Os raios e clarões iluminavam o escuro quarto de Tyler através das persianas claras. O ambiente era gelado, solitário, mas ao mesmo tempo o oxigênio parecia impregnar em sua pele conforme os minutos se passavam.
Estava sozinho, como sempre costumava estar. Seu corpo se enrolava em uma colcha felpuda, que carregava uma etiqueta indicando quantos milhares de dólares desnecessários foram gastos em uma simples peça de cama.
Tyler não costumava sentir medo de chuva, porém, havia algo angustiante na tempestade que caia do lado de fora da mansão. O céu estava mais escuro que o normal, e a cama nunca esteve tão espaçosa quanto naquele início de madrugada. Seus brinquedos descansavam solitariamente no canto do quarto, sendo iluminados pelos rápidos clarões.
O relógio na sua mesinha de cabeceira marcava meia noite quando a sombra apareceu na cadeira da sua escrivaninha, a poucos metros do garoto.
Uma sombra sem forma definida a princípio, mais negra que a própria escuridão. Não transmitia medo para a criança deitada, pelo contrário; Tyler não sentiu sentimento algum observando a massa escura se transformar em um pequeno corpo humanoide, praticamente do seu tamanho.
— Onde está a babá? — A sombra questionou com a voz infantil e estranhamente vazia. Nem aguda nem grave.
O pequeno Joseph pensou por alguns segundos. As gotas de chuva batendo contra a porta de vidro da varanda pareceram cessar enquanto sua mente um pouco sonolenta tentava identificar quem - ou o quê - estava no quarto.
— No quarto dela. — Ele respondeu confiante. — Ela nunca fica comigo na chuva. Nem a mamãe.
— Sinto muito. — A sombra comentou, forçando um tom de lamentação que a indiferença em sua voz não a permitia ter. — Deve ser solitário.
— Não é muito. — Um trovão ecoou no céu. Tyler começou a brincar com os dedos dos pés por baixo da coberta. — Qual é o seu nome?
— Blurryface. — A sombra respondeu. — Mas pode me chamar de Blurry.
Tyler assimilou em silêncio, testando baixinho como as palavras se encaixavam na sua boca. Parecia reconfortante, familiar. Tinha gosto de nostalgia.
— Quantos anos você tem, Blurry?
— A mesma idade que você. — Blurry respondeu, deixando o garoto com a impressão de que ele estava sorrindo em meio às sombras. — Quer brincar comigo?
Um clarão iluminou o céu, trazendo consigo uma pancada forte de água na janela em frente a escrivaninha. Dentro do quarto, Tyler conseguiu ver Blurryface de pé, sem saber muito bem em que momento ele se levantou.
— Na verdade, já tá muito tarde. — Joseph respondeu. — Tenho aula em um colégio novo amanhã. Preciso dormir cedo.
Blurryface se sentou na ponta da cama, parecendo muito mais leve do que uma criança de dez anos deveria ser.
— Pra qual escola você vai?
— É um internato de garotos. — Tyler disse encarando o teto. — Meus pais querem que eu seja um homem.
— Você vai ser, TyJo.
— Eu sei, mas eu fiz algo ruim. — Um resmungo infantil escapou do garoto. — Não quero ir sozinho.
Blurryface se aproximou devagar, tocando o braço de Tyler com um dedo áspero e muito gelado. O toque causou arrepios para o corpo quase completamente coberto pela colcha felpuda.
— Você não vai sozinho. — Blurryface o tranquilizou. — Eu vou estar lá, com você.
Um último relâmpago atravessou o quarto, deixando Tyler enxergar um tipo de sorriso por baixo do moletom escuro do seu novo amigo.
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mine.
Fanfiction" [...] E é só então, no auge da minha introspecção doentia, que eu percebo que sou capaz de qualquer coisa para ver Joshua Dun feliz. Mesmo que isso signifique ferir alguém - ou a mim mesmo." [dark romance]