opia

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Soraya POV

Opia (n.) A intensidade ambígua de olhar alguém nos olhos, o que pode fazer se sentir simultaneamente invasivo e vulnerável.

É absolutamente incrível como a vida é imprevisível, como tudo se transforma tão rapidamente. Em um momento você olha ao seu redor e vê as coisas de um jeito, mas não precisa de mais do que apenas um piscar de olhos para que tudo o que você viu segundos atrás já tenha mudado completamente.

— Sério, eu quis pular da cadeira quando você falou aquilo pra professora. — Helena tagarelava com toda a empolgação do mundo enquanto andávamos a caminho do The Village. — Mulher, você precisava ver a cara da Nassar! Você nem viu, né? — Perguntou, segurando meu braço e quase me sacudindo.

— Eu vi! — Susana apareceu totalmente do nada ao nosso lado, intrometendo-se na conversa. — Cara, ela foi uma bruxa com você.

— Quem foi uma bruxa com ela? - foi a vez de Daniel se juntar a nós, passando o braço pelo pescoço de Helena que, tenho certeza, se segurou muito para não desmaiar. — Ah, não, espere. Simone Nassar, posso apostar!

— Isso mesmo! — Helena respondeu, seu tom era um misto de indignação com a professora e empolgação pela presença de Daniel. — Bem que você avisou.

— Avisei mesmo. — Daniel concordou, cheio de si. — O que ela fez dessa vez?

— Ah, nada. — respondi, tentando cortar o assunto, mas é óbvio que Helena iria falar por mim.

— Nada? — Helena me olhou indignada. — Ela humilhou a Soraya no meio da aula, sem mais nem menos. Disse que o traço dela era horrível. "Seus traços retos parecem linhas curvas e suas linhas curvas parecem minhocas de tão mal feitas". — Helena repetiu exatamente a mesma frase que Simone havia usado comigo.

Eu preferia que ela não o tivesse feito. A mera repetição da frase já me fazia sentir todo o constrangimento e a humilhação que eu havia sentido na hora da aula. Senti-me irritada com a repetição exagerada do assunto. Tudo bem, eu já sabia que ela era uma bruxa, que tratava mal os alunos mesmo depois de ter sido um amor uma semana antes e...

— Caramba! — Daniel exclamou. — Ela fez isso só com a Soraya? — ele exclamou, pela primeira vez parecendo realmente surpreso.

— Foi, só com ela. Ninguém entendeu. O desenho da Soraya era o melhor da sala. Eu vi o de quase todo mundo. Não tô conseguindo entender porque ela fez isso. Mas a So saiu por cima. Quase fiquei de pés para bater palmas. — Ponderou Susana, animando-se no final.

"Nem eu", pensei.

— Ela sempre é rude com a turma inteira, mas com um só aluno, nunca se teve notícia. — Daniel falou, usando um tom misterioso.

Pelos próximos cinco minutos Helena contou absolutamente tudo o que tinha acontecido e eu só fizera questão de acelerar o passo para chegar mais rápido ao The Village, comer e ir para a próxima aula. Mas quanto mais rápido eu queria andar, mais interessados eles pareciam ficar no assunto Simone Nassar e menos queriam apressar o que deveríamos fazer.

— Uau! Soraya, eu queria ter visto isso. Não é todo mundo que tem coragem de enfrentar ela desse jeito. — Daniel disse, ajeitando a mochila nas costas e ao mesmo tempo empurrando a porta do The Village para que nós entrássemos.

— Ela é só uma professora. — Falei sem muito humor, passando por ele e assim, entrando no restaurante.

O primeiro lugar para onde meus olhos foram, involuntariamente e muito contra a minha própria vontade, foi a mesa onde a professora Nassar sentara-se da última vez em que a tinha visto no The Village.

infinity | simorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora