MEUS PAIS deveriam ter se divorciado no primeiro ano de casamento. É isso o que eu penso todas as vezes que os vejo juntos.
São incompatíveis, insustentáveis. O retrato deprimente e mais fiel da sociedade americana tradicional; família, pátria e Deus acima de tudo, o dinheiro acima de todos. Meu pai perceberia isso se não estivesse dando em cima de cada secretária do escritório, e minha mãe se separaria se não estivesse gastando milhões em jóias e roupas de grife a cada mês.
Mas, apesar das personalidades opostas e da convivência infernal, eles são almas gêmeas de algum modo. Na adolescência, eu pensava que eram ótimos parceiros de negócios. O braço direito um do outro, um verdadeiro casal empreendedor. Hoje em dia, vendo ambos na minha frente no casamento do meu irmão, percebo que se completam porque realçam o que tem de pior no outro.
Meu pai é frio e ausente, movido por dinheiro, poder e reconhecimento. Minha mãe é uma megera narcisista e egoísta, interessada somente nos próprios objetivos.
Se Blurryface estivesse aqui, diria que temos algo em comum. E talvez seja por isso que ela me odeia desde o meu nascimento.
Minha mãe é como um camaleão, um parasita responsável por se encaixar em todos os ambientes sociais possíveis. Um rostinho bonito de uma típica mãe estadunidense dedicada aos filhos, aos negócios e principalmente ao marido.
Se ela é um camaleão, eu sou um metamorfo. E executei meu papel com perfeição durante toda a cerimônia do maldito casamento.
- Ei, bonitão. - Uma voz familiar me chama acompanhada de um cutucão no meu ombro. - Finalmente te achei sozinho. Por que não está na festa?
Josh está na minha frente usando um terno preto simples com um sorriso brilhante. Parece mil vezes mais bonito no ambiente fracamente iluminado por lâmpadas amareladas que decoram o caminho da noiva até o altar.
Meus olhos ainda ardem pela quantidade de flashes durante a cerimônia que durou poucos minutos, para minha sorte. Minhas bochechas doem pelo sorriso forçado que mantenho desde que subi ao altar, e só pude descansar agora, depois que todos saíram.
- Resolvi me sentar pra admirar o trabalho excelente do decorador. - Digo me espreguiçando na cadeira. - Achei que não tinha vindo, não te vi na troca de votos.
- Não te encontrei e assisti de longe. - Josh dá uma piscadela sutil para mim, me fazendo sorrir. - E então, onde é sua mesa?
Encaro meus pais a poucos metros de mim com certa cautela, me sentindo um criminoso por levar Josh até um ambiente desses. Sem pensar muito, me levanto pedindo silenciosamente para o cacheado me seguir para dentro do salão principal da minha casa desejando que nenhum fotógrafo nos veja.
São muitos convidados, tantos ao ponto de eu me preocupar se conseguiriam dar recepção para todos. Por sorte, Zack tem certa experiência em eventos grandes e caros.
Os perfumes importados invadem minhas narinas enquanto ando entre as mesas, ignorando todos os olhares direcionados ao meu companheiro. Os vestidos e ternos caros deixam o ambiente quase chique, se não fosse pela futilidade de todos presentes.
Sinto a mão de Josh segurar a barra do meu terno conforme atravessamos o salão. Um frio estranho percorre meu corpo com a ideia de alguém reparar em seu pequeno gesto, mas não o afasto. Rezo silenciosamente para que nada de ruim aconteça a nós esta noite.
Em poucos passos, vejo Jenna usando seu vestido preto de dama de honra; a pequena flor branca em seu coque loiro combinando com a rosa colocada no bolso do meu terno.
Ela conversa com Mark, o dono da boate e antigo melhor amigo de colegial de todo nosso círculo de convivência. Uma moça morena com um corpo escultural o acompanha sorridente bebericando uma taça de champanhe, e eu tenho a leve impressão de que a conhecia antes de vê-la no altar junto ao meu amigo.
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mine.
Fanfiction" [...] E é só então, no auge da minha introspecção doentia, que eu percebo que sou capaz de qualquer coisa para ver Joshua Dun feliz. Mesmo que isso signifique ferir alguém - ou a mim mesmo." [dark romance]