witouten

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N/A: dizem que quem é vivo sempre aparece... estavam com saudades?


Witouten (n.): a súbita sensação de perder o chão debaixo dos pés.

Soraya POV

"Talvez não tenha sido realmente o começo. Talvez tenha sido apenas o início da parte consciente da nossa história. Eu não sei como chegamos até aqui. Não sei como a razão me passou tão desapercebida todas as vezes em que estive com ela, todas as vezes que a olhei, todas as vezes que a toquei. Eu não sei como as coisas puderam ter uma vontade própria tão forte a ponto de pisar em todas as minhas certezas e me tornar tão...dela. Tudo o que eu sei é que, ainda que contra tudo o que eu sempre tive certeza, é ela."

Tamborilei a caneta de tinta preta sobre a folha do meu diário e encarei as palavras que acabara de escrever. O sorriso que me surgiu nos lábios foi tão involuntário quanto me apaixonar por Simone, e talvez um sorriso fosse a perfeita representação do me sentimento por ela. Pressionei levemente a caneta sobre o papel outra vez e voltei a escrever.

"Ela é o sorriso do meu íntimo. A boca alegre e sorridente da minha alma. Simone é o sorriso mais brilhante, morando dentro de mim.", concluí a frase e suspirei, deixando o diário cair sobre meu peito.

Fechei os olhos e permiti-me respirar fundo, absorvendo a sensação que escrever aquilo me causara. Escrever me ajudava a entender com mais clareza o que eu sentia e daquela vez não foi diferente. Os sentimentos pareciam renovados depois de escritos e minha reação não podia ser nada além de respirar fundo e tentar controlar o grito eufórico de alegria que surgiu em peito. Sorri para não gritar.

- Esse sorriso bobo é por causa do misterioso das flores? – a voz de minha mãe ecoou no quarto, assustando-me tanto que pulei na cama, passando de deitada à sentada em menos de um segundo. – Calma...

- Nossa, você me assustou, mãe. – falei, fechando o diário imediatamente. Minha mãe me encarou por alguns segundos e aquilo não me pareceu muito bom, então, tratei de preencher o vazio do silêncio. – Quer alguma coisa? – perguntei, ajeitando minha postura na cama.

A mulher mais velha caminhou para dentro do quarto e fechou a porta atrás de si lentamente.

- Eu estava pensando e eu acho que você está me enganando, Soraya. – minha mãe disse e tão instantaneamente quanto meu cérebro processou suas palavras, também foi instantânea a reação congelante que enviou para o meu corpo.

- Como assim, mãe? – perguntei, controlando a minha mente para não mergulhar em desespero e tentando disfarçar seja lá o que fosse que eu precisava esconder.

- Você disse que não sabia de quem era o bilhete, mas eu acho que você está me enganando. – ela disse sem meias palavras, olhando-me seriamente enquanto sentava-se à beira da cama.

Engoli o seco de minha boca e garganta lentamente, para disfarçar o desconforto que a afirmação me causara. Levantei a sobrancelha esquerda e a encarei como se não fizesse a menor ideia a respeito do que ela estava falando. Mas eu sabia. E ela sabia.

- Continuo sem entender. – falei, mantendo o tom sério.

- Você me disse que não sabia o destinatário das flores, mas aquele bilhete me pareceu muito pessoal, como se você e o rapaz tivessem algum tipo de relacionamento, como se tivessem intimidade e eu quero saber por qual razão você não quer me contar quem é. – ela falou, usando um tom ainda mais sério.

Os lábios retesados mostravam a insatisfação em seu rosto que, com toda certeza, era proveniente da ideia de que eu havia mentido para ela. Minha mãe não suportava que eu contasse mentiras. Eu não suportava contar mentiras. Entretanto, não era como se eu tivesse escolha naquela situação.

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⏰ Última atualização: Feb 25 ⏰

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