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RAFAELA

É assim que é o céu? Achei que fosse mais bonito... Poxa! Passei a vida inteira achando que teria um castelo feito de nuvens e unicórnios passeando pelo jardim quando morresse. Parece que as coisas vivem dançando por aqui, não é mesmo? Tantos pontinhos... O que é aquilo?

-Rafa...

A silhueta do que parece ser uma mulher senta ao meu lado. Sua mão quente percorre meu braço fazendo cócegas e para do pulso. Algo acaricia meu rosto delicadamente como uma pena. Eu não reclamaria se tivesse que ficar no céu sendo acariciada dessa maneira, ainda mais se for por mulheres. Quem será esse anjo?

Nada que um esfregão nos olhos não ajude a me fazer enxergar melhor. Um quarto iluminado por uma luz branca toma forma. Isso claramente não é o céu. E essa dor de cabeça? Não deve ser coisa de Deus.

A mão da mulher ainda acaricia meu rosto e cabelo. Faz-me lembrar de quando eu era pequena e minha mãe contava histórias enquanto fazia cafuné até eu dormir. Ergo o olhar e encontro uma bela mulher me observando com um sorriso no rosto e o olhar cheio de ternura.

-Duh.

-Que bom que você acordou- Ela diz parando com o carinho- Eu estava preocupada.

-Por que estou aqui? Não me lembro de nada- Uma latejada de dor na lateral do corpo faz as tudo voltar na minha mente claramente. O tiroteio... Aquele homem de cabelos pretos atirou em mim. Filho da puta- Na verdade, acho que acabei de me lembrar.

A expressão doce de Duh começa a mudar. Agora está carregada de dor e culpa, parece que esta prestes a chorar.

-Eu queria pedir desculpas por tudo que te disse. Disse aquilo na hora da raiva e agora me arrependo com todas as forças.

As memorias começam a ficar cada vez mais profundas. É verdade. Tínhamos marcado de nos encontrar em um restaurante. Naquela noite eu daria um anel de prata a ela e a pediria em namoro. Mas uma ligação interrompeu tudo. Ainda me lembro da voz desesperada de Steve e de Duh gritando comigo ao meu lado.

"Talvez sua mãe tenha um pouco de razão, é errado você amar uma garota. Principalmente se ela for eu".

-A minha mãe nunca esteve certa, Duh. Não é errado amar uma garota e principalmente se for você. Na verdade, acho que você é perfeita demais para mim.

-Não, claro que não- Duh se inclina em minha direção e segura minha mão- Você que é perfeita demais Rafa. Você salva vidas todos os dias com sua coragem. É a heroína de muita gente por ai. Você salvou minha vida ao entrar nela. É a minha heroína.

Sua voz começa a falhar com a chegada das lágrimas. Ela respira fundo e as limpa, colocando o óculos novamente no rosto.

-Por favor, me perdoa Rafa. Eu nem sei o que fazer para te recompensar. Voltaria no tempo se fosse possível e consertaria tudo, cada ferida e retiraria minhas palavras.

-Eu já sei o que você pode fazer. Seja minha mulher. Eu tinha uma caixinha de anéis em algum lugar, mas acho que as perdi.

-Eu sou sua desde que segurou minha mão pela primeira vez. E quero continuar sendo pelo resto da vida.

-Acho que nunca parei para dizer isso, mas... Eu te amo muito, sabia?

-Eu também- Duh estava quase se derretendo de tanto chorar, seu rosto estava vermelho e as lágrimas estavam por todos os lados- Eu também.

Busco por sua mão e a aperto com o pouco de forças que tenho. Acho que Duh não percebe o quão importante ela é para mim. Foi a única que conseguiu me salvar quando ninguém mais tinha fé em mim. Aquela mulher é realmente um anjo. Não ficaria surpresa se ela revelasse asas brancas e uma auréola brilhante.

-Fica bem logo, tá?- Ela pede baixinho- Descanse.

-Eu já estou bem sua boba.

Duh aproxima e deposita um beijo em minha testa. Depois volta a se sentar e a acariciar meus cabelos até que eu caia em um sono embalado pelo seu amor.


Atraídas pelo mesmo ritmoOnde histórias criam vida. Descubra agora