Aeipathy (n.): uma duradoura e consumidora paixão.
Soraya POV
Eu sempre achei que a parte mais difícil da vida fosse crescer, ter responsabilidades adultas e priorizá-las. Entretanto, um mês na faculdade havia cravado na minha essência, uma placa de letras gigantes com a revelação de que a parte mais difícil da vida é aceitar a si mesmo.
As coisas sempre haviam sido muito fáceis, muito claras, para mim. Eu era Soraya Vieira, fruto da união de um empresário bem sucedido com uma filha de pastor. Eu ia à igreja todos os domingos, ia à uma boa escola, tinha paixonites pelo capitão do time de futebol, estudava e estava tudo muito confortável para mim. Eu não tinha consciência alguma dessa parte complicada da vida.
Era como se eu estivesse sendo jogada na minha própria cara, com força; como se houvesse um outro lado de mim despertando apenas naquele momento e estivesse gritando com a boca colada no meu ouvido: "é isso o que você é, está na hora de viver de verdade". Então era de se esperar que nesse ponto específico eu estivesse entrando em estado de pânico. Era de se esperar que, como todo mundo faz, eu tenha tentado fugir.
O dia estava nublado, o que, brilhantemente, combinava com a iluminação da biblioteca, criando uma sensação tão forte de aconchego que, ainda que estivesse frio, eu não sentia a mínima vontade de sair dali. Simone havia sido absolutamente brilhante na construção daquele edifício, até mesmo em detalhes como aquele, que usualmente passavam desapercebidos da atenção da maioria dos arquitetos.
"Mas para ela, nada passa desapercebido", pensei, dando um sorriso para as letras do livro aberto abaixo de mim.
— Helena... — falei em voz baixa, levantando o olhar do livro.
Naquela quinta feira, havíamos decidido ir para a biblioteca antes de irmos ao The Village, para adiantar alguns trabalhos, já que a professora Hadid havia acabado a aula quase duas horas antes do tempo correto, depois de receber uma ligação inesperada.
Helena usou o tempo para estudar. Eu usei o tempo para "tentar estu.pensar.em.simone".
Não era como se eu não me sentisse intimamente culpada por não estar dando atenção a um trabalho importante da faculdade, mas também não era como se minha mente estivesse permitindo que qualquer outro pensamento fosse tão agradável quanto ela.
"Como uma coisa pode ser tão incrivelmente boa e perturbadora ao mesmo tempo?", pensei, observando Helena largar a lapiseira em cima da mesa.
— Oi? — Helena perguntou, olhando-me através dos óculos modelo gatinho, relutando em tirar os olhos no livro, mas cedendo em seguida.
— Eu não consigo parar de pensar nela... — admiti, desviando o olhar para baixo e mordendo o interior da minha boca.
Admitir aquela verdade era como se eu estivesse libertando de uma jaula o monstro que tinha o poder de me engolir inteira. Ainda assim, eu não tinha mais forças para lidar com aquele assunto sozinha. Eu me sentia fraca. Meus sentimentos eram tão fortes que estavam consumindo as minhas forças físicas.
"É exaustivo ficar fugindo de mim mesma.", pensei, considerando que aquilo poderia confortar-me do incômodo de falar abertamente sobre o assunto.
— Olha para mim, Soraya. — Helena disse, tirando os óculos do rosto.
A olhei e ao mesmo tempo, ela empurrou para o lado o livro que eu tentava ler e segurou as minhas mãos, olhando-me fixamente.
— Repita o que disse. — Ela falou, passando os polegares pelos meus dedos, carinhosamente.
— Eu não consigo parar de pensar nela. — repeti, desviando mais uma vez o olhar para baixo.
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infinity | simoraya
Fanfiction"Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito." Os amores impossíveis são o caminho mais curto para alcançar o infinito e elas sabiam disso. Soraya queria alcançar o infinito. Simone queria ser...