sophrosyne

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Sophrosyne (n.): na mitologia grega, era um daemon que personificava a moderação, a discrição e o autocontrole, opondo-se portanto à deusa Afrodite, que incita as paixões desenfreadas.

Simone POV

O quarto estava quase completamente escuro e não fosse pela luz fraca da luminária de piso, bem ao lado da minha cama, o ambiente estaria um verdadeiro breu e embora o meu espírito estivesse soturno naqueles últimos dias, eu não gostava do escuro.

— O que está fazendo no escuro? — Ela entrou no quarto, deixando a porta aberta, o que fez o quarto ganhar um pouco mais de iluminação e caminhou até mim, dando-me um beijo na testa. — Está trabalhando em algum novo projeto taciturno, gótico, ou...? — perguntou, usando um tom levemente sarcástico.

— Só estava pensando. — respondi, dando-lhe um sorriso e apertando-lhe, levemente, a mão que eu havia segurado assim que ela se aproximou de mim.

— Pensando em que? — perguntou, jogando-se atravessada na cama, bem em cima dos meus pés.

"Soraya", a voz dentro da minha cabeça gritou.

— Em nada demais. — respondi, retirando meus pés de baixo de suas costas.

— Normalmente você já pensa em coisas demais, meu amor, imagine agora, que você parou, literalmente, para pensar em alguma coisa. Não duvido que em uma semana tenhamos um projeto genial saindo dessa cabeça. — ela disse, esticando o corpo preguiçosamente na cama.

"Um projeto genial", isso definia bem Soraya Vieira. Talvez ela fosse o meu projeto mais genial. Será que era errado considerar um ser humano como um projeto? Quer dizer, eu só queria ajuda-la a ser o que ela queria ser.

— Talvez seja mesmo o meu projeto mais genial. — respondi simplesmente, deixando que as palavras saíssem da minha boca sem antes realmente pensar sobre elas, mais como uma ponderação para mim mesma do que como uma resposta para a garota.

— Está mesmo pensando em algum projeto? — ela se virou de lado na cama, ficando de frente para mim.

— Não exatamente. — disse, tirando os óculos do rosto.

— Odeio quando você fica monossilábica. — ela bufou e revirou os olhos.

Eu ri e me aproximei dela, deitando com a cabeça na curva de sua cintura.

— Você pergunta demais. — falei, segurando sua mão com carinho.

— E você responde de menos, Simone Nassar. — ela respondeu usando o mesmo tom que eu e colocou a mão em minha cabeça por onde foi, gradativamente, deslizando os dedos pelos meus cabelos.

— Respondo o necessário, Eduarda Nassar. — falei, mantendo o tom da conversa e ela riu.

Eu não costumava ser tão evasiva em assunto nenhum quando se tratava da minha irmã, mas a realidade era que naquele assunto específico eu não sabia nem por onde começar a falar, não sabia sequer o que falar.

— Tá, mas falando sério aqui, o que você tem? — perguntou, usando um tom mais sério. — Já fazem dias que você está assim...

— Assim como? — perguntei, curiosa para saber que tipo de impressão a minha bagunça interna causava ao mundo externo.

— Não sei... — ela disse pensativa e ajeitou seu corpo, deitando-se de peito para cima, de tal forma que minha cabeça foi parar em cima da barriga dela. — Está estranha, distante, com o pensamento longe. Quer dizer, não que você não esteja sempre com o pensamento longe, porque normalmente você parece estar com a mente em saturno, mas ultimamente a sua mente está em plutão.

infinity | simorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora