UMA SOMBRA NEGRA me persegue desde a minha infância.
Me acompanha como meu reflexo, como uma bagagem indesejada e impossível de ser despachada. Ela me segue, me atormenta, sem nenhuma motivação ou objetivo. Sem sadismo ou paixão, apenas está aqui, no fundo da minha mente, como uma parte retorcida de mim mesmo.
Não entendo o porquê, o que fiz para merecer um hospedeiro permanente. Não entendo o motivo de não me deixar dormir, me fazendo escutar os ventos uivantes da escuridão contra meus ouvidos madrugada após madrugada, em um tipo de loop torturante e impiedoso.
Ela não é visível, mas está aqui. Está em todos os lugares, em todos meus relacionamentos, em todas minhas ações e palavras. Inexplicável e fria.
Ela está aqui, e temo que nunca irá embora.
- E então, Tyler. - Dr. Nills chama, me distraindo desses pensamentos que insistem em divagar entre um segundo e outro. - O que está causando sua insônia?
Encaro o teto incerto, imerso na sombra negra que sussurra em meu ouvido dia após dia murmúrios e lamúrias incompreensíveis. Uma aranha anda de um lado para o outro perto de uma das inúmeras estantes de livro, me fazendo perceber que sou isso. Uma aranha, burra e triste, presa na minha própria teia.
- Trabalho. - Minha voz escapa por minhas cordas vocais. Distante, falsa e irreconhecível. - É o trabalho.
- Certo. - O psicólogo fecha seu caderno de anotações com um suspiro no mínimo decepcionado. - Seja sincero.
Ele quer uma resposta, quer uma solução. Não aguenta mais me ver aqui, mês após mês, cada dia pior. Ele quer uma resposta específica e verdadeira. Quer a verdade. Como vou lhe dar isso se nem mesmo eu sei o que há de errado comigo?
- Eu estou dizendo a verdade, Nills. - Digo firme. - O trabalho é minha maior preocupação, você sabe.
Há diplomas de doutorados, mestrados, certificados em associações nacionais e internacionais de saúde e psicologia espalhados por toda sua sala. Anos e anos de experiência para achar o caso de um milionário solitário que simplesmente não consegue dormir, e ninguém consegue saber a causa.
Em seu lugar, eu também estaria decepcionado e questionando minha própria habilidade de profissão.
Por baixo de seus olhos verdes, vejo sua mente brilhante trabalhando em inúmeras possibilidades, foleando inúmeros estudos sobre a insônia e as causas que podem a agravar além da minha óbvia depressão.
- Então vamos voltar para sua infância. - Ele conclui abrindo novamente seu caderno. - O senhor disse que começou pouco antes da adolescência, certo?
Senhor. Por que todos me chamam assim?
- Não quero falar sobre isso.
- Quer falar sobre o que, então?
Sobre o ruído da sombra martelando meus pensamentos. Sobre minha incapacidade de comunicação. Sobre o sonho frustrado e inalcançável de expor meus poemas para que todos possam me ver além do nome sujo da minha família, e além do meu próprio nome.
Quero contar sobre minha vontade de não existir, de ser incapaz de sentir qualquer emoção e me acostumar com o nada angustiante que ocupa meu peito desde que me entendo por gente. Eu não sinto nada. Sou oco de vontades, oco de emoções boas e raciocínios lógicos.
Me sinto uma besta incompreendida prestes a explodir como o próprio Big Bang e recriar o mundo a minha imagem e semelhança. Quero destruir tudo e recriar um vazio que chegue aos pés do que eu sinto.
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mine.
Fanfiction" [...] E é só então, no auge da minha introspecção doentia, que eu percebo que sou capaz de qualquer coisa para ver Joshua Dun feliz. Mesmo que isso signifique ferir alguém - ou a mim mesmo." [dark romance]