keep your bliss

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AS MÃOS MACIAS agarraram meus ombros por cima do terno, com delicadeza e firmeza. Levei o copo de whisky aos lábios mais uma vez, apreciando a bebida em minha língua.

— Senhor Joseph. — A voz doce praticamente ronronou em meu ouvido. — Senti sua falta.

Ergui as sobrancelhas, encarando um ponto aleatório da pista de dança abaixo de mim. A música alta e os gritos não conseguiam me incomodar do camarote, mas ainda eram perceptíveis. Acabei desviando o olhar quando as unhas afiadas arranharam meu pescoço, fazendo Angel dar a volta no sofá de couro e parar na minha frente.

Deslumbrante, como sempre. Contra as luzes no andar debaixo, um pouco apagadas pelo vidro fumê, conseguia enxergar sua silhueta com perfeição. Os quadris largos, as coxas grossas e o cabelo cacheado escorrendo por seus seios como uma cachoeira dourada. Um verdadeiro anjo.

— Mark te mandou? — Questionei, finalmente subindo os olhos até suas íris azuis levemente iluminadas pela luz quase mínima do camarote.

Angel sorriu apoiando os dois antebraços em meus ombros, de modo que ficasse presa entre minhas pernas. Me limitei a tomar mais um gole da bebida em minhas mãos.

— Ele só disse que o senhor está muito, muito tenso. — Angel falou com aquele charme quase fatal. — Pensei em vir aqui te ajudar a relaxar.

Abri um sorriso ladino, devorando as íris azuis da garota colada em meu corpo. Conseguia sentir um pouco de insegurança em suas palavras, apesar do tom exageradamente erótico e quase hipnotizante. Levando em consideração as outras vezes que nos encontramos, Angel realmente havia conseguido uma autoconfiança invejável, mas ainda não era perfeita. Nenhuma delas é. 

Senti os dedos macios escorrendo da minha nuca até meu topete castanho com uma lentidão quase torturante. Os lábios rosados entreabertos pareciam atraentes demais, e de repente senti a necessidade de vê-la sem aquele vestido branco extremamente justo e colado.

— Tudo bem. — Sorri por fim, deixando a bebida no chão ao lado do sofá. — Me faça relaxar, anjo.

A loira sorriu, me puxando em direção ao corredor fora da sala. Sua mão com cheiro de jasmim segurava a minha com uma força moderada - um tipo de tensão, mais especificamente. Me deixei guiar em direção ao ar carregado da boate, sentindo os olhos de uma sombra em específico me observando no canto do ambiente até a porta se fechar atrás de mim.

· · ·

— Você deveria mudar as cortinas para uma cor mais escura. — Blurryface observa se esparramando no sofá no canto da sala.

— Você acha?

— Tenho certeza. — Ele diz com convicção. — Essa claridade toda não combina com o ambiente de trabalho.

Levanto os olhos do documento em minhas mãos, olhando de relance para a enorme sala. No último andar, o sol realmente parece muito mais forte e brilhante no local.

— Tem razão. — Dou de ombros, voltando para o que estava fazendo. — Não me deixe esquecer de resolver isso.

Blurryface concorda em silêncio, parecendo mais distante que o normal.

Minha cabeça ainda está zonza pela noite anterior, me fazendo ter dificuldade em focar nas letras minúsculas de um dos inúmeros relatórios de reuniões que eu deveria ter revisado pela manhã.

Meu almoço descansa em cima da mesa de mármore preto ao lado de uma pilha de papéis. Blurryface realmente tinha razão; a claridade em minha sala faz meus olhos pesarem ainda mais pela noite de sono perdida.

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