blind belief

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EXISTE UMA COISA que me incomoda nas igrejas católicas.

Alguma coisa invisível, como o cheiro do incenso e o silêncio ensurdecedor entre o vitrais e os bancos de madeira perfeitamente organizados. Não são os santos, tampouco todos os rituais da Igreja Católica Apostólica Romana. Não existe uma explicação, apenas o incômodo insistente desde a minha infância.

Talvez se deva ao fato de que grande parte da minha vida acadêmica tenha sido em um internato católico para crianças ricas e solitárias. Família tradicional cristã e todas as orações da manhã. Aquilo realmente era maçante.

Mas agora, parado no canto de uma igreja recém inaugurada pela empresa da minha própria família tradicional cristã, o incômodo é algo mais abstrato do que palpável. No segundo andar acima de mim, inúmeras crianças vestidas como anjos dão risadinhas e cochichos nervosos.

— Joseph! — Uma voz familiar de algum funcionário que não me dei ao trabalho de memorizar o nome me chama, afastando os pensamentos e lembranças da minha mente. — Venha tirar fotos!

Forço um sorriso simpático, indo em direção ao grupo de engravatados rodeando um jovem padre de cabelos cacheados e roupa social, sendo destacada pela clérgima presa no último botão de sua camisa preta.

Me junto aos homens, mantendo minhas mãos guardadas em minha calça. Não reconheço os rostos ali, me culpando silenciosamente por ser um péssimo empresário quando se trata de conviver na alta sociedade.

— Segure a placa, Joseph. — Um cara loiro com o nariz empinado e sorriso amarelo fala, me entregado uma placa dourada com algumas frases escritas. — Faça as honras!

Mais um sorriso forçado. Por milésimos de segundos consigo ler vagamente o que está escrito. Construída por Joseph's Company. Patrocinada por Joseph's Company. Um presente de Joseph's Company. Na Europa, do outro lado do oceano, meus pais devem estar adorando tudo isso.

Um, dois, três flashes. Mantenho o sorriso amigável em todos, imitando os outros homens que nunca vi na vida. Pelo canto do olho, consigo ver um rosto familiar passando ao nosso lado. Mais um flash, e a câmera é desligada. As crianças descem pela extensa escadaria ao lado da porta principal.

— Que Deus te abençoe, Joseph. — O padre diz segurando minhas mãos com a educação e delicadeza que só alguém do clero seria capaz de ter.

— Não me agradeça, padre. — Sorrio novamente. Isso é cansativo.

— Nossa comunidade ficará muito grata com seu presente, e Deus lhe dará em dobro.

Concordo com um aceno. Alguém o puxa para longe, e eu finalmente consigo apagar meu sorriso forçado, ajeitando tediosamente a gravata em meu pescoço. Não conheço o padre, e o presente partiu de algum lugar do departamento de marketing para manter a imagem puritana da minha família. Construa igrejas, vá em algumas missas durante o mês e garanta seu apoio total entre os velhos ricos de Colombus - e, claro, não se esqueça de sorrir.

Sinto vontade de pegar meu carro e ir embora, mas, ao contrário disso, apenas me sento em uma das primeiras fileiras de bancos.

Observo em silêncio o grupo de anjinhos serem guiados até a frente do altar por um certo rapaz de cabelo cacheado com um rosto muito familiar. Joshua Dun, nessa igreja. Horas antes da inauguração oficial para os fieis.

Jishwa. — Uma menina pequena chama, retirando uma mecha de seu black power da frente de seus olhos para conseguir o olhar. — Estou cansada de ensaiar.

Joshua se abaixa para ficar na mesma altura que ela.

— Já estamos acabando, Ruby. — Ele diz com ternura. — Debby não vai demorar com vocês.

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