solasta

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Solasta (adj.): Luminoso. Brilhante.

As luzes de São Paulo eram sempre muito intensas durante a noite. Pontos amarelos brilhavam por todos os lados de uma perspectiva distante. Havia luz a todo o alcance dos olhos, como uma selva de vagalumes brilhando constantemente no meio da escuridão profunda da noite.

"Mesmo que me perguntassem, eu não afirmaria, eu fingiria. Eu negaria até à morte, eu negaria até o fim", a música soava baixinho vinda do som do carro que estava sintonizado em uma rádio local. ''Quando você chega perto, eu me desconcerto. Sem fazer esforço, tira minha roupa com os olhos. Me deixa tonta com seus olhos'' desviei o olhar das luzes que brilhavam do lado de fora da janela do carro para a luz que brilhava ao meu lado: Simone Nassar.

Seu cabelo estava levemente bagunçado, resultado ainda das minhas mãos desesperadas atacando-a uma hora antes. Ela segurava o volante com a mão esquerda e com a direita, segurava carinhosamente a minha mão, deslizando o polegar carinhosamente por meus dedos. Seus lábios estavam infinitamente mais vermelhos do que de costume e levemente inchados, em consequência dos beijos intensos que havíamos trocado.

"Por que não a deixou continuar, Soraya? Por que parou?", perguntei a mim mesma, observando-a dirigir.

Enchi os pulmões de ar e soltei lentamente, tentando buscar algum outro alívio para o meu coração recentemente desordenado. Meus olhos, meus inimigos por tantas vezes, fixaram-se nas linhas bem desenhadas da mandíbula da minha professora, que, do meu ponto de vista, pareciam ter uma iluminação própria, quase como de houvessem minúsculas luzes escondidas em seu rosto.

"Quero você do jeito que quiser. Mesmo em segredo eu sou sua mulher", a música continuava soando em um volume apenas o suficiente para que eu e Simone a escutássemos intimamente.

Não trocamos nenhuma palavra no caminho de volta ao meu apartamento. Não precisávamos de sílabas quando o silêncio nos falava com tanta clareza. Nossos corações conversavam em completo entendimento, usando apenas o que sentíamos.

Ela parou o carro exatamente no mesmo lugar onde o havia feito quando fora me buscar, algumas horas antes. Ela diminuiu o volume do som até o zero e virou-se para mim.

— Desculpe-me por lhe trazer tão tarde. — ela falou, com extrema educação e um leve pingo de doçura.

Franzi o cenho, sem entender exatamente porque ela estava dizendo aquilo, sem entender porque ela estava se justificando por algo que, definitivamente, não necessitava nem de desculpas, nem de justificativas.

— Eu pensei que a intenção fosse não me devolver... — falei quase baixo, mas conseguindo manter um tom de voz razoável.

Simone arregalou levemente os olhos e negou com a cabeça.

— A intenção estava longe disso. — ela disse, em um tom mais sério. — Eu jamais tive em mente qualquer planejamento para o que... aconteceu hoje... — completou, olhando fixamente, passando-me mais certeza do que era necessário.

Jamais havia passado por minha mente a ideia de que Simone tivesse me chamado para sair com ela, tendo em mente um encontro sexual. As coisas que aconteceram, aconteceram por si só e não foram, nem de longe, uma manifestação unilateral da parte dela. Eu havia caminhado até o carro dela por livre e espontânea vontade. Eu havia caminhado até o quarto dela, por livre e espontâneo desejo que me corroía. Eu a havia deixado tirar a minha roupa e morder meu corpo e me tocar intimamente porque eu quis. Porque eu a queria.

— E eu jamais achei que tivesse. — falei, tocando a sua mão que estava apoiada na própria perna, àquela altura. — Simone..

— Me desculpe, Soraya. - Ela falou, interrompendo-me. — Fui longe demais e não queria ter ultrapassado os seus limites.

infinity | simorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora