou e me tornou um vampiro. — Todos na roda assentiam enquanto o jovem buscava como explicar o que o incomodava.
— E encontrou algo? — Joana perguntou enquanto oferecia um sorriso amigo.
— Ora, homem! Pra quê tanto rodeio? Conte logo! — disse Fernando não se aguentando de curiosidade.
Os fantasmas ao redor de Gabriel gargalharam ao ver que o homem ranzinza, mais parecia uma comadre que não se aguentava de curiosidade quando a fofoca estava chegando na parte boa.
— Visitei minha mãe uma noite... — Todos fixaram seus olhares em Gabriel e emitiram um sonoro "ó!".
— Desconfiava de sua própria mãe, homem? — perguntou Joana chocada.
— Não é isso! Senti saudades de ouvir a voz dela, sentir o cheiro dela, de vê-la... — explicou com a voz embargada. O vampiro tentava ao máximo prender seu choro em sua garganta. No fundo, ele ainda era apenas uma criança que não conseguira se desprender de sua mãe e de sua vida antiga.
— Está tudo bem sentir falta de alguém que amamos, ainda mais em uma separação tão repentina e brusca como foi a sua. Você está vivenciando o seu luto — disse a moça de forma tão doce, que todos suspiraram e olharam uns para os outros.
— Ela é um anjo no cemitério, não é mesmo? — disse Seu João completamente enamorado.
— Sim, o problema é que ela tem idade para ser sua bisneta! — Fernando respondeu rude, despertando o pobre homem de seus devaneios.
— Pessoal, por favor, não vamos diminuir a importância da dor de nosso amigo — repreendeu a jovem.
Fernando e Seu João engoliram em seco. Não estavam acostumados a tomar bronca, pelo menos não de alguém tão doce. Se fosse Isabel, seria mais um dia normal, pois a mulher mais parece ter vivido como um general em tempos de guerra.
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O Outro Lado do Anoitecer
Siêu nhiênO que você faria se descobrisse que um outro mundo pudesse se revelar diante de si toda vez que o sol se põe? Gabriel jamais imaginou que isso um dia poderia ser possível, e agora se vê obrigado a aprender as regras deste mundo tão estranho e hostil...