Capítulo 03

345 67 7
                                    

Após muita conversa, todos decidiram afastar as pessoas dali e arrancar a corrente que segurava a porta.

— Aila e eu vamos entrar na frente! — O caçador anuncia.

— Por que eu? — Pergunto.

— Você é a pessoa que tem a melhor mira daqui você nunca errou um tiro. — Ele responde.

Pior que ele não estava mentindo, acabei ficando conhecida entre a nossa sociedade por nunca errar um tiro, sempre acertava meus alvos, isso pode até ser bom, mas acabou se tornando uma dor de cabeça para mim que era sempre obrigada a entrar primeiro nas caçadas.

— Tá legal. — Aceito pegando minha espingarda.

Os outros ficaram logo atrás enquanto um estava na nossa frente para abrir a porta, o caçador que havia me escolhido ficou em minha frente para ficar de escudo e eu logo atrás para dar o tiro certeiro, assim que porta foi aberta, eu e ele entramos vagarosamente para dentro onde o silêncio reinava, praticamente a única coisa que fazia barulho era o chão de madeira a cada passo dávamos. A sensação horrível de que algo nos rodeava era constante, era um enorme arrepio na espinha, até que o silêncio acabou se tornando algumas risadas forçadas e passos pesados a nossa volta, ela estava fazendo aquilo para nos confundir e sua festa durou pouco tempo até que ela surgisse do nosso lado para nos atacar, em um movimento rápido eu aponto a arma para ela e estava pronta para atirar se não fosse o outro caçador que havia entrado em minha frente.

— SAI DA FRENTE! — Grito para ele.

Meu grito de alerta acabou sendo completamente ignorado por ele e isso me fez hesitar o disparo, no mesmo instante ele saca seu revólver e a começa a disparar sem parar contra ela que desviava sem dificuldade e graças a isso ela acabou fugindo pela nossa porta de entrada e eu apenas o encarei com raiva.

— Que foi? — Ele pergunta.

— SE NÃO ESTIVESSE TENTANDO BANCAR O HERÓI EU TERIA ACERTADO, AGORA VAMOS CONSERTAR A BAGUNÇA QUE VOCÊ FEZ! — Grito com ele.

Nossa atenção acabou indo para fora de onde vinham muitos gritos e disparos, nós corremos para fora e vimos a criatura tentando pegar outros caçadores, mas era impedida por alguns tiros, antes que ela pudesse fazer alguma atrocidade eu me preparo e firmo meus pés ao chão e aponto novamente a arma para ela, quando me dei conta ela estava correndo em direção a uma criança... Aquilo me deu uma certa aflição, mas os caçadores conseguiram impedir usando ganchos que dispararam em suas costas, ela estava completamente presa, todos fizeram um círculo em volta dela e então ela não tinha mais para onde ir, quanto mais ela tentava lutar, mais ganchos eles disparavam. Ao ver aquela cena eu desisto completamente do disparo e guardo minha espingarda em minhas costas.

— Espera aí, você não vai atirar? — O caçador vem até mim me questionando.

— Se você reparar bem, a situação já está tudo sob controle, agora sim você pode ir lá e matar e ter seu momento de glória! — Falo para ele.

Ele para por uns instantes olhando para mim e depois para a criatura, logo sai em passos cautelosos, ele aproveita que ela está completamente imobilizada e então ele tira de seu casaco uma linha de aço extremamente afiada que havia dois apoios de madeira em suas pontas para não machucar a pessoa que a estava utilizando no momento, ele vai até ela e passa a linha em volta de seu pescoço e em um só movimento ele puxa a linha com todas as suas forçar que acaba arrancando a cabeça dela sem dificuldade alguma.

Olhando aquela cena toda me deu vontade de vomitar, eu sempre me recusava a participar da caçada quando era na hora do abate, eu odiava ver cabeças rolando, corpos queimados, corpos estourados a tiros e muitas outras coisas, então me afastava ao máximo nessas horas. Enquanto todos comemoravam e um dos caçadores levantava a cabeça decepada e exibia como um troféu eu fui diretamente para o meu cavalo já arrumando tudo para ir embora.

— Seu pai vai ficar bem bravo por você não ter participado do abate. — Diz Isabelle aparecendo do meu lado.

Eu apenas me virei para ela e a encarei com uma certa desaprovação.

— Ou então eu posso dizer a ele que você participou de tudo! — Ela tenta consertar o que havia dito antes.

Ela parecia ter engolido um seco em medo quando apenas a olhei, volto minha atenção para minhas coisas e quando termino eu subo no cavalo, deixo todos para trás e sigo meu caminho de volta para a minha vila.

Já sozinha, eu pude aproveitar todo o caminho de volta em uma paz, puder aproveitar mais tempo o vento batendo em meu rosto, poder ouvir tranquilamente os pássaros cantando, assistir as folhas caindo no chão e poder ver alguns animais correndo livremente pela floresta. Esse era o tipo de paz que eu tanto sonhava em ter e não ficar ouvindo gritos de um velho me obrigando a ser o que não sou. Após bastante tempo apreciando a paisagem acabei percebendo que havia chegado em meu vilarejo e para a minha surpresa, meu pai já estava me esperando no portão, eu apenas respirei fundo e continuei meu caminho até ele e logo parei o cavalo ao seu lado.

— Onde estão os outros? — Ele pergunta.

— Eu estou bem, fico feliz de ter perguntado. — Respondo em sarcasmo.

— Eu desisti de pergunta do seu bem-estar a muito tempo. — Ele fala. — Mas por que chegou primeiro?

— Os outros ficaram para limpar a bagunça que fiz, estavam recolhendo a cabeça decepada e rapidinho estão aí. — Explico séria.

— Você mesma matou? — Ele pergunta sem acreditar.

— Sim. — Minto.

— Eu irei tirar minhas próprias conclusões quando eles chegarem. — Ele diz.

— Pode ficar à vontade, aliás eu não estou nem um pouco me importando pro que irão dizer sobre mim. — Respondo. — Agora me dê licença que eu tenho mais o que fazer por exemplo, nada!

— Se eles me contarem ao contrário você vai se arrepender. — Ele ameaça levantando a voz para que eu escutasse.

— Estou contando com isso. — Respondo zombando no mesmo tom. 

Pacto de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora