mamihlapinatapei

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Mamihlapinatapei (n.): o ato de olhar nos olhos do outro, na esperança de que o outro inicie o que ambos desejam.

Simone POV

Quente, doce, úmido, gostoso, invasor, delicioso..., minha mente se afogava em palavras que descreviam a sensação de ter os lábios de Soraya enrolados aos meus, tão profundamente que nossas bocas pareciam ser uma coisa só. Desfrutável, entorpecente, viciante, provocante.

Sua boca quente queimava a minha, mordendo-me quase que desesperadamente os lábios e sob minhas mãos, sua pele parecia desintegrar-se. Eu podia sentir os minúsculos pelos de seu rosto eriçados sob a pele sensível de minhas mãos. As sensações que eu percebia em Soraya deixavam-me em completo estado de êxtase, como se todo movimento ou reação da garota fossem capaz de me levar à loucura, ao completo delírio.

Como se ela fizesse minha alma gozar.

Meu coração, mero arquiteto de emoções alheias até aquele ponto, corria desenfreadamente por todo o meu corpo, fazendo cada milímetro da minha pele pulsar em um desejo ardente de me afogar nos lábios da garota que eu tinha sob meus toques; sendo, pela primeira vez, arquitetado pelo destino para um estado de profunda paixão.

Apertei-lhe a nuca, puxando-a mais para dentro de mim, como se o ato de aperta-la fosse fazê-la se fundir ao meu corpo. Suas unhas apertaram os meus braços com mais força que antes, fazendo meu corpo reagir à dor prazerosa com um arrepio, que resultou em minha boca sugando ferozmente seu lábio inferior.

Quando o ar nos faltou, juntas, em perfeita sincronia, inspiramos oxigênio, mas sem descolar nossas bocas. Soraya ainda apertava meus braços e eu não podia e nem queria tirar as mãos de seu rosto e nuca. Como se tivéssemos combinado, nossos peitos subiam e desciam em um perfeito compasso, acelerados, denunciando o desespero resultante de um beijo devastador.

Sentia-me invadida, como se ela tivesse rasgado minha mente, corpo e coração ao meio, fazendo de mim, seu objeto de manipulação livre.

Nos dois dias anteriores, eu havia decidido que a trataria como fazia com todos os outros alunos e nada além disso. A minha ideia de ajudá-la em seus desejos com relação à arquitetura havia tomado proporções maiores do que eu esperava para mim mesma.

Meus planos não passavam de ajudar uma aluna que, visivelmente, merecia atenção por ter os olhos tão sensíveis à profissão que escolhera, mas no final das contas, me encontrei com a mente absorvida, vinte e quatro horas por dia e todos os seus minutos, segundos e milésimos de segundo, por Soraya Vieira e seu beijo repentino e gostoso; por seu olhar possessivo sobre mim; por seu cheiro de cachoeira em um dia ensolarado; por sua pele levemente bronzeada e delicada.

De repente, pareceu-me ser o desejo mais consumidor, enlouquecedor e arrebatador que eu já tivera em toda a minha vida.

Todo o meu pensamento lógico e racional havia sido mandado para o espaço. Depois de cinco terças-feiras e dois dias, não havia lógica ou razão que não cedessem à doce irracionalidade que era Soraya, dentro de mim.

Todos os meus esforços em agir maduramente com a garota eram destruídos no exato momento em que eu punha meus olhos nela. Nela e em seus olhos que me prendiam em correntes, como se eu fosse dela. Seus olhos eram como marretadas estrondosas nas minhas estruturas.

E ali, estava eu, caída aos pés de Soraya, entregue aos seus lábios e emoções, entregue aos seus medos e confusões que tanto me intrigavam, que tanto me confundiam.

— Você... me beijou. — ela falou, com a voz saindo fraquinha.

Senti seus lábios movimentarem-se nos meus enquanto falava e a sensação de ter sua boca movendo-se suavemente pela minha, fez-me sorrir com os lábios colados nos dela e receber de volta um sorriso que, depois de tocar meus lábios, se espalhou por todo o meu rosto.

infinity | simorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora