Capítulo 02

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Já no arsenal eu estava evitando ao máximo a atenção de meu pai enquanto afiava minhas adagas e durante esse processo acabei me perdendo em pensamentos e lembranças, vinha algumas imagens em minha cabeça, mas elas eram breves e eu sabia muito que minha mãe aparecia nelas, tudo acabou quando abri um pouco meus olhos e havia alguém em minha frente tentando chamar minha atenção.

— Aila! Agora não é hora para sonhar! — Ouço alguém tentando me despertar de meus pensamentos.

Quando volto de minhas lembranças e visualizo o mundo atual em minha volta eu acabo levando um pequeno susto com sua presença em minha frente.

— Isabelle... Você me assustou. — Falo baixando a cabeça novamente.

— Isso que dá ficar sonhando por aí. — Ela responde em tom de provocação.

— Vai direto ao ponto. — Respondo.

— Não sei pra que tanta grosseria e também vive sonhando por aí, saiba que você dá muito medo quando começa a sonhar em pé. — Diz ela quase em um sussurro. — Nem as crianças querem chegar perto de você.

— Eu disse pra ir direto ao ponto. — Repito.

— Calma, eu só vim até aqui para te chamar pra caçar, acharam um se escondendo no vilarejo ao sul e meio que seu pai deu a ordem de você ir junto. — Ela solta de uma vez.

— Sinceramente eu penso que nunca vou ter um pouco de paz. — Bufo enquanto recolho minhas adagas. — Vamos logo.

Pego o restante das minhas coisas e saio andando em direção a saída e Isabelle tenta me acompanhar em passos curtos.

Já no lado de fora da taverna, avistei o grupo preparando os cavalos para a viagem até o outro vilarejo e ao lado havia um grupo de camponesas cercando um caçador.

— O que está havendo ali? — Pergunto para Isabelle enquanto paramos e observamos de longe.

— O de sempre, Luca sendo popular no vilarejo, fiquei sabendo que ele já chegou na idade para se casar e agora todas a mulheres da vila querem se casar com ele. — Ela explica.

— Que perda de tempo. — Solto.

— Por que você não tenta também? — Ela pergunta sem pensar duas vezes.

— O que? Eu? Tentar? Ora não me faça rir, se superou em. — Falo em tom de desaprovação.

— Você também já está na idade para casar-se e acredite se quiser, você tem alguns pretendentes, mas imagina o Luca, você e ele, ambos caçadores e experientes... — Ela dizia.

— Não quero imaginar pois seria extremamente nojento e eu quero dormir tranquila está noite sem pesadelos. — Falo a interrompendo.

— Você tem que pensar que não vai ficar assim pra sempre, alguma hora o homem certo vai te domar. — Ela dá alguns tapinhas em meu ombro.

— Nenhum homem irá me domar e agora penso que deve ficar quieta e não tocar mais nesse assunto. — Falo a encarando.

Ela levanta os braços em sinal de rendição e sai andando soltando algumas risadinhas, eu ignoro isso e vou em direção ao meu cavalo para arrumar as rédeas e a sela quando sou surpreendida por Luca.

— Oi Aila. — Ele chega do meu lado quase se escorando em meu cavalo.

— Fala logo o que você quer, eu tenho mais o que fazer. — Falo sem parar de arrumar minhas coisas.

— Gentil como sempre, bom eu só vim aqui para saber se...

— Eu não vou, estarei ocupada. — Falo o interrompendo.

— Mas eu nem terminei de falar. — Diz ele um pouco abismado.

— E nem precisa pra saber o que você quer. — Falo.

— Então o que eu quero? — Ele pergunta se fazendo de convencido.

— Você iria me chamar para sair outra vez! — Falo olhando para ele.

— Você havia aceitado da última vez. — Ele fala cruzando os braços.

— Na última vez eu não aceitei, eu fui obrigada pelo meu pai. — Falo.

— Ah, mas você se divertiu comigo, fala a verdade vai. — Ele debocha.

— A única parte que eu me diverti de verdade foi quando eu soquei sua cara naquele dia. — Falo um pouco satisfeita.

— E até hoje eu não sei o motivo pelo qual você fez aquilo. — Ele disfarça um pouco.

— Ainda não sabe? Por acaso o soco que eu te dei apagou sua memória? — Pergunto já com um pouco de raiva. — Você tentou me beijar a força.

— Eu achei que estava apreciando o momento. — Ele fala.

Apenas olho para ele com julgamento e bufo subindo no cavalo.

— Vai me deixar falando sozinho? — Ele pergunta.

Olho para ele uma última vez antes bater as rédeas para fazer o cavalo andar, alguns dos caçadores já estavam indo na frente e outros estavam logo atrás, mas não demorou muito para Luca e Isabelle me alcançarem, porém eu passei o caminho todo ignorando os dois e acabei dando minha atenção para a paisagem em volta. As arvores estavam belas com suas folhas laranjas que caiam no chão, aquilo já era anúncio de que o outono estava chegando ao seu fim e que o inverno estava chegando e não iria demorar muito, acabou que meu momento de relaxamento não durou por muito tempo quando percebi os outros indo cada vez mais rápido até que chegamos no outro vilarejo e rapidamente fomos cercados por alguns camponeses

— Se afastem todos! — Um dos caçadores ordena. — Queremos saber onde está a coisa.

Algumas pessoas trocam olhares e cochichos e outros apontaram a direção para seguirmos, andamos mais um pouco e chegamos em uma casa que estava lacrada por inteira, havia tábuas pregadas nas janelas e uma corrente que ia da maçaneta da porta e dava algumas voltas nas duas estacas de madeira que estavam nas laterais. Descemos dos cavalos e pegamos nossos equipamentos enquanto outro caçador foi conversar com dois camponeses para pegar todos os detalhes do que havia acontecido ali.

— Finalmente chegaram! — Exclamou um deles.

— Calma, estamos aqui para dar um fim nessa criatura, mas agora precisamos saber onde ela se escondeu. — Fala o caçador.

— Ela está dentro da casa, conseguimos trancá-la dentro da casa, porém por estar meio irritada fica tentando derrubar as paredes. — Explica o camponês.

— Que horas que aconteceu o ataque? — Ele pergunta.

— Aconteceu no meio da madrugada quando todos estavam dormindo. — Responde o camponês.

— Alguma vítima? — Ele pergunta novamente.

— Felizmente ninguém morreu, porém o pai que estava tentando defender sua esposa e filhos acabou tendo o braço dilacerado pela criatura. — Ele fala demonstrando um pouco de tristeza. 

Pacto de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora