self-sabotage

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A SALA DE REUNIÕES estava relativamente cheia naquela tarde.

Na extensa mesa à minha frente, os homens engravatados permaneciam em um silêncio ensurdecedor ouvindo a apresentação de Jonny Smith, o novato na área de contabilidade.

Por baixo da mesa, meus pés batiam contra o chão de forma incessante enquanto dados e mais dados eram mostrados em slides através de gráficos e números. Já passava das cinco da tarde, e eu só queria sair daquele escritório o mais rápido possível.

— Sendo assim, poderemos obter um melhor resultado até o final do ano se mantermos o ritmo de investimentos. — Como se estivesse lendo meus pensamentos, Jonny conclui com um sorriso tenso. — Obrigado por terem comparecido.

A sala é preenchida por aplausos e burburinhos, fazendo toda a atmosfera monótona de segundos atrás desaparecer abruptamente. Essa é minha deixa para fugir, penso comigo mesmo já me levantando e indo em direção ao novato.

— Muito bem, Smith. — Parabenizo tocando o ombro do rapaz loiro que praticamente tremia de nervosismo. — Ótima apresentação. Parabéns.

— Obrigado, senhor Joseph. — Smith responde engolindo seco. — Devo mandar o relatório para o senhor?

— Mande para minha secretária, por favor. — Falo rapidamente abrindo a porta de vidro para me livrar dele e de qualquer um que tentasse puxar assunto. — Parabéns!

Não ouço sua resposta quando saio do ambiente. Um cheiro forte de desinfetante e produtos de limpeza invade minhas narinas, e então me dou conta que me afundei no trabalho durante horas e horas novamente, até o fim do expediente. Dou de ombros, seguindo para o elevador no fim do saguão.

— Tyler, graças a Deus! — A voz inconfundível de Amy se faz presente no corredor juntamente com o barulho de seus saltos contra a cerâmica. — Seu irmão está te procurando.

Acabo suspirando pesadamente enquanto as portas do elevador se abrem com uma lentidão torturante, escondendo as mãos nos bolsos de minha calça social ao adentrar o cubículo acompanhado da secretária.

— O que ele quer? — Minha voz soa bem mais baixa e cansada do que minutos atrás.

— Ele não disse, só pediu para ligar para ele com urgência. — Amy explica ajeitando alguns papéis que segurava em mãos. — Quer que eu mande algum recado?

Encosto a cabeça no espelho do elevador com certo peso, a exaustão pesando em meus ombros repentinamente. Aperto o botão do saguão principal no térreo ignorando o olhar de preocupação da secretária. 

— Não precisa, eu vou falar com ele. — Respondo encarando o teto. — Obrigada, Amy.

— Não há de quê, Tyler. — Ela diz sorridente, ponderando sobre alguma coisa. Coça a garganta antes de apagar seu sorriso. — Você está bem?

Me mantenho inexpressivo, ainda observando a lâmpada do teto. Respiro fundo, e expiro fortemente. Sei que há olheiras em meus olhos e cansaço em minha aparência, mas permaneço em silêncio até chegarmos ao saguão, saindo do elevador com pressa.

— Obrigada por sua preocupação, Amy. — Falo com ternura, sendo acompanhado pela morena para fora do elevador. — Devo chegar depois do almoço amanhã. Remarque os compromissos para a parte da tarde, se possível.

— Certo, senhor. — Ela concorda de forma robótica, certamente fazendo anotações mentais sobre minha alteração na agenda. - Mais alguma coisa?

Observo a quietude de fim de expediente no vasto ambiente meticulosamente decorado com mármore branco e algumas plantas muito, muito verdes. Não há cadeiras ou sofás, preservando a ideia principal da minha empresa: agilidade e capricho na execução de projetos. 

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