Memórias Reais - Eles tem muito o que contar.

TRÊS

Seus olhos eram em um azul tão intenso como nunca vi antes. Eu me afogava neles até...

- EMBUSTE! - Me levantei de cima dele.

- Eu não tenho culpa! Foi você quem me derrubou! E foi você quem caiu em cima de mim!

- Eu não cairia em cima de você se não fosse você me puxando!

- E se eu não te puxasse você ia cair na lama!

- E que diferença faz? Olhe para nós!

Estávamos quase que completamente sujos de lama.

- Tudo bem, da próxima não espere que te salve mais uma vez!

- Não, por favor, não diga sobre próxima vez, vai dar azar! Não vai ter próxima vez!

- Eu espero que esteja certa! - Falou e não esperou mais quando deu as costas e saiu para dentro do palácio.

E não fez reverência.

- Ei! - Chamei.

- Aaaaaah!!! - reclamou olhando para os céus chuvosos.

- Preciso chegar ao meu quarto sem que me vejam nesse estado!

Ele me encarou e semicerrou os olhos.

- Se vira. - Com passadas largas e rápidas entrou para dentro do palácio sumindo depois do vão da porta.

Fiquei ali plantada de queixo caído.

- Embuste!

Assim que entrei dentro do palácio salva da chuva, peguei seu casaco e o joguei no chão.

- Pega ele do chão.

Pulei no susto e me virei.

- Você não tinha ido embora?

- Consciência pesada. Agora, vamos logo! 

Olhei para o casaco e depois para o Carter.

- Se você se abaixar e pegar, tenho certeza que sua mão não vai cair.

Olhei para ele com cara de tédio.

- Fique de costas. - Mandei.

- Não vá dizer que vai ficar louca novamente e vai correr na chuva sem roupas.

Olhei para ele incrédula de boca aberta e olhos arregalados.

- Tudo bem - começou - essa fui longe demais, perdão.

- Se vire para eu pegar seu casaco.

- Onde está o sentido nisso?

- Só se vire!

Ele suspirou e com as mãos nos bolsos, se virou e ficou de costas para mim.

Abaixei e peguei seu casaco molhado.

- Aqui está. - Ele se virou para mim e o pegou.

Vi que ele quis bufar, mas se conteve.

- Por onde podemos passar para que não te vejam? - Perguntou, parecia mesmo empenhado apesar da voz de tédio. 

Como se eu fosse um tédio, logo eu, a princesa herdeira, não tem ninguém mais interessante do que eu. Eu não era um tédio...

- Pelas passagens secretas.

- Conhece mesmo elas? - Perguntou com tédio - juro que a última coisa que quero é ficar perdido com você!

- Conheço, eu usava muito quando criança.